domingo, 30 de setembro de 2007

UM CAMPEÃO, UMA GRANDE CORRIDA

Bastou uma corrida em condições imprevisíveis para que a “disputa acirrada” pelo título, artificialmente criada por uma pontuação ridícula e por uma e outra decisão errônea de bastidor, virasse poeira. O campeão de 2007 tem um nome e um rosto: Lewis Hamilton, cara de menino, primeiro estreante a se tornar campeão do mundo desde, desde... desde Giuseppe Farina no primeiro Mundial da história! Mas o italiano tinha 43 anos de idade na época, corria há mais de duas décadas, então não conta.

Eu sei, a matemática deixa a disputa aberta para Fernando Alonso e até mesmo para Kimi Raikkonen, a 12 e 17 pontos do inglês na tabela, respectivamente. Mas, convenhamos, pela confiabilidade apresentada pela McLaren até agora (hoje, em Fuji, o primeiro abandono da equipe no ano – e devido a um acidente) e pela inteligência com que o inglês está conduzindo, não tem como ele perder este título. Um terceiro e um quarto lugares nas corridas que restam, caso seja Alonso quem as vença, basta para Hamilton.

A conquista premiaria o piloto que menos erros cometeu ao longo do ano. Hamilton, a rigor, não foi o autor de nenhum incidente que o prejudicasse sensivelmente e, com exceção do GP da Alemanha, conseguiu sempre minimizar o prejuízo causado por eventuais azares, como o pneu furado na Turquia ou a colisão de hoje com Robert Kubica. É o que se convencionou chamar de “sorte dos campeões”.

Até certo ponto, um título justíssimo. Alonso, que admitiu depender de ummilagre”, somou mais corridas apagadas (Bahrein, Turquia), abusou dos erros no Canadá e teve menos sucesso em reverter os azares sofridos, como na França e na Hungria. Aliás, hoje está claro, aquele incidente nos boxes de Hungaroring foi praticamente o momento decisivo no campeonato, quando o clima na McLaren rachou de vez e os corações prateados, quase que totalmente, passaram a bater por Hamilton.

Os pilotos da Ferrari, então, não mereciam mesmo terminar o campeonato em primeiro. Primeiro, pelos erros decisivos que cometeram. Massa perdeu o sinal no Canadá, errou na classificação na Hungria, ultrapassou sob bandeira amarela no Japão e, no meu ver, deixou o motor morrer antes da largada em Silverstone (mas dou-lhe o beneficio da dúvida, uma vez que a equipe assumiu o erro, sem explicar qual foi). Raikkonen bateu na classificação em Mônaco e foi opaco em algumas ocasiões, especialmente no começo do ano.

Em segundo lugar, porque a Ferrari conseguiu errar ainda mais que os pilotos. Para começar, este choro que estão fazendo no Japão por não terem sido informados da escolha obrigatória de um tipo de pneu é ridícula diante do erro de terem colocado a opção intermediária em seus carros. Naquelas condições, seus pilotos rodariam mais que carrosselMassa experimentou isso logo no começo. Junte-se a isso as quebras (excessivas para os padrões atuais da F-1) no carro e eventuais esquecimentos de abastecer o carro durante o treino classificatório e você importantes pontos jogados pela janela.

Tem gente que acha que a decadência da Ferrari tem a ver com a saída de Ross Brawn. Eu discordo: desde 2005, quando com um conjunto abaixo da crítica Michael Schumacher tirou leite de pedra para ficar em terceiro no Mundial, acho que era o alemão que durante todos estes anos fez do bom carro da Ferrari um bólido imbatível (no conjunto geral: motivação da equipe, desenvolvimento do equipamento, planejamento e execução de estratégias, etc). A perda de um nome deste calibre sempre reflete numa perda momentânea de performance, a F-1 tem milhões de exemplos disso: Jackie Stewart e a Tyrrell; Nelson Piquet e a Brabham; Ayrton Senna e a McLaren, etc.

O único porém do título de Lewis Hamilton, claro, é a dúvida que paira sobre como a McLaren desenvolveu tão eficientemente seu equipamento no primeiro quarto da temporada. Eles juram que foi pelo próprio esforço – e há quem acredite piamente nisto. Mas o crescimento se deu justamente no período de grande vazão de informações de Nigel Stepney a Mike Coughlan. Foi uma vantagem decisiva? Difícil apontar com precisão. Mas foi uma história que manchou a disputa nas pistas e, no fim, a pena ao transgressor acabou sendo a conquista do título mais importante. Confesso que desde 1994 não via uma temporada tão ruim para a Fórmula 1. Espero que Lewis feche a conta no próximo domingo e que possamos nos concentrar no ano que vem. Que ele venha logo!

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A corrida no Japão foi tão complicada que o resultado final saiu agora, seis horas depois da chegada. Vitantonio Liuzzi perdeu o oitavo lugar por ter ultrapassado Adrian Sutil sob bandeira amarela. Assim, o alemão conquista seu primeiro ponto da carreira. E a equipe, o primeiro e provavelmente o último, que sua venda para um milionário indiano foi sacramentada em Fuji.

Como esperado, pelo volume de água que caiu, foi uma corrida emocionante, a terceira do ano que merece este adjetivo. Poderia ter sido até mais, tivesse a direção de prova dado a largada logo no início. Mas não, o Safety Car ficou cozinhando na pista 20 voltas (quase um terço da distância) para liberar a disputa em condições até piores do que estavam meia hora antes. Com o volume de água levantado pelos carros, não sei até que pontomais risco de acidentes com os pilotos andando juntos atrás de um Mercedes-Benz de rua do que com eles disputando uma corrida e, naturalmente, se espalhando ao longo do circuito.

Porque, justiça seja feita, houve dois acidentes – e nenhum deles fora do normal na categoria: Alexander Wurz aquaplanou na freada da primeira curva, e bateu forte em Massa (que, milagrosamente, não teve o carro seriamente avariado) e Fernando Alonso aquaplanou e bateu antes do hairpin, numa imagem não captada pela transmissão da prova. Muito pouco para justificar tamanho atraso no início da ação.

Teve também uma batida ingênua, mas decisiva. Sebastian Vettel fazia a corrida de sua vida, a corrida que um Ayrton Senna fez em Mônaco 84, quando se distraiu por um segundo e bateu em Mark Webber, eliminando os dois pilotos da prova e acabando com os sonhos mais selvagens do dono da Red Bull, Didi Mateschitz, que veria suas duas equipes no pódio pela primeira vez. O alemãozinho desceu do carro e caiu no choro. Depois, com os olhos vermelhos, foi conversar com a tevê de seu país. “A culpa foi toda minha. Me distraí um segundo olhando o Hamilton indo todo à direita. Quando olhei para frente, estava entrando no carro do Mark. Isso não podia acontecer”, lamentou. Para piorar, recebeu como punição a perda de dez lugares no grid do GP da China. Deve largar em último.

Outra colisão foi a entre Robert Kubica e Lewis Hamilton. O inglês espalhou numa curva e o polonês, num otimismo exagerado, foi para uma porta que estava aberta e logo se fechou. Os dois rodaram, depois continuaram suas vidas. Mas os dirigentes resolveram dar uma punição para Kubica, da qual eu discordo. O melhor seria investigar a batida depois da prova, tanto que Hamilton praticamente isentou o colega na coletiva de imprensa. não há muitas ultrapassagens na F-1 atual. Com punições como esta, elas vão se extinguir de vez.

Mas em Fuji as ultrapassagens apareceram, e em profusão. Raikkonen fez uma bonita manobra por fora em David Coulthard e protagonizou uma eletrizante briga com Kovalainen no final. Final que ainda reservou uma bela queda-de-braço entre Kubica e Felipe Massa, que pela dinâmica das manobras lembrou o lendário duelo entre Gilles Villeneuve e René Arnoux no GP da França de 1979. Nota 10 – espero que os comissários não resolvam reprimir os dois por isso.

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Previsão de chuva para Xangai no domingo. Eu estou fazendo a dança indígena...

10 comentários:

Anônimo disse...

GOstei muito da corrida. Bastante movimentanda e com várias alternativas. DEveria ter uma nova regra na F1: Corrida de agora em diante só com chuva".

Unknown disse...

Pra variar sempre que não assito as corridas elas são boas..... Estou dando pulos de felicidade por sutil e por minha ex-jordan.......

Anônimo disse...

E aquela biografia do Hamilton acabou acertando ao afirmar que o título viria no Japão. Se não de direito, o inglês já pode ser considerado campeão de fato. E o que importa? Nesse campeonato das aspas, do asterisco, quem levar pouco importa.
Mas estou achando meio estranho o comportamento dos comissários da FIA em relação ao Hamilton. Quem esbarra nele é punido. Sei não, mas há um certo protecionismo em relação a ele.

Anônimo disse...

Impressionante como a chuva resolve qualquer parada em qualquer pista... largou uma aguinha, os pilotos se apavoram mas dão show! Bernie deveria reprogramar o calendário para as corridas acontecerem nas épocas mais chuvosas de cada país!

Speeder76 disse...

Também digo... acho que o "Tio" Max e o "Tio" Bernie deviam alterar as regras, para que os Grandes Prémios sejam obrigados a começar, pelo menos, com pista molhada!

Anônimo disse...

Essa temporada já era, mas o que choca e causa perplexidade é a proteção deslavada da FIA a esse hamilton, quem toca nele é punido, ele tem guincho a disposição, ele pode largar enviesado, ele pode costurar em largada, ele pode dar brake test debaixo de chuva, que a Federção inglesa não pune

Ridiculo, um titulo ridiculo se esse cara ganhar, tem contsar nos anuarios como "Campeão mundial da FIA" caso ganhe

Daniel Médici disse...

Ico, a disputa entre Kubica e Massa lembrou a disputa em Dijon entre Gilles e Arnoux tanto pra você quanto para o Galvão. Não sei se isso é bom ou ruim...

Fiz um comentário da corrida no meu blog (www.cadernosdoautomobilismo.blogspot.com). Quem se interessar, por favor, acesse e comente!

Anônimo disse...

Oi Ico,

boa analise porêm qunado vc disse

"O único porém do título de Lewis Hamilton, claro, é a dúvida que paira sobre como a McLaren desenvolveu tão eficientemente seu equipamento no primeiro quarto da temporada. Eles juram que foi pelo próprio esforço"

me bateu uma dúvida, foi a McLaren que melhorou muito ? ou foi a Ferrari que piorou depois do caso do assoalho móvel ?

Fiquei com a sensação que foi, talvez, uma mistura destes dois fatores, a Ferrari piorando sensivelmente depois da retirada do tal assoalho móvel, que deveria contribuir de maneira sensível no desempennho do carro e a McLaren subindo de produção com os dados da Ferrari, que talvez a tenha feito compreeder melhor os pneus bridgestone, fora o fato de um desenvolvimento natural do carro que haveria com ou sem o dossiê ferrarista.

Bem essa foi minhna interpretação de "gato mestre" hehehehe

abs

Filipe W

Ico (Luis Fernando Ramos) disse...

Filipe, vejo muita gente valorizando o tal do assoalho móvel da Ferrari, mas discordo que ele fosse esse diferencial que esse povo sugere. Nao vamos esquecer que nas três corridas seguintes ao GP da Austrália, a Ferrari ainda tinha o melhor carro, embora a McLaren estivesse chegando, entao a perda nao foi tao grande assim. A partir de Mônaco, Canadá e EUA que o salto da McLaren foi mais contundente. Ou seja, acho que a Ferrari perdeu menos sem o dispositivo do que a McLaren cresceu no mesmo período (lembrando tb que o carro da Ferrari estava sendo desenvolvido, ainda que num ritmo menor - talvez até por nao disporem de informacoes detalhadas do carro adversário).

Abs!

Anônimo disse...

Valeu Ico !

São tantas variáveis algumas conhecidas, outras nem tanto, que perscrutar esses meandros realmente é tarefa das mais complexas, pelo menos para mim, que sou só um curioso hehehe

abs

Filipe W