Eu nem tenho mais vitrola, mas ele continua aqui comigo. As bordas estão levemente amareladas, mas a dedicatória feita por meu pai na contracapa, oferecendo “um sítio todo prá você”, está perfeitamente legível. Para mim, a trilha original do “Sítio do Picapau Amarelo” não é apenas um disco. É muito mais, uma espécie de marco zero dessa deliciosa viagem minha pelo universo da música.
E é uma jornada sem prazo para terminar. As mídias mudaram muito desde a chegada dessa enorme bolacha há mais de 30 anos. Durante anos colecionei algumas centenas de CDs que ocupam um espaço relativamente modesto num canto da sala. E faz tempo que carrego comigo toda essa coleção - e muito mais, no bolso, graças à revolução criada pelo MP3. Para os que, como eu, têm a música como fonte de inspiração e relaxamento, poder ter toda a discografia à mão é a realização dos sonhos mais incríveis da infância.
No meu caso, literalmente. Me lembro uma vez que dormia à tarde depois de um dia duro na escola, quando a campainha tocou. Pulei da cama, abri a porta e uma montanha gigantesca de CDs passou a escorrer para dentro do apartamento - todos títulos que eu gostava e queria ter. Era um sonho, acordei (de verdade) no instante seguinte e amaldiçoei a peça que o inconsciente me pregou. Hoje o delírio se tornou normalidade. Não é à toa que trato hoje meu iPod como se fosse uma igreja.
É bacana como essa paixão impregnou na memória estes momentos dos “primeiros”. A bolacha do “Sítio” é um dos melhores discos de MPB que existem. Além do inspirado tema principal de Gilberto Gil, tem João Bosco com um swing maravilhoso, o auxílio luxuoso dos Doces Bárbaros, tem MPB4 cantando Chico Buarque e até Dorival Caymmi. Como se vê, não tinha como um guri de cinco anos de idade não ficar com a cabeça feita em cima dessa coisa de acordes e melodias.
Impacto semelhante teve minha primeira fita K7 (vale o link caso as novíssimas gerações não saibam do que eu estou falando), que chegou um par de anos depois. Minha mãe tinha ido a um congresso no Exterior, era a primeira vez que alguém da família viajava para fora - um momento que tocou muito nossa família. De presente, resolveu me comprar um walkman e - bem coisa de mãe - uma fita para acompanhar o aparelho. Pegou a primeira que estava na prateleira de um nome que já tinha ouvido falar. Ganhei o presente, coloquei aquele tal de “Innervisions” para tocar e abri minha mente para a incrível teia sonora de Stevie Wonder. Legal que um dos meus artistas favoritos tenham entrado na minha vida de forma tão aleatória.
Meu primeiro CD já foi mais escolhido, veio junto com a compra de um 3 em 1 (CD player, tape deck e rádio). Era em 1989, mais ou menos na época que a mídia chegou no Brasil, e um CD duplo com as músicas de Woodstock tinha acabado de ser lançado em cima das celebrações dos 20 anos do festival. Foi mais um pequeno planeta musical que se abriu para mim: CSNY, Sly & The Family Stone, The Who, Jimi Hendrix, Joe Cocker, Santana e toda aquela turma bacana que contribuiu decisivamente para o furacão criativo do final dos anos 60.
Estas recordações que trago aqui hoje surgiram na última sexta-feira por mero acaso. Coloquei meu #BomDiaMusical no twitter com um som do Creedence Clearwater Revival (olha a influência do CD de Woodstock aí) e o Dogo Azzoni respondeu que este era o seu primeiro disco. Foi a senha para iniciarmos uma deliciosa discussão sobre o tema. E tenho de confessar que fiquei morrendo de inveja de gente que começou sua jornada musical direto no filé mignon, como o Fernando Maymone (Anthology dos Beatles), o Antonio Mietto (Dark Side of The Moon, do Pink Floyd) ou o Othon Gervasio (Exile on Main St., dos Stones).
Este post fica então como convite para você colocar nos comentários sobre o seu primeiro disco (presenteado, comprado, primeiro K7, CD, etc.) e as emoções que ele - e a música em geral - trazem para a vida de vocês. David Crosby tem absoluta razão. Aperte o play do som que você quiser ouvir agora e boa audição! Sempre!
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16 comentários:
prezado ico, minha maior emoçao foi comprar um cd de discou muisc, para ser mais exato abba. isto foi em 94, a parte mais legal e que minha falecida mae tabem curitu um monte. tambem comprei e tenho ate hoje um aparelho que toca cd, K7 e LP, alem de radio e claro. em curitiba existem boas opções de compra de lp e cassetes, mas a verdade que concentro tudo em meu celular e tambem no notebook as musicas. realizar um sonho musical e muito bom mesmo.
Essa trilha do sítio é fantástica.
Ico, meu primeiro Cd me lembro, foi os paralamas ao vivo em 94 , ótimo.Era duplo onde tem Umma brasileira, Luiz Inacio 300 picaretas.
pra mim histórico
abraços.
*Uma Brasileira, corrigindo
Meu primeiro disco: o LP "Jovem Guarda", do Roberto Carlos. Foi em 1978, tenho a dedicatória da minha mãe. Tinha 6 anos, e foi um disco que eu pedi pra ganhar.
Assistia muito aos filmes do Roberto Carlos (especialmente o "a 300 km por hora" e o "em ritmo de aventura" na sessão da tarde. Aí eu via aquele cara: dirigindo carros, aviões e helicópetros; tocando guitarra; e cheio de mulheres em volta, pensei: é isso, esse é o cara!
Ainda tenho o vinil (óbvio), e hoje ele tem outra dedicatória: do Lafayette, que é quem tocou Hammond com o Roberto até esse disco.
Muita gente desvaloriza a jovem guarda, mas tenho muito orgulho de ter começado minha discografia com esse disco, e de escutar Roberto e Jovem Guarda até hoje. Duas das bandas onde toco hoje em dia têm influência direta da jovem guarda e das suas raízes (o surf rock instrumental).
E tenho tido a sorte de participar de iniciativas como essas:
http://reverb-brasil.org/wordpress/lang/en/about/
http://pcmsaobra.blogspot.com/
http://www.aobra.com.br/campeonato/festival.php
http://www.aobra.com.br/campeonato/
http://www.conexaovivo.com.br/noticias/9-primeiro-campeonato-mineiro-de-surfe-traz-ondas-da-surf-music-para-bh
http://www.lastfm.com.br/festival/1550935+10°+Primeiro+Campeonato+Mineiro+de+Surfe
Led Zep II, ganhei em 1977, tem um selo no vinil comemorando o centenário da gravação do som.
Qualquer guri naquela epoca queria ser o Jimmy Page..
E é um discaço..
Ico, desculpa pelo offtopic, mas acaba de me ocorrer uma "sugestão" para Suzuka: já ouviu Casiopea? (tudo bem, você pode não curtir a música, mas não há como negar que o batera - Akira Jimbo - é um maluco: http://www.youtube.com/watch?v=hs6LvqvctaE)
Grande abraço!
primeiro LP: Queen Gratest Hits
Primeiro CD: The Alan Parsons Project Greatest Hits vol II
1º disco: Arca de Noé... até hoje eu gosto do Pato Pateta. Anos depois, a primeira compra: The Wall e Houses of the Holy, num sebo em NY por 12 dolares (preço total).
1º k7: uma mix tape de presente, com engenheiros do hawaii num lado e roxette no outro. Pouco aleatório? Que eu comprei foi Kashmir, com Led Zeppelin tocado por orquestra.
1º cd: Sgt. Peppers, roubado do meu pai. O primeiro que eu comprei foi No Prayer for the Dying do Iron Maiden.
Meu primeiro vinil foi o "Nós vamos invadir sua praia" do Ultraje a Rigor que meu tio me "repassou" por que eu ficava o dia todo ouvindo na casa dele. O Vinil ja era surradão na época (1992), e depois de uns tempos desapareceu. Vai ver minha mãe deve ter achado má influência pra um moleque de 6 anos. hehe
O primeiro K7 meu mesmo foi um dos Mamonas Assassinas.
Meu primeiro CD sinceramente não lembro se foi "Mais do Mesmo" do Legião Urbana, ou "Nirvana Unplugged" sei que foi na mesma época. Curiosamente, hoje não gosto muito de nenhuma das duas bandas.
1º LP: As Quatro Estações - Legiaão Urbana (eu ganhei da minha tia que era hyppie que segundo ela foi adquirido através de um "rolo" feito com um maluco.)
1º CD: Let it Be - The Beatles (comprei com meu primeiro dinheirinho...tinha 16 anos e isso foi em 2001)
Mas de fato a primeira música pela qual eu me apaixonei foi Sultans Of Swing do Dire Stratis.
O primeiro vinil que eu comprei, em 1976, quando ainda cursava o ginásio, foi o compacto de "Livin' Thing", da Electric Light Orchestra.
O primeiro LP foi "Focus at the Rainbow", vendido por um colega de escola que só ouvia heavy metal e tinha comprado o Focus pra saber do que se tratava...
O primeiro CD eu não lembro qual foi, só lembro que foi por volta de 1988, quando comprei um player portátil.
Tenho uma grande coleção de mp3, mas ainda não uso Ipod e congêneres. De criança, quando não tinha toca-discos em casa, peguei o costume de decorar as músicas na primeira ou segunda audições. Depois de algumas tentativas de usar walkman, percebi que não era negócio pra mim. Espero que as pilhas da minha memória ainda durem um bom tempo...
Olá Ico! Acompanho com frequência seu blog e também seu twitter, mas em geral não costumo postar comentários... Na verdade, este deve ser um dos primeiros comentários que faço em um blog! :D
Eu também gosto muito de música e sempre aprecio suas sugestões, além é claro de acompanhar todas as notícias da F1! Então achei justo fazer meu primeiro comentário neste post!
Uma das coisas que marcaram minha infância foi quando meu pai alugou o filme dos Beatles (meu pai era viciado em Beatles haha), Yellow Submarine! Talvez naquela época eu estivesse mais interessado no desenho... Mas o fato é que Yellow Submarine tornou-se provavelmente a música que mais ouvi durante toda minha infância! Sempre que dava eu pedia que meu pai alugasse novamente a fita de vídeo no final de semana. hahahaha Eu achava (e ainda acho) demais! Então considero que essa foi minha iniciação na música! hehe
E aproveitando a oportunidade, queria recomendar um vídeo do YouTube da banda de rock progressivo Focus, que acho hilário! Além da música (Hocus Pocus), que é fantástica também! http://youtu.be/g4ouPGGLI6Q
Parabéns pelo blog!
Grande Abraço!
Meu primeiro LP fotografei frente e verso agorinha mesmo: Tá aqui e aqui.
É o Saltimbancos que minha mãe comprou em 77 para mim, com 8, minha irmã de 7, meu irmão de 2, minha irmã de colo. Esse disco foi mordido, lambido, riscado, mas se mantém inteiro com amor que temos por ele. Minha mãe me deu há vários anos já, junto com toda sua coleção de LPs.
Hoje não tenho mais toca-discos, todos os discos foram doados para um senhor que ficava tocando LPs na calçada da esquina. Exceto esse. Esse jamais será doado, a menos que algum dos meus irmãos queria guardá-lo. Das músicas, nem se eu quisesse consigo me livrar. Há alguns anos, voltando da praia com minha irmã, aquela de 7, começamos a cantar todas as faixas na sequência. São as únicas músicas que eu sei de cor. Jamais decorei mais nada, sou péssimo para decorar qualquer coisa.
Adorei o post Ico, adorei rever meu Saltimbancos.
Que post delicioso...
Eu me lembro do meu primeiro disco, que comprei com meu próprio dinheiro... Foi o Cabeça Dinossauro dos Titãs.
De presente, dado pela minha mãe foi o The Game, disco do Queen de 1981...
Uma história curiosa é a do natal de 1989, quando ganhei o meu primeiro décimo terceiro salário.
Todo mundo esperava que eu comprasse alguns presentes, ou roupas para mim... sabe-se lá! Mas eu gastei tudo em discos. Completei a coleção do Queen e ainda sobrou para comprar o Abbey Road dos Beatles.
Boa Ico...
Meu primeiro LP, presente, foi o Balão Mágico.
Mas lembro um compacto da Blitz que vinha de brinde no shampoo (não lembro a marca). De um lado "Você não soube me amar", do outro não tinha música, só uma gravação com "nada, nada, nada, nada..."
Primeiros cd´s, comprei junto com um player de cd pra acoplar ao 3 em 1 (com meus primeiros salários), que foram Muddy Waters, Jimmy Hendrix e um coletênea chamada Reggae form Jamaica.
Já despachei praticamente todos meus cd´s, mas esses três estão muito bem guardados.
Boa sorte na grande cobertura, e aguardo o sinal da rádio Band News pela internet, em Natal tenho que apelar pra grande rede...
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