Viva aquele antigo ditado do automobilismo que diz “the bullshit stops when the flag drops” – numa tradução livre, o blá-blá-blá termina quando a corrida começa. Pelo menos neste domingo, pudemos nos concentrar um pouco na ação dos carros da pista, algo tão em falta na Fórmula 1 recentemente.
Se o GP da Hungria foi chato, pelo menos serviu para observamos Lewis Hamilton numa situação até então inédita, fortemente pressionado nas voltas finais numa disputa pela vitória. E o inglês se portou bem, não cometeu nenhum erro e não deu a Räikkönen a menor chance de esboçar uma ultrapassagem. Em Hungaroring é assim mesmo: tivesse Hamilton com um Trabant, ele só perderia a posição para o finlandês se desse uma espalhada, se saísse mal de uma curva, o que nunca aconteceu.
Boas corridas também dos outros pilotos que pontuaram, sem exceção: Räikkönen foi perfeito no domingo (mas não no sábado); Heidfeld defendeu seu lugar no pódio com bravura; Alonso minimizou um pouco o prejuízo decorrente da punição que lhe foi imposta; Kubica foi correto e subiu de sétimo para quinto; Ralf conseguiu seu melhor resultado do ano; Rosberg finalmente voltou a pontuar; e Kovalainen mostrou que está mesmo andando melhor que Fisichella.
Já os brasileiros... É óbvio que o fim-de-semana de Felipe Massa foi completamente comprometido pelo erro ridículo da Ferrari. Mas sua estratégia de corrida foi esdruxulamente conservadora para quem largava lá do meio e sua pilotagem, discreta. Niki Lauda foi direto ao ponto para explicá-la aos telespectadores alemães. “Ou ele estava doente, ou desmotivado, ou tinha algum problema técnico, o que eu duvido”. A segunda opção está correta, caro Niki.
Rubens Barrichello fez a proeza de chegar em último, atrás da Spyker de Adrian Sutil. Por incrível que pareça, a Honda conseguiu atingir seu ponto mais baixo até agora. Já passou da hora da equipe abandonar completamente este projeto natimorto e usar as provas que restam para ir testando, na pista, soluções radicais para o carro do ano que vem.
Voltando à polêmica do fim-de-semana, dois aspectos.
O primeiro diz respeito ao clima na McLaren. Ao que tudo indica, Hamilton xingou Ron Dennis pelo rádio no sábado, insatisfeito com uma ordem recebida – que ele não atendeu. Chegou até a pedir desculpas depois, ao mesmo em que reafirmou não estar mais disposto a abrir mão de uma disputa direta com Alonso em todos os níveis. O espanhol, ao ver a rebeldia dentro da equipe, reagiu à sua maneira: fez o que fez na classificação e disse o que pensava à imprensa depois da prova. “Eu teria vencido essa corrida se tivesse largado na pole. O que aconteceu entre Lewis e eu ontem foi normal. Cada um tenta fazer o seu trabalho da melhor maneira. Ron Dennis se intrometeu na disputa entre nós dois e, pela primeira vez, Lewis não obedeceu ao que ele disse, o que foi uma surpresa”.
Como a briga entre o título parece se resumir aos dois, para Dennis vai ser uma arte conseguir administrar esta disputa sem ser muito intrusivo, o que nenhum dos dois pilotos vai aceitar. Mas, olhando para a tabela e sabendo da adoração da FIA em criar artificialmente um quadro de muita disputa, não me surpreenderia se o time prateado tomasse duas corridas de gancho antes das provas finais – uma punição ridícula e interesseira. Era o que bastaria para Räikkönen, Massa e Ferrari voltarem para a briga.
O segundo ponto é relativo à culpabilidade de Alonso no incidente do treino classificatório. A maior parte da mídia de todo o planeta achou que o espanhol retardou sua saída dos boxes de forma proposital. Mas a imprensa julga tudo do lado de fora, por isso fiquei curioso para ver o que os pilotos falariam sobre o assunto. Em todas as entrevistas, os volantes saíram pela tangente. Menos Nick Heidfeld. “Acho que foi de propósito sim. Ficar parado aquele tempo todo, depois que sobe o lollipop, não é normal, ainda mais sabendo que falta muito pouco para terminar o treino e que seu companheiro de equipe está logo atrás, esperando”, disse ele antes da prova. Pode-se argumentar de que sua opinião não é válida, já que ele foi beneficiado pela punição. O argumento vai logo por terra na afirmação que o alemão fez logo depois. “Para mim, foi péssimo. Nesta pista, na largada, é mais fácil o terceiro colocado ultrapassar o segundo do que o segundo ultrapassar o primeiro”. Foi exatamente o que aconteceu.
2 comentários:
Eu não acho o Massa um fenomeno das pistas, mas vendo a camera on-board, tanto ontem na classificação, como hoje na corrida, fiquei com a sensação que o carro estava inguiável.
Na minha visão a corrida foi bem normal, nada demais em se tratando de Hungria. Aliás, outra corrida como a do ano passado só de 20 em 20 anos.
Mas o que ficou muito feio foi o ambiente na McLaren - assunto já dissecado - e o filme queimado do Massa.
Sinceramente, penso que a atuação dele ficou muito aquém do mínimo aceitável. Quanto mais se formos considerá-lo como piloto de ponta e postulante ao título. Raikkonen, que já foi justamente qualificado como burocrático e sem brilho em algumas provas, fez muito melhor que o brasileiro em situação semelhante. Basta lembrar que em Mônaco o finlandês largou na rabeira e conseguiu pontuar.
Acredito que Massa já tem que pensar no ano que vem, pois se continuar nessa toada não duvido que a Ferrari escolha Raikkonen como primeiro piloto antes mesmo de começar o campeonato de 2008.
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