OS HERÓIS DO DIA

É muito bom quando há muito a dizer sobre uma corrida, quando ela traz emoções de sobra, um vencedor novo, um semi-deus (se você é um jornalista inglês) errando feio, assuntos interessantes relativos ao estado da pista, ao estado de saúde de um piloto brasileiro e ao estado de inchaço de uma atriz hollywoodiana, zombateiramente taxada de “bote inflável” por mim na transmissão pela rádio.

Mas quero me ater aos dois heróis deste domingo. Um deles, claro, o vencedor Robert Kubica. Líder do Mundial com a mais absoluta justiça já que, dos quatro postulantes ao título, foi o único que não cometeu um único erro neste ano. Sempre conseguiu extrair o melhor resultado possível de um carro que não é o melhor do grid (nem o segundo melhor), apenas na Austrália ele foi vítima do erro de um outro, de Kazuki Nakajima, que acertou seu carro durante um período de Safety Car. No dia-a-dia do paddock, o polonês é sempre um dos pilotos mais interessantes de se entrevistar, com respostas diretas e sem rodeios.

O outro herói é Mario Theissen. A dobradinha da BMW Sauber no dia da primeira vitória foi um atestado da competência de seu trabalho. É muito simplista creditar o crescimento da pequena equipe suíça apenas ao dinheiro empregado pelos alemães e à potência do motor BMW. O grande mérito de Theissen foi o de garantir estabilidade absoluta à sua tropa, algo tão fundamental quanto difícil de se encontrar na Fórmula 1 hoje. Isto vale tanto para a dupla de pilotos, a mesma desde a metade de 2006, como aos empregados da fábrica. A idéia de manter o nome Sauber na equipe permitiu aos funcionários de Hinwil que não perdessem suas identidades, mais um exemplo de como um bom trabalho começa nos menores detalhes.

No seu plano meticuloso e pragmático traçado em 2005, Theissen esperava mesmo vencer pela primeira vez neste ano para, aí sim com vitórias regulares, tentar o título na próxima temporada. Mas, depois de sete corridas, BMW e Kubica já merecem ser campeões em 2008 mesmo.

Se a corrida foi boa, o campeonato vai ficar melhor ainda. Os adversários sabem que agora são três equipes de ponta na Fórmula 1 e que os muitos erros que estão cometendo não serão fáceis de recuperar. Hamilton, que tinha uma grande chance de abrir vantagem na ponta, vai para o GP da França com um prejuízo de dez posições no grid e, pior, com a reputação seriamente abalada depois de um erro grosseiro.

A Ferrari perdeu uma ótima chance de colocar Felipe Massa mais a frente na tabela por um problema na bomba de combustível, mas a moral do brasileiro na equipe está em alta e ele, além de uma bela corrida hoje, está fazendo um belo campeonato desde o GP do Bahrein. Mas não vamos cometer o erro de tirar Kimi Räikkönen desta equação. Aos jornalistas finlandeses, ele já avisou: “Chega! Agora é hora de voltar a vencer corridas”. E sua reação no Mundial do ano passado, do qual saiu campeão, começou justamente em Magny Cours.

Vale também o registro para uma corrida mais combativa de Nelsinho Piquet (tardia, mas em boa hora) e principalmente para Rubens Barrichello. Talvez só acompanhando as notícias vocês não façam idéia, mas ele realmente parecia muito debilitado de saúde tanto ontem quanto hoje. Mesmo assim, fez uma boa classificação e também uma corrida – e nem culpou a febre pelo erro no final, foram os freios mesmo. Merece os parabéns, o Barrichello.

Para terminar, foi uma jornada exaustiva esta aqui de Montreal, até porque esta é uma das poucas corridas do ano em que eu sofro os efeitos do fuso horário – e também uma das poucas em que se trabalha “contra o relógio” para cumprir os deadlines das redações em que eu trabalho. Mas é também uma das mais prazerosas, por ser em uma cidade fantástica e cheia de vida, tanto em cima como embaixo da terra.

É para aproveitar umas horinhas disso que amanhã estarei fora do ar. Volto na terça-feira, direto da terra da Eurocopa. Até!