“Depois de tudo o que aconteceu, não vamos desistir. Se desistirmos agora, morreremos”. O pensamento de uma mãe de duas crianças pequenas ilustra bem a motivação atual da minoria social e maioria numérica no Bahrein. A brutalidade da força policial do rei, aparentemente com ajuda do exército saudita, gerou o óbvio efeito que só as autoridades não previram ao empregá-la. Se é porrada que o rei quer, porrada o rei terá.
Está mais do que claro que não há a menor condição para a realização de um GP do Bahrein, nem agora e nem daqui a três semanas. As cicatrizes abertas numa rotatória chamada de pérola são profundas demais para sarar até lá. Como garantir a segurança das milhares de pessoas (torcedores, convidados, equipes, jornalistas) que estão comprometidas com um evento festivo? Todos os dias, cruzamos metade do país em ônibus para jornalistas decorados com os cartazes da corrida. Impossível imaginar um alvo móvel melhor para um insatisfeito com o governo.
Vejo muitos colegas pedindo que a FIA ou Bernie Ecclestone cancelem o evento por uma questão de moral, para desassociar sua imagem de um país conduzido, descobrimos agora, por gente com mão de ferro e sem muita noção de democracia. Bobagem, eles estão cagando para este argumento. Historicamente, o mundo dos GPs nunca se preocupou muito com isso e levou seu circo para a Espanha franquista, para as ditaduras militares de Brasil e Argentina, para o regime de Apartheid sul-africano.
O problema central, adivinhem, é a grana. O governo do Bahrein teria pago cerca de 40 milhões de Euros para realizar a corrida, mais um adicional de 20 milhões pelo direito de sediar a abertura do calendário. Se o rei admitir que não há condições para o GP, Bernie vai arrumar um jeito de não devolver a grana. E se o dirigente cancelar a prova primeiro, a família real vai sapatear que havia segurança o suficiente e exigir os 60 milhões de volta.
No meio desse ridículo cabo-de-guerra financeiro, pessoas estão morrendo e médicos que querem dar assistência aos feridos são espancados. Doente, esse mundo.
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12 comentários:
Ico,
Certamente essa é a única consideração de Bernie, a grana.
Está esperando até o ultimo momento para ver se o rei manda um "torpedo" cancelando o evento.
Como diria Gilberto Gil: "Gente estúpida"
abs
O Bernie é um otário, o que eu penso que vai acontecer é uma troca de datas entre o Bahrein e alguma outra corrida dessa perna do calendário, algo do tipo Melbourne ou quem sabe Sepang, enfim, cancelado que não vai ficar...
Excelente, Ico! Bernie não vai abrir mão do Bahrein exatamente pela grana que os árabes pagam pleo direito de sediar a prova. E se a prova vier a ser cancelada, aposto que nem pensa em devolvê-la. Já levantou-se a hipótese de levar a F-1 para Algarve, em Portugal, mas, sabe como é?, os portugueses não teriam tanta grana assim. Se não fosse pela paixão que sinto pelas corridas, já teria desistido de acompanhá-la há muito tempo. As mudanças constantes de regulamento, a tentativa dos dirigentes insinuando que somos idiotas (vide as justificativas da Ferrari para o episódio lamentável em Hockenheim-2010) e a falta de sentimento pela nobre causa do povo barenita me deixam cada vez mais desgostoso com essa gente que, infelizmente, reina no paddock. Pelo menos, Briatore foi embora.
O que me impressiona é que nesses tempos de RP exacerbada, em que o politicamente correto é levado pra muito além do que seria razoável, a F1 não ligue para os danos de imagem associados a atitudes como essa. Se bem que, para quem fez GPs na África do Sul do apartheid, na Espanha de Franco e pegou carona nas ditaduras brasileira e argentina da década de 1970, não ia ser nenhuma novidade...
Na década de 80, equipes francesas - Ligier, Renault - boicotaram pelo menos 1 GP na África do Sul.
Recentemente, a FOTA ameaçou criar uma nova competição, abandonando assim o 'barco' (ou seria circo?) de Bernie Ecclestone.
Onde estão as equipes, a FOTA? São um bando de "vaquinhas de presépio"?
Se Bernie Ecclestone não quer largar o 'osso de camelo' no Bahrein, as equipes - grandes e multimilionárias empresas - deveriam se posicionar e decidirem: vamos! ou não vamos! Até porque, são elas que ficam [realmente] nas praças onde as corridas acontecem; Bernie Ecclestone só espera a largada do GP e cai fora... e, no final da conta, a maior parte da grana fica com ele mesmo...
O mais sensato seria a 'suspensão com sursis' (hehehe) do GP do Bahrein. De imediato, não haveria o GP. Daqui a algum tempo, com a poeira baixada, a solução dos problemas encaminhada, poderia ser acordada uma nova data para o GP... ou seu cancelamento definitivo!
Mas... é esperar demais de MI$TER F1
um abraço
Renato Breder
Tio Bernie podia até apanhar da mulher e agora apanhar de ladrões, mas ele ñ é bobo:
"Parece que as pessoas acharam que era uma democracia semanas atrás."
Li o que escreveste e fiquei impressionado com a dependência que Ecclestone está dos petrodólares do Golfo. Se Bahrein paga 60 milhões para ter a Formula 1, imagino o que Abu Dhabi não pagará para ser a corrida de encerramento.
Mesmo que os circuitos lhe dêm ao todo mais de 500 ou 600 milhões de dólares, é impressionante aquela parte do qual os árabes pagam para ter a Formula 1.
Eu acho que perante os fatos, a corrida deveria ser no minimo adiada para o final do ano, quando as coisas estivessem mais calmas. Caso não queiram, seria o cancelamento puro e simples. Defendo essa parte e quanto mais cedo, melhor. Mas como penso que Ecclestone é um teimoso, só deve ceder quando as seguradores fizerem finca pé e lhe ameaçarem cancelar os seguros...
o cancelamento seria o mais óbvio,mas como tem grnaa envolvida, isso vai demorar a ser decidido...
O que me causa estranheza não é o Bernie ainda não ter se movido nessa história. o estranho é nenhuma equipe ou piloto ter se manifestado. Escrevam: o cancelamento não virá por parte da FIA, virá por boicote das equipes. E a coisa ver ser toda orquestrada, podem apostar.
E para o teatro que virá, três semanas ainda é muuuuito tempo.
Parabéns por mais um brilhante post, Ico! Como alguém aí já disse, a cobertura do Bahrein nos blogs de fórmula 1 está melhor do que nos veículos comerciais.
Barata,
Seria fantástico. Seria. Só.
Abs.
Ico, até quando vocês jornalistas são obrigados a ficar no Bahrein? Os veículos de comunicação querem ter kamikazes iguais aos enviados ao Egito semanas atrás?E a associação dos pilotos está enfraquecida para tomar posição firme?
Só posso desejar a todos no Bahrein PAZ.
é um perigo fazer cobertura numa situação dessas! vc disse muito bem, jornalistas vão ser o primeiro (e mais vulnerável) alvo DOS EXTREMISTAS, pois convengamos que o que o povo mesmo quer não é atacar turistas e sim protestar.
de fato, até asistir um GP em Bahrein é pouco ético nesta situação
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