O divórcio do século parece ter tido um óbvio vencedor. Enquanto a McLaren briga por vitórias e títulos, a Mercedes se debate com um carro pouco competitivo e um ídolo menos ainda. O time de Woking posa como uma exigente e caprichosa dama: a bolada que embolsou do ex-marido estaria simbolizada no uso dos eficientes propulsores da marca alemã; o novo e belo amante é representado pela dupla de campeões ingleses, a única dos times de ponta que ainda não apresentou nenhum sinal claro de desgaste; e a felicidade está nas vitórias conquistadas e na chance de lutar por elas e pelo título.
Do outro lado, a equipe oficial da Mercedes cai como uma luva no papel do milionário que perdeu uma fortuna com a separação: o carro pouco competitivo fica como uma mansão decadente e vazia; Michael Schumacher é a nova companheira, uma ex-diva temperamental e, descobriu o milionário agora, pouco afeita a satisfazê-lo; e o fracasso nas pistas simboliza a ruína financeira.
Mas este cenário é pura ilusão.
Ron Dennis já deixou claro seu nervosismo ao mandar seus pilotos “pararem de reclamar” do atual estágio do MP4-25. E é ele a força por trás das desesperadas acusações contra as asas dianteiras de Red Bull e Ferrari, que têm passado a cada final de semana nas vistorias feitas pela FIA. O motivo disso é óbvio: o tempo urge e Dennis não consegue encontrar nenhum sheikh milionário disposto a investir no seu megalômano projeto de criar uma “Ferrari inglesa” com a McLaren Automotive.
E o buraco deixado pelo segmento ameaça a médio prazo o futuro da própria equipe de Fórmula 1. Sem um grande patrono por trás – como uma montadora ou uma bebida com gosto de chiclete que vende como água –, não vai demorar muito para que a McLaren tenha de reajustar para baixo o tamanho de seu orçamento. Será o início do mesmo processo pelo qual passou a Williams – uma grande vencedora do passado, hoje uma equipe esforçada e competente, mas limitada pelos recursos de que dispõe.
A Mercedes, por outro lado, vê um futuro bem mais róseo que o seu presente. Para convencer os diretores da montadora a investir numa equipe própria de F-1 num momento em que todas as outras caíam fora, Norbert Haug teve de aceitar um orçamento enxuto e governado de maneira meticulosa. Grana de equipe média mesmo, o que reflete na posição do time na tabela e no desenvolvimento vagaroso do W01.
Mas os indícios do mercado apontam que a marca vai ter um lucro muito maior que o esperado em 2010. Além do fim das medidas drásticas tomadas nas fábricas da Mercedes para combater a recessão, a notícia significa sinal verde para o time trabalhar em 2011 com uma liberdade financeira com a qual jamais pôde sonhar nesta temporada.
É por isso que todos os esforços em Brackley miram faz tempo no W02, um carro que vai diferir e muito do atual, buscando incorporar características que se encaixem melhor com o estilo de pilotagem de Michael Schumacher. Afinal, todos no planeta sabem, 2011 será a última chance do alemão para justificar a confiança demonstrada pela Mercedes em apostar no seu retorno às pistas.
(Foto The Cahier Archive)
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15 comentários:
Muito bom o texto !
Edson Barros
torço pelo sucesso de Dennis e da Mclaren, pessoas competentes devem sempre se sobresair no mercado. a conferir...
Caramba, será que mais um carro de rua vai afundar uma equipe e seu mentor, assim como o DeLorean fez com Colin Chapman? É certamente algo com o qual devemos ficar atentos.
É,nem tinha pensado nessa questão da McLaren.
Mas a Ferrari é uma equipe "top do top".
Será que não pode conseguir patrocínios generosos.
Lembrando que a Williams teve um desligamento da BMW mais conturbado.Não saiu como equipe de ponta,o que deve ter dificultado na hora de arrumar patrocínios.
Mas,Ico,não seria o caso da McLaren parar de se dar ao luxo de ter dois pilotos campeões e voltar a trabalhar para ter apenas um lutando pelo título.Assim como fez em 2008-2009??
*Ih!
Coloquei "Ferrari".
O certo é: "Mas a McLaren é "top do top"."
Parabéns pelo trabalho Ico!
Muito bom ler o seu blog, pois sempre vê ambos os lados da notícia, e muito bem apurada. Ao contrário de sites que vemos por ai, que noticiam apenas boatos.
Ótimo texto Ico!
Eu não sou mãe Diná, mas penso que a Mercedes ainda terá muito sucesso na categoria com Schumacher.
Quem viu o alemão correr sabe do que eu estou falando e ele não desaprendeu a correr.
Se lhe derem um carro com o qual ele possa pelo menos competir será um osso duro de roer em 2011.
Concordo com o Dé.
Qto à Mc Laren, se acontecer com ela como com a Williams... humm. Vai ser uma pena. Triste mesmo.
Pois é Anselmo, eu também ficaria triste.
Mas penso há uma diferença grande entre Williams e Mercedes, não acha?
A entrada da montadora alemã na F1 esse ano é muito mais um plano de marketing. Se os resultados não se transformarem em lucro rapidamente ele simplesmente vão embora e pronto.
Muito diferente do tio Frank, que tem a F1 quase como uma religião.
De qualquer maneira sou a favor de que marcas tradicionais façam parte dos times da categoria. E a Mercedes por toda sua história e identificação com a F1 é mais do que bem vinda.
Ico, O poderoso motor da 3 pontas, está sendo jantado pelas aerodinamicas, um piloto que perdeu o eixo, parace bananeira que já deu cacho, triste fim para esse orgulho alemão.
Daniel Medici,
O que tem a ver o projeto do DeLorean com a falência da Lotus ???
Que eu saiba o Colin Chapman só fez parte do projeto do carro como engenheiro e designer e recebeu por isso...
Abraços,
Telo
É por causa de jornalismo deste calibre que a gente volta a este blog o tempo todo. Obrigado Ico!
É o duelo entre dois conceitos: time de montadora e time independente. Até aqui, a McLaren se valeu dos motores da Mercedes. Mas não vai levar o título e começará o "ladeira abaixo".
Leandro Almeida
Prezado Ico,
Discordo em partes. Você trabalhou somente com a hipótese do projeto fracassar...
Se der certo, terão motor próprio e uma fonte de receitas, já que cada carro de rua é uma pequena fortuna. A Inglaterra carece de uma marca global nesse segmento. Alguém poderá dizer: "E a Aston? Lotus? Jaguar?"
Pertencem a outros grupos maiores, lançam carros insípidos, não participam das principais categorias, em suma, vivem de resquícios do passado, com lançamentos esporádicos.
A meu ver, a Mclaren tem possibilidades de ocupar esse nicho de mercado com relativo sucesso: possui know how, tem visibilidade na maior categoria européia e mundial, tem estrutura física. Vamos aguardar.
Norbert Haug é a cara do Fred Flintstone
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