quinta-feira, 20 de março de 2008

PASSAPORTE - SEPANG

“Olha, você não tem idéia do calor que faz na Malásia”, é o que me diziam nas coberturas da Fórmula 1 pela Europa toda vez que eu reclamava das altas temperaturas. Sofrendo com o calor opressivo do verão na Hungria, por exemplo, e acostumado com a temperatura de uma boa temporada de férias no nordeste brasileiro, eu achava que só podia ser exagero dos meus colegas.

Achava. Basta sair do terminal do moderníssimo Kuala Lumpur International Airport (projetado pelo mesmo Herrmann Tilke que fez o circuito – e que inclui um “aerotrem” que lembra promessa de político paulistano) para que o céu caia sobre sua cabeça como uma bigorna. A temperatura é até suportável, mas a alta umidade te deixa como um maratonista cambaleante no quilômetro 35, tornando as menores distâncias um enorme desafio. “E olha que este ano nem está tão quente”, reforçam. Fico imaginando se estivesse.

No fundo, o fim de semana em Melbourne teve temperaturas até mais altas, chegando a 39°C. Mas a umidade do ar era radicalmente oposta, em torno de 10% contra mais de 80% aqui. A partir de agora, preferirei ficar perdido no deserto do Saara do que no meio da Floresta Amazônica.

Mas não é só na umidade relativa do ar – e nem nas oito horas de vôo ou três horas no fuso horário – que observamos a óbvia e brutal diferença entre Melbourne e a região de Sepang. A metrópole australiana tem dinheiro de sobra para crescer com a segunda melhor qualidade de vida do planeta, de acordo com estudo feito por não lembro qual insituição no ano passado. Já o interior malaio ainda está aprendendo o que é dinheiro, para depois se preocupar com qualidade de vida.

Para quem faz a cobertura da Fórmula 1, o trabalho acaba dificultado pela evidente falta de infra-estrutura: a Internet entra em colapso facilmente (por isso que está difícil atualizar o blog), as linhas telefônicas demoram horas para serem instaladas, o transporte oferecido não atende às nossas necessidades, enfim, a lista é longa. Mas qualquer esboço de reclamação esbarra na clara visão do esforço que cada malaio está empregando no seu trabalho. Todos que encontrei aqui são atenciosos e prestativos, embora não necessariamente eficientes.

Esta atitude do povo tem um motivo claro. A Malásia, ao mesmo tempo em que expande sua economia no setor industrial de borracha, petróleo, produtos têxteis e eletrônicos, é um dos países que mais investiu em turismo nos últimos anos em todo o mundo. Inteligentes, seus governantes apostaram nesta indústria e incutiram no povo a consciência da importância do trato fino com o turista – algo, aliás, que deveria ser muito melhor explorado no Brasil.

No saldo final, não há muito a falar mal da Malásia. Ainda não conheci Kuala Lumpur, mas mesmo as atrações para quem não gosta de cidades grandes são infindáveis. E o povo, a maior riqueza de um país, é muito bacana. Por isto, recomendo a todos que visitem este país um dia.

Mas venham preparados. Porque vocês não têm idéia do calor que faz na Malásia...

3 comentários:

João Carlos Viana disse...

Ico

Te aconselho a conhecer Quixadá, no meio do sertão do Ceará. Minha família é de lá e a temperatura já atingiu 45 graus ao meio-dia e 35 à 8 da manhã...
Você não sabe o calor que faz em Quixadá!

Anônimo disse...

Sem querer competir com o João Carlos em termos de temperatura máxima te digo, melhor vir fazer um estágio aqui em Porto Alegre no verão, temperatura até que amena, em torno de 36°C, mas cm uma umidade relativa de 80% ou mais... Na época que o forum mundial era aqui soube de pessoas acustumadas ao calor do deserto sofrerem com POA... Pelo clima Kuala Lumpur poderia ser uma bairro daqui...

Att.
Natal Antonini

Alexandre Carvalho disse...

Quixadá não é exclusividade quando se trata de calor acima dos 40 graus. Tendo nascido no Rio de Janeiro (hoje vivo em São Paulo), 45 graus eu tiro de letra.