Foi no início deste mês que Henry Surtees pilotou o Fórmula 2 da equipe de seu pai no Festival de Goodwood. Foi com o Surtees TS10 que Mike Hailwood sagrou-se campeão europeu da categoria em 1972. No final daquele ano, o carro até veio competir no Brasil na chamada “Temporada de F-2”, o pessoal das antigas vai se lembrar. No festival, Henry desceu do carro empolgado. “Foi uma experiência fantástica. Pilotar em Goodwood foi a ponte ideal até a era das corridas do meu pai. Meu respeito pelo que os pilotos do passado faziam aumentou dez vezes hoje”.
Na época das corridas do pai de Henry, o campeão mundial de motociclismo e de Fórmula 1 John Surtees, as ocorrências fatais eram corriqueiras. A segurança dos carros e dos circuitos era mínima, quase negligenciada. Quem saía dos boxes para acelerar fundo entrava num bailado com a morte. Muitos aceitavam isso como parte de esporte. Outros, não.
Por conta desses, foi na época das corridas do pai de Henry que começou um movimento para minimizar os riscos das corridas. Pistas foram reformadas e ganharam centros médicos. Os carros passaram por profundas transformações para ficarem mais seguros. A indumentária dos pilotos ficou mais e mais sofisticada.
Hoje, Henry Surtees morreu após uma roda se desprender do carro de um outro competidor após uma batida, quicar pela pista e atingir sua cabeça, na hora em que ele acelerava fundo na reta. Um acidente raro, mas não inédito: o austríaco Markus Höttinger pereceu em um acidente de dinâmica semelhante também em uma prova de F-2, no ano de 1980.
A segurança de hoje é bem diferente do que na época das corridas do pai de Henry. Nesta hora, na busca de entendermos melhor o que aconteceu, costumamos procurar culpados. Vai ser difícil encontrar algum aqui. Podemos lamentar que a roda tenha se soltado daquela maneira. Mas as leis da física são absolutas e, mesmo na F-1, não é raro uma pancada das boas resultar nas rodas se soltando dos eixos.
No fim das contas, é uma daquelas fatalidades difíceis de se prever, uma conjunção de fatores que acabam resultando em algo que ninguém gostaria que ocorresse. Serve para lembrarmos que aquela frase estampada em ingressos e credenciais não é mero enfeite. “Motosport IS dangerous”.
E serve para nos deixar um vazio no peito, que é o que mais incomoda.
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24 comentários:
Acidente patético... Incrível como, nos dias de hoje, ainda há monopostos que soltam suas rodas! Há que se avaliar se há riscos semelhantes em todas as outras categorias de fórmulas (F1, F-Indy, A1GP, Superleagu, F3...). Infelizmente é assim: sempre tem de haver uma fatalidade para que providências sejam tomadas!!
Incrível como esse acidente do Markus Höttinger é comentado até hoje. Lembro muito bem de ter visto, por volta de 1993, algumas cenas do atendimento ao piloto em uma daquelas fitas da série Havoc. Se não me engano, a morte dele ocorreu em Hockenheim, certo?
Que fatalidade absurda. Lamentável. Eu sempre fico chocada qdo isso acontece, tenho a ilusão que essa “brincadeira” é segura. E era tão jovem. Nossa, dá mta raiva.
Patético? Sim. Mas culpar a engenharia é fácil.
Queria capota no monoposto?
Que pena desse cara.
É duro para quem fica ,seu pai por exemplo .
Mas é um acidente isolado ,nada pode ser feito ,a segurança é muito grande .
Loucura ´são os motociclistas em SP e todo mundo acha normal.
Se a engenharia pode prever e contornar N fatores de algo se quebrar, pode ter certeza que existira N+1 fatores no mundo real.
Infelizmente foi uma fatalidade, uma grande perda como todas as que já tivemos no mundo do automobilismo.
E recentemente tivemos a prova maior de que a engenharia, apesar de todos os esforços, dificilmente será perfeita com a morte de Carlos Pardo na Nascar México. Carros que são construídos para serem verdadeiros tanques no quesito resistência a impactos trouxeram a morte de mais um brilhante piloto.
O acidente de Tom Pryce também pode ser citado como referência, embora tenha algumas diferenças. Foi um atropelamento e um extintor, não um pneu. É menos fatalidade do que o acidente de Surtees, mas também não deixa de sê-lo.
Uma pena, realmente uma pena.
é um triste accidente cheio de azar. fiquei chocado de ver o video. lembra que esporte a motor é realmente arriscar a vida
realmente foi uma grande fatalidade, calhou daquela roda se soltar e acertar a cabeça do menino...descanse em paz...
Tens razão, Ico. Hoje todos nós sentimos uma apagada e vil tristeza por achar que algo que sempre pensamos não acontecer, acontece. E a ironia é que foi a alguém que sobreviveu a aquele tempo para contar a história.
Todos nós, os amantes do automobilismo, sofrem hoje um pouco. Ars lunga, vita brevis.
Ico, é meio irônico, não? Todas essas circunstâncias envolvendo pai e filho.
É triste ver o que aconteceu. Hoje é um daqueles dias nos quais a gente sente o peito apertado e o coração um pouco mais dolorido.
Ou simplesmente como você diz no título um "vazio" por dentro.
É duro, mas é a realidade.
Caramba, também sofro com essas notícias. Sequer abro o link para ver o acidente. Prefiro abrir uma cerveja e lamentar um filho que se vai antes do pai.
Por isso que nesse caso eu não acredito em fatalidade. Tanto a roda do adversário quanto a dele se soltaram. Um absurdo levando-se em conta que se trata de um monoposto fabricado por uma empresa com larga experiência no automobilismo. Ou não pediram os tais cabos de aço pra segurar as rodas??? A seguir, denas do próximo caítulo...
John Surtees não merecia esta tragédia. Andou e ganhou nas motos e F1 numa época muitíssimo mais perigosa. Sobreviveu inteiro. Agora acontece isto. Inexplicável. Sua dor deve ser enorme. Dia muito triste para quem gosta de automobilismo.
Luiz Eduardo
Ico faz tempo que não passo aqui pelo seu blog, por falta de tempo só tenho acessado o do Flávio Gomes pelo singelo motivo que está nos meus favoritos, mas vou colocar o seu também.
Permita-me aqui apenas recortar e colar o comentário que fiz no dele, até porque o assunto é o mesmo e nada tenho a acrescentar.
A pior das desgraças que pode acontecer a um pai é a inversão da ordem natural das coisas, são os filhos que devem enterrar os pais, incrível como um homem como o Surtees que correu de carro e de moto em uma época que essses esportes eram semelhantes a uma roleta russa - só que com cinco balas no tambor- perder o seu filho em uma época que é mais fácil um piloto morrer de tédio do que de acidente.
Imagino como deve estar a cabeça deste homem , até porque pela idade do menino deve ser um temporão tipo o que eu tenho aqui em casa, é daqueles filhos que você tem na idade de já ser avô, não vou comentar o acidente pois vou cair no maniqueísmo idiota de prever o passado, todo o acidente por si só é estupído e sem sentido. Prefiro humildemente deixar aqui um poema do inigualável Chico Buarque que retrata com fidelidade esse momento tão cruel:
“…Oh! Pedaço de mim
Oh! Metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés do parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu …”
Para quem quiser ouvir a música “Pedaço de mim” inteira , aí vai o link:
http://www.youtube.com/watch?v=JIFWpMzwUnc
Realmente uma lástima a morte do Henry!
Na primeira vez que vi a cena do acidente, achei um lance meio bobo até, tanto que imaginei que não tivesse tanta gravidade assim. Só depois, vendo com mais atenção, é que percebi a violência com que a roda acerta a cabeça do piloto.
Henry parecia ser uma jovem promessa que, embora inevitavelmente trazia pra si olhares atentos graças à descendência que possui, parecia ter talento e um futuro promissor.
Convenhamos, é muito azar uma morte nestas circunstâncias. No lugar errado, na hora errada. O que serve para provar que, mesmo com tanta tecnologia a favor da segurança, sempre haverá risco no automobilismo.
Uma pena! Tomara que a família saiba reunir forças neste momento tão difícil.
Que Deus o tenha em bom lugar e que conforte o velho Surtees, um dos grandes do esporte.
Ico, vc soube traduzir o que muitos de nós, amantes do automobilismo, estamos sintindo. É exatamente esse vazio, essa coisa estranha por dentro, sentimento de impotência e tristeza. Que Deus esteja consolando a família, e por que não, todos nós também.
Penso agora em Big John, em tudo que deve estar passando pela cabeça dele agora. O sofrimento dele também é um pouco nosso, já que nos doi ver o automobilismo, essa pequena diversão que enche nossas vidas pacatas com um pouco de barulho e cores também mata impiedosamente.
A inscrição na credencial, não está errada, mas eu colocaria ela de outro modo: "Motorsport is a tale, told by an idiot, full of sound and fury, signifying nothing".
Uma tragédia, uma fatalidade, que infelizmente não podemos evitar, já que sempre irão ocorrer fatalidades.
Deixo meus pêsames a famlia do Surtess, e que como todas as mortes no automobilismo, esta também possa ser usada para o bem, trazendo mais segurança para todos.
RIP Henry.
Quando um cara morre pilotando um carro de corrida dá a impressão que um pouco da gente também se vai.
Pode parecer exagero, mas pense bem... Não é.
Quantos de nós pode ou poderia pilotar em alto nível como os caras que estão lá, seja em que categoria for?
Todos eles, por mais que a gente de bordoada, diga que são ruins.
Por mais que a gente xingue e tudo.
Quando um cara destes está lá acelerando é a realização - por via de outros - do nosso próprio sonho ou desejo.
Sinceramente não conhecia Henry Surtees ou sua carreira, se era promissora ou não.
E creia, isto é o que menos importa.
O Ron Groo descreve com exatidão o sentimento de todo amante desse esporte singular e contraditório, quase paradoxal, na sua própria natureza.
Ico, já tive a oportunidade de ir a corridas regionais, aqui no Bananão (copyright Ivan Lessa) e também na Inglaterra, onde morei por um par de anos.
Foi lá que notei o aviso 'motorsport is dangerous'impresso, geralmente no verso mas de modo chamativo, nas credenciais como também nos ingressos (afinal o público também corre algum risco).
Eu jamais vi algo equivalente aqui no Brasil. Talvez tenha nos ingressos da F1, mas já tem 9 anos que não vou à F1 em Interlagos e não guardei o ingresso, então não posso afirmar categoricamente.
fernando amaral
Roteiro?
Um triz.
Ator?
Atriz (atroz)
Solta,
Bêbada, cambaleante, débil
Traçados intangíveis
Uma mente, um sonho
Cometa de asas
Corisco dourado no azul infinito
Exatos traçados
Um encontro, a leveza, o peso
O sonho, o triunfo
Já fluido imponderável
Trajetória incompreensível
Cai a noite
Num estrado qualquer,
Mil vezes violada,
cortada, dissecada,
Uma roda.
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