Agora ficou fácil adivinhar qual o assunto não-esportivo que deve dominar as conversas nas rodinhas de Fórmula 1. A FIA divulgou nesta semana a intenção de criar um teto máximo para o gasto anual das equipes, para conter os valores cada vez mais astronômicos que estão sendo despendidos. Fora deste valor (que, especula-se, poderia ser de 150 milhões de dólares) estariam os salários de pilotos e chefes-de-equipe, além dos gastos com motores e com promoção e marketing. Os detalhes relativos a isto ainda devem ser discutidos até o meio do ano, mas pelo que eu pude apurar, a idéia veio justamente das equipes. Mosley, inicialmente, pleiteava uma limitação no uso dos túneis de vento. Mas os representantes das equipes rapidamente o demoveram da idéia, sugerindo este controle de custos. O dirigente ficou empolgadíssimo.
Mas a medida é realmente necessária? A história recente indica que não. A Renault conseguiu um bicampeonato mundial de Pilotos e de Construtores tendo apenas o quinto maior orçamento do grid. Do outro lado, a Toyota vêm gastando somas vultuosas para a obtenção de resultados apenas médios (para não dizer medíocres). O lado bom da história é que um dos erros de Mosley seria solucionado com a imposição de um limite de gastos. Por exemplo, o congelamento no desenvolvimento dos motores serviu apenas para redirecionar os gastos das equipes para a área da aerodinâmica, e não para contê-los. Assim, a solução sugerida parece realmente ter algum sentido.
E funcionaria? Incrivelmente, sim, e por uma questão jurídica. Ao final de cada ano, as equipes apresentariam um relatório oficial de gastos. Se for constatado que eles estão incorretos e que o gasto foi maior, o máximo que a FIA poderia fazer é aplicar sanções esportivas. Mas as equipes ficariam em maus lençóis com o Ministério da Fazenda de seus países (por sonegação fiscal) e pagariam muito caro por isso, literalmente. Correndo o risco até de ver seus principais nomes atrás das grades. Um risco que, dificilmente, algum deles esteja disposto a tomar.
No fundo, esta idéia de um “teto de orçamento” tem como único objetivo passar para o mundo a imagem de uma Fórmula 1 austera, uma categoria que quer dar seu espetáculo sem esbanjar fortunas num momento delicado da economia mundial. Em suma, uma bobagem, porque se quisessem continuar esbanjando, ninguém tem nada a ver com isso. Mas que pode funcionar, pode. O que não é pouca coisa, afinal, quase todas idéias esdrúxulas criadas recentemente pelos dirigentes não funcionaram como eles queriam.
6 comentários:
Acho esta idéia até interessante, mas um teto tão baixo comparável a de equipes como Super Agury e Force Índia não seria interessante. O melhor seria algo em torno de 400 a 500 milhões de euros o que seria melhor para o desenvolvimento do esporte.
Ideia interessante, já tinha chegado a pensar nisso (sem querer dar uma de mãe diná hehehe), mas nunca imaginei que um dia isso seria possível, mas o mundo realmente dá voltas.
talvez traga algum diferencial para categoria pois talvez estimule a busca de novos caminhos e soluções, para obter aquele diferencial em relação aoas adversários e talvez volte a ser como na década de 70 com carros bem diferentes entre si é o o Mosley liberar um pouco a coleira da galera e acabar com essa palhaçada de restringir configuração de motor e outras coisas, pois a F1 está quase virando uma "monomarca" de tanta restrição e com essa restriçãode orçamento ele pode liberar a categoria de suas outras amarras.
Filipe W
150 milhões de dolares?
Assim qualquer um poderá ter uma equipe... quem sabe eu não crio uma e convido toda a "equipe red bulletin" para ser pilotos de (crash)testes.
Queria saber qual seria o susto do velho Enzo se alguem em 1950 falasse pra ele quanto custa para a fabriquinha dele disputar o mundial...
Grande Abraço!
Acho a idéia válida, isso vai valorizar a criatividade, vai fazer engenheiros "queimar a cuca" para fazer a diferença em relações de outras equipes, mas para terão que tirar as mordaças que o regulamento proporciona atualmente. Fazendo isso , acho que Renault e Williams entram novamente no páreo para disputar o título novamente.
Esse cara é uma caixinha de surpresas... Acho a idéia impraticável, pois será impossível fiscalizar de forma séria. A única coisa que vai aumentar e o famoso caixa-dois e as acusações quase sempre impossíveis de serem comprovadas, mas que serão julgadas da forma política de sempre. Minha sugestão de mudanças é sempre a mesma - liberdade técnica quase total com limites dados apenas pela eficiência energética (consumo de combustível)e pela segurança dos pilotos.
Att.
Natal Antonini
Concordo com o que o Natal disse. Os mecanismos de fiscalização são muito difíceis e dão uma chance imensa para a FIA faturar por meio de corrupção.
Imaginem como pode faturar a FIA cada vez que queira fazer vistas grossas quando enxergar uma irregularidade. Não precisamos buscar na memória para constatar que isso foi feito no recente caso de espionagem, quando a equipe inglesa deveria ser excluída do campeonato ao ser consderada culpada e só foi punida - com multa - num segundo julgamento. A política prevaleceu.
Da mesma maneira, esse poder da FIA pode ser usado pela entidade cada vez que uma equipe de pouca tradição ameaçar as grandes, as de maior tradição, como Ferrari e McLaren. Tudo no jogo político.
Sinceramente, acho um absurdo que se tente limitar gastos de grandes empresas assim, no decreto. Bobagem. Ninguém diz como a Vale do Rio Doce, Volkswagen, Ford ou qualquer grande empresa deve gastar seu dinheiro. E assim é com a F1. Se a Toyota quer continuar a fazer papelão gastando tubos de dinheiro o problema é deles. E como a própria Renault demonstrou, nem sempre o dinheiro é o principal. A competência ainda prevalece.
Postar um comentário