quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

MEIA-DÚZIA DE IDIOTAS

Foi mais ou menos assim que o diretor do Circuito da Catalunha definiu os autores das manifestações racistas contra Lewis Hamilton. Apesar da gravidade do ocorrido e da flagrante falha de segurança que permitiu o acesso às arquibancadas de “torcedoresvestidos de macaco (ou simulando uma família de negros e fazendo gestos de primatas), acredito que o ocorrido seja mesmo um fato isolado. Se a Alonsomania difundiu como nunca a Fórmula 1 na Espanha, há uma parte significativa de seus torcedores que ama sobretudo o esporte em si. Eles entendem os problemas internos da McLaren no ano passado como uma simples colisão de interesses e, acima de tudo, um mau gerenciamento de um time.

Existe sim por uma maioria que acha Alonso uma espécie de Deus irretocável que nunca falha, uma imagem mais ou menos parecida com a que pintaram no Brasil de Ayrton Senna em certo momento de sua carreira. Gente que, levadas pelo oba-oba da mídia, realmente pensa ser o espanhol invencível e que ações demoníacas e conspirações maquiavélicas podem derrotá-lo. Mas, mesmo entre eles, há apenas uma “meia-dúzia de idiotasque encaram o fato pelo teor do racismo. Do outro lado, há o sensacionalismo da horrível imprensa britânica, que através de jornais de quinta categoria com o “The Sun” tenta generalizar os espanhóis como um bando de selvagens racistas prontos para arrancar o escalpo dos seus inimigos. Besteira. Temos aqui de um dos públicos mais festivos e o que garantiu a maior assistência a um GP no ano passado.

No fundo, há duas falhas gritantes na história. Uma, da segurança do autódromo espanhol. Outra, das mídias espanhola e inglesa. Acompanhando de perto o Mundial do ano passado, pude observar que o clima de animosidade dentro da McLaren foi incrivelmente aumentado graças a uma guerra aberta entre os jornalistas dos dois países na qual, com raras e honrosas exceções, a objetividade foi completamente deixada de lado. Uma guerra que, obviamente, ficou impregnada em leitores e telespectadores.

Diferenças entre torcida e determinado piloto são comuns na Fórmula 1. Vale lembrar que Alan Jones também foi vaiado e ridicularizado no GP da Argentina de 1981, a corrida seguinte à polêmica vitória de Carlos Reutemann em Jacarepaguá, desobedecendo as ordens da Williams para deixar o australiano ultrapassá-lo. No Brasil, todos se lembram das piadas e dos xingamentos dirigidos a Alain Prost e, principalmente, Jean-Marie Balestre na corrida de 1990.

Infelizmente, o episódio isolado de Barcelona é um reflexo dos resquícios de uma Europa que reluta em aceitar uma identidade continentalou mesmo global – num momento em que suas fronteiras internas (físicas e econômicas) deixaram de existir. Volta e meia, ascende ao poder um partido reacionário, um político oportunista que sobe na carreira montado em cima de um discurso xenofóbico. Aconteceu aqui mesmo na Áustria anos atrás. Mas a mentira tem prazo de validade e, a história recente mostra, estes movimentos podem não morrer, mas vivem diminutos e seu crescimento eventual não passa de uma certa medida perfeitamente contornável.

Não acho que o episódio de Barcelona coloque em risco a realização das duas corridas espanholas deste ano. Espero apenas que sirva de lição para a administração da pista, as autoridades espanholas e as mídias citadas. Concordando com o que escreveu o colega Fábio Seixas em seu blog, a solução seria simples, colocando Hamilton e Alonso lado a lado, dando uma demonstração de respeito mútuo e condenando o episódio isolado. Mas, provavelmente, esta é uma ferida ainda não cicatrizada na vida dos dois.

6 comentários:

Anônimo disse...

A ignorância não tem fronteiras nem nacionalidade. Pertence ao homem que não quer evoluir.

Alessandra Alves disse...

O que o Júnior, da Sandy, está fazendo ao lado do Hamilton???

Thiago Bastos disse...

Essa foi a melhor análise dos fatos que li até agora, Ico.

O que mais me impressionou não foi nem a repercussão na mídia inglesa (já era esperado), mas sim a atenção que a mídia brasileira deu à mídia inglesa. Publicaram um monte de besteira dita por ingleses, quando eles não mereciam tanta atenção.

Os jornalistas brasileiros adoram dizer que os ingleses são sensacionalistas, mas quando algo acontece parece que todos publicam qualquer porcaria que o "The Sun" escreve. Isso também não é sensacionalismo?

PS: acho que não deveria ter crase em "o que garantiu à maior assistência a um GP".

Anônimo disse...

Infelizmente os espanhóis já tiveram outras situações de racismo noutros esportes, o Eto'o teve várias vezes para sair do campo devido ao comportamento dos adeptos. Mas a verdade é que não é só na Espanha.
Foi 1 momento infeliz que não é habitual, na Europa e no Resto do Mundo, no mundo do automobilismo mas em outros esportes não surpreendia infelizmente.
Ambas médias defendiam o seu piloto e as picardias entre eles os dois não ajudaram muito.
P.S. : Li 1 comentário na Espanha num jornal em que 1 pessoa dizia: "já que tinha pago o bilhete, tinha todo o direito de fazer o que lhe apetecer, cada 1 relaxa como pode" e outros comentários do estilo. Deste tipo de pensamentos, tenho pena

Anônimo disse...

Cara, ja estive na Espanha e tu te engana quando diz que isso é obra de uma "minoria"...tem muito racista lá sim. Na região da Catalunha então..Não é todo mundo, isso é verdade, mas que tem muito disso lá, isso sim, e olha que nem negro eu sou. Estou falando de coisas que ninguém me disse, eu vi.

politicamente_incorreto disse...

Caso de policia tratado com uma dimensão exagerada pela mídia ávida por intrigas, fuxicos e essa palhaçada de politicamente correto, a dimensão real do fato caberia unica e exclusivamente na expulsão dos rídiculos torcedores ( cinco gatos pingados) e o ostracismo, mas a imprensa puxa e vamos todos no oba-oba idiotizante do politicamente correto, isso no meu tempo era resolvido com uma boa surra e estamos conversados, era o que esses idiotas deveriam ter levado. Uma pergunta singela: quantos torcedores e expectadores haviam no momento no local? quantos representavam percentualmente? ora se representam 10% ou mais dos torcedores é preocupante, agora se representam o que parece apenas cinco retardados racistas o melhor tratamento é o ostracismo e não usar isso como um palanque para aproveitadores de plantão, nós precisamos é de integração racial, do jeito que a coisa está indo vai mal, ninguém é culpado porque é branco ou é tadinho por ser negro, cada um é o que é , e deve ser isso que deve ser primeirizado na sociedade e não essa proliferação de " miss beleza negra" conjunto "raça negra" ( que prá mim soa tão racista quanto se chamasse "raça ariana" ou "raça caucasiana") cotas para negros etc, aplaudo leis anti racistas e seu extrito cumprimento, e acabou por aí!!!! o resto é sensacionalismo barato e demagogia. como disse magistralmente um geneticista, duas unos não são diferentes só porque foram pintadas de cores diferentes.
( antes que alguém queira me "enforcar" na "cruz" cabe informar que a minha esposa é mulata e a cor, preferencia sexual ou religiosa para mim não diz absolutamente nada, valorizemos o individuo)