quarta-feira, 28 de outubro de 2009

EM BUSCA DE UMA IDENTIDADE

Os iates estão ancorados na marina, vários deles suntuosíssimos, com quatro andares e dezenas de empregados. As 225 toneladas de asfalto são da melhor qualidade, proveniente da Malásia e da Inglaterra, nivelado com máquinas trazidas especialmente da Alemanha. A iluminação ficou a cargo de uma empresa americana, a mesma responsável pelos holofotes do circuito do Losail, no Qatar, usado à noite pela Moto GP. O resultado impressiona, especialmente na arquibancada norte, que fica com cara de estádio de futebol.

A infra-estrutura também é inigualável. O complexo de imprensa tem três andares, com cafeteria, restaurante e um terraço com visão privilegiada da ação na pista. A sala de imprensa possui três telões enormes nos quais serão mostradas todas as informações necessárias aos jornalistas. Parece um cinema. Por todos os lados, um batalhão de mocinhas Filipinas (a mão-de-obra barata daqui) anda com seus paninhos cuidando que tudo fique um brilho, perfeito.

Os idealizadores do Yas Marina Circuit pensaram em todos os detalhes e criaram um cenário de sonhos para uma corrida de Fórmula 1. E cuidaram de integrar vários pontos singulares para dar uma identidade à pista: o hotel de arquitetura moderníssima cravado no meio do traçado; o prédio onde a prova é controlada, batizado de Sun Tower; as arquibancadas moderníssimas e cobertas; dois complexos de boxes, capazes de operar duas corridas diferentes ao mesmo tempo em variações reduzidas do traçado; a saída do pitlane subterrânea, criando um desafio extra aos pilotos.

É tudo tão perfeito que falta alma.

Falta a alma de um balneário chique e histórico como Mônaco, de uma floresta das Ardenhas, do traçado que flui junto com a natureza de um anfiteatro natural, como Interlagos. Tudo foi feito com tanto esmero que o Yas Marina Circuit ficou com cara de Shopping Center. Talvez o maior e mais sofisticado de todos, se compararmos com Sepang, Sakhir, Shangai, Istambul. Mas um shopping, como todos eles.

Eis que alguém (Bernie, o sheikh, o organizador, sei lá) teve a idéia de fazer uma corrida na hora do pôr-do-sol. E hoje eu fui correr bem nessa hora. No céu, entre as arquibancadas desenhadas por Hermann Tilke e as palmeiras mantidas por irrigação artificial, uma enorme bola de fogo incidia sua luz vermelha sobre o complexo de um bilhão de euros.

Em seu ciclo diário, a mãe natureza roubou o show que os petrodólares tentaram criar. E deu a identidade que o circuito precisava. Ainda não dá para saber que tipo de corrida o traçado vai oferecer. Mas o espetáculo que ela vai dar está garantido.

Que venha o GP dos Emirados Árabes, a corrida do crepúsculo!

21 comentários:

Alejandro Burger disse...

nice pics man... and nice work!!
cheers from Venezuela!!!

roger disse...

Pois assim é a tal da vida...tenho medo na realidade...
-os novos ricos sem estilo, apartavarshyl mento de 500m² com móveis da Tok Stok. Perfume Avon no café da manhã de um luxuoso Hotel...camisa aberta no peito com um medalhão ala Magal.
Por aqui já esta assim a tempos.
Que horror!

Tohmé disse...

Não curto muito essa coisa de "perfeição ao limite"

Aliás, quer dar um pouco de bagunça à cidade, exporta uns 3 motoboys com suas CGs...

Fleetmaster disse...

Tomara que a corrida seja um show como é o circuito !

Agora gostei da idéia do Thomé.

DesdeLosPits disse...

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Rianov disse...

Po***, essa última foto ficou show!!!

Tenho uma mania horrível de fotografar aviões assim, hehehe

Abração e boa cobertura.

Valtinho disse...

Ja se foi o tempo que o importante era o esporte em si. O Tio Bernie só liga para os lucros e nada mais... Querem tirar Silverstone que tem história e colocar palácios para atrair turistas e não torcedores!!! Vale lembra que só o Barrichello correu nos circuitos antigos e nos novos.

José A. Matelli disse...

Essa assepsia excessiva me dá engulhos.

Unknown disse...

Ico, e a visibilidade nesse horário? Para dirigir na estrada é horrível, será que vai atrapalhar?

Lucas Carioli disse...

É tudo tão perfeito que não sei nem o que pensar. Talvez o defeito dessas pistas novas está em serem perfeitas demais.

tibone disse...

A Formula 1 precisa de imperfeição, precisa ser "on the edge", e não essa Formula Autorama que o Bernie criou. O circuito parece bonito, apesar de travado. Mas sei lá, quem sabe não proporciona uma boa corrida ?

Agora, deixa esse negócio de crepúsculo pra lá.. senão daqui a pouco vão falar da corrida do lua nova, argh! Distância disso, por favor.

Gabriel Souza disse...

Bom, como outras coisas construídas com os "petrodólares", artificial demais e sem "alma".

Só a natureza para roubar a cena mesmo...

Abraço!!

Daniel Médici disse...

Sempre que uma nova pista encerra a temporada, lembro de Adelaide. A cidade virava uma festa, o público lotava as arquibancadas e o campeonato muitas vezes já chegava decidido, mas a maioria dos pilotos ainda sentia que tinha algo a provar e o resultado disso eram pegas inesquecíveis.

No domingo, as arquibancadas de Abu Dhabi estarão lotadas para ver a corrida, com 50 mil pagantes. Ou seja, quatro vezes menos torcedores que viram a última prova em Adelaide, em 1995. Vendo as fotos de Yas Marina, fico com a impresão de que Bernie, Tilke e os donos do petróleo dos EAU consideram que corridas se fazem com dinheiro, arquitetura pós-moderna e efeitos especiais. Mas eu ainda acho que elas são feitas com batimentos cardíacos.

Daniel Médici disse...

Aliás, Ico, senti uma pegada bem "As cidades invisíveis" nesse post, especilmente no fim. Nada mais condizente com essa paisagem árida e opulenta de Yas Marina, diga-se.

Anônimo disse...

Ico, A grande realidade não tem trombadinha, bala perdida um país no seculo 21, nossas escolas gastam a maioria do orçamento com ensino superior o que precisa e basico, brasileiro não tem educação se queremos ser respeitados no mundo, que venha a educação basica e que Deus me ouça.

Fernando Mayer disse...

Bom, mais uma vez digo que não gosto de circuitos com cara de Resort...tirando Mônaco e talvez a simpática Melbourne, estes outros circuitos de rua onde estão enfiando a Fórmula 1 nos proporcionam corridas chatissimas, sonolentas (independente do horário) e só servem para engordar o conta bancária do Anão Bernie e dos já endinheirados donos do petróleo. Fisicamente pode até ser que em termos de estrutura, hospitalidade, comodismos e mimos para os profissionais envolvidos Yas Marine seja mesmo perfeito, mas nunca terá a alma da competição. Deve ser tudo uma frescura só; o cheiro de limpeza deve ser tão grande que se sobressai ao cheiro do pneu queimado da mistura de óleos com combustivel... A coisa tá ficando tão mirabolante que daqui a pouco teremos um GP na Lua.

Abç

Ico (Luis Fernando Ramos) disse...

Pôxa, Fernando, no GPL já tem, e a pista é sensacional!

http://javinester.co.uk/gpl/moon.HTML

:D

Abs!

Gustavo Cabril disse...

Postei no lugar errado... Tudo muito bonito e planejado, mas quem paga o pato é a natureza sendo exaurida de seus recursos e futuramente nosso destino caminhando para o fim insustentável do modelo que ainda insistimos em seguir neste planeta. Os olhos seguem fechados achando que o planeta está equilibrado e que nossos recursos não acabam... que pena!

Pedro Migão disse...

Caro Ico, é impressão minha ou a pista é mais estreita que o habitual ?

Anônimo disse...

Esse lances de motoboy na jasmarinaê, óoo... nadaver. Motoboy aí é pobrema, mano... certo?

Os cara num comi pizza, num bebe cerveja, são tudo turco pão-duro, não dá grujeta e num respeita a categoria, certo.

É furada.
Para um motoboy ir pra essa jasmarina é pior que perder um parente próximo, tá ligado?

A menos que deixe a gente dar um bordejo no grid, no meio das caranga na hora das largada. Aí, mesmo se num rolá uns troco a gente fez nosso comercial.

Paz!

(a) Mano Jefferson

alfie disse...

de que adianta tanto luxo se não dá pra tomar uma cerveja?