DESCENDO A RIPA

Eu não vi o episódio ocorrido na tarde de ontem. Mas sei que, aqui na Espanha, o clima que reina quando Fernando Alonso aparece se assemelha a uma Beatlemania. Pelo jeito, a coisa foi feia. Porque na entrevista coletiva de hoje, ao invés de responder as perguntas normalmente como de costume, o piloto local abriu a sessão com um depoimento muito forte. Alonso bateu sem dó.

- Saímos para dar autógrafos como sempre, da mesma maneira que fizemos nas quatro primeiras corridas do ano. Lamentavelmente, aqui não pude ver os fãs e nem eles puderam me ver pela quantidade de fotógrafos com pouca educação. Depois que fizeram algumas fotos, as pessoas começaram a gritar ‘fora, fora, fora’ para que eles pudessem entrar e iniciarmos a sessão de autógrafos, mas eles não saíram. Tentei seguir assinando, pouco a pouco, entre uma avalanche de flashs e lentes, para dar ao menos um pouco de felicidade para algumas pessoas que estavam esperando há muito tempo. E, no momento em que elas já não conseguiam abrir caminho, me aproximei de três pessoas em cadeira de rodas. Quando estava autografando para elas, veio um fotógrafo e subiu na roda da cadeira de um menino para poder ter um ângulo melhor. Repito que isto não acontece em nenhum país. Nesse momento, parei de dar autógrafos, pedi que o sujeito descesse e ficasse a pelo menos dez metros daqueles meninos. E foi esta a foto que saiu hoje em todos os jornais espanhóis, mas nenhum estrangeiro.

Portanto, se as pessoas vêm aqui para tentar me colocar contra os torcedores, uma imprensa que quer deixá-los enojados e raivosos, é preciso pelo menos não ser tão valente na hora de escrever à noite diante do computador. Antes disso, tem de vir aqui, perguntar, para saber o que aconteceu, e comentar só depois de tomar conhecimento disso. Bom, depois voltei aos boxes, depois de muitos empurrões, socos na minha mão, óculos quebrados e coisas assim – sempre vindas dos fotógrafos e não dos torcedores como se tentou vender hoje. Depois de esperar 20 minutos tranqüilamente no motorhome, até que esses mal-educados fossem para casa, voltei a sair e fiquei meia hora com os torcedores dando autógrafos e pude finalmente curtir este momento.

É importante esclarecer isso. Não porque eu me importe com o que se escreve, eu não ganho para isso e sim para pilotar um carro de corridas. Mas dá pena que se venda dessa maneira lamentável nosso esforço de sair para dar autógrafos e fazer os espanhóis felizes.

Forte, muito forte. Talvez até pintado com as cores de um certo exagero. Mas algo que ilustra bem o tamanho do interesse que o piloto desperta por aqui, incomparavelmente maior ao de Rafael Nadal, por exemplo – já me explicaram que é porque um espanhol bem sucedido no tênis não é novidade; na Fórmula 1, sim.

E a crítica à mídia é muito válida. Porque nada justifica o desrespeito aos outros apenas pela pressão de se ter o melhor enfoque da notícia. E mostra como, no jornalismo, uma meia-verdade e uma mentira são exatamente a mesma coisa.

Depois de duas sessões de treinos completamente inconclusivas, Alonso realizou a melhor manobra do final de semana até agora. Bravo!