segunda-feira, 21 de setembro de 2009

EYE IN THE SKY

O veredicto do Conselho Mundial da FIA anunciado hoje estava escancarado nos últimos dias. A Renault captou a mensagem que o que estava em jogo era a cabeça de Flavio Briatore e tomou todas as precauções para escapar ilesa do caso. Conseguiu: a pena com sursis pode ser interpretada como um mero puxão de orelha e o comunicado da equipe indica seu comprometimento em prosseguir na Fórmula 1, o que atende também aos interesses da FIA e de Bernie Ecclestone. E uma possível multa acabou aparecendo no veredicto como uma “oferta do time em pagar os custos da investigação e uma contribuição significativa para o trabalho de segurança da FIA” (e parênteses são necessários: trabalho que é a principal plataforma de Jean Todt, o candidato situacionista de Max Mosley). Por menos (mas não muito menos), a McLaren teve que desembolsar 100 milhões.


Saiu barato para a equipe de Enstone, que não podemos ignorar que se trata de uma reincidência: em 6 de dezembro de 2007, a Renault havia sido punida por quebrar o tal do artigo 151c. Foi numa conseqüência do chamado “escândalo da espionagem”, quando a McLaren fez vir à luz o fato que um ex-funcionário seu, Phil Mackereth, levou desenhos confidenciais à Renault. A investigação provou que quatro engenheiros do time franco-inglês tiveram acesso ao material. Incrivelmente, o veredicto do Conselho Mundial na época declarou a equipe culpada, mas não aplicou nenhuma pena por achar que o episódionão afetou o campeonato”.


Flavio Briatore foi banido do esporte indefinidamente. Na minha conta, a única punição condizente com a gravidade do caso. Como o presidente sabe que um inimigo é ainda mais perigoso se apenas ferido, tratou também de afundar a empresa de management do italiano. Fernando Alonso, Mark Webber, Heikki Kovalainen, o próprio Nelsinho Piquet e Romain Grosjean são pilotos que atuam (ou atuavam) no Mundial de 2009 com carreiras (até onde se tem notícia) gerenciadas pelo escritório de Flavio Briatore. Terão um argumento legal incontestável para encerrar esses laços. A maioria, talvez todos, levantou as mãos aos céus por isso.


Hoje eu conversei com Lucas di Grassi, que não tem nenhum vínculo com a empresa de Briatore, apenas com a Renault. Numa troca simultânea de impressões, ele acabou levantando uma possibilidade realista. “Às vezes, ele (Briatore) pode continuar ganhando o seu dinheiro com o gerenciamento de pilotos sem ter o seu nome na frente. Ele pode criar alguns mecanismos, abrir uma série de empresas e sua participação acaba escondida atrás delas”, disse. Faz sentido. Se não entende nada do lado técnico da F-1, Briatore é um empresário espertalhão e deve conhecer esses atalhos burocráticos como a palma de sua enrugada mão. Com Max aposentado, Briatore poderia trabalhar com relativo sossego. De qualquer forma, para um cara egocêntrico como ele, sair escarrado dos holofotes deve estar doendo bastante.


Pat Symonds ganhou cinco anos de suspensão do automobilismo. Foi também uma punição merecida. Como discutimos aqui, quem vislumbrou a possibilidade da farsa e bolou sua execução foi ele. É um engenheiro competente e uma pessoa afável nas entrevistas, mas que pisou feio na bola. Mas eu duvido que sua pena seja cumprida na prática. Para um termo de comparação, Nigel Stepney (o do escândalo da espionagem) foi condenado ao limbo por cerca de um ano e meio, mas acabou arrumando um emprego longe da Fórmula 1. Symonds, pelo seu expertise, consegue fácil passar estes cinco anos trabalhando como consultor na vasta indústria de automobilismo na Inglaterra. E, estando longe do paddock da categoria, não acontecerá nada com ele.


O veredicto da FIA coloca ainda Nelsinho Piquet como um dos participantes da conspiração, mas reafirma sua imunidade pela colaboração no carro. O brasileiro encerra o dia de hoje como um vencedor, mas um que não tem muito a comemorar. Embora tenha jogado uma luz de vítima sobre si, sabe muito bem que muitos de seus fãs e a quase totalidade dos que não gostavam dele jamais o perdoarão pelo episódio e por sua postura a partir dele. Será interessante ouvir sua opinião numa entrevista direta. Hoje, ele soltou um comunicado no qual se diz aliviado pelo fim das investigações, pede desculpas para todos os envolvidos com a Fórmula 1 (incluindo os torcedores) e reafirma seu desejo de permanecer na categoria. Depois de ver o clima no paddock em Monza e as reações dos últimos dias, parece que vai ficar no desejo mesmo. De qualquer jeito, pela gravidade do ocorrido, ter saído imune já foi um belo negócio.


Acima de tudo isso, Max Mosley joga todos os conceitos de Direito no lixo em mais um julgamento orquestrado, enquanto canta um velho sucesso do Alan Parsons Project: “I am the maker of rules/dealing with fools/I can cheat you blind”.

28 comentários:

Ron Groo disse...

Pois é, a FIA (Fernando International Aid) tem pontaria de caça F17, derrubou apenas uma cabeça no meio de tantas... (O Symonds não conta, foi nesta por que quis, até imunidade lhe ofereceram)

E que bela lembrança... O engenheiro de som do Dark Side of the moon... E a banda dele era até legal tambem.

Arthur Simões disse...

Com certeza o Briatore não vai largar a F1.

Um cara que trabalha com isso (pelo que sei) desde 1988 não vai se afastar totalmente desse mundo das corridas.Ainda mais da maneira repentina como ocorreu esse afastamento...

Quanto ao Nelsinho.
Se antes desse episódio,suas chances de correr em 2010 já eram quase nulas.Depois então...

Musicaça!!
Uma das mais tocadas no meu mp3.

Abraço Ico!

Torquemada disse...

Ridícula, insuficiente, especialmente no que diz respeito aos dois pilotos, mas absolutamente previsível a decisão da FIA, limitando-se a bater em dois cachorros mortos, poupando o resto. Como é que os caras aproveitam a denuncia para detonar o Briatore e o Symonds, mas ao mesmo tempo fazem ouvido de mercador quando o Piquet diz claramente que o Alonso sabia de tudo, nem é preciso explicar... eu só queria entenderrr! Mas acho ótimo esse tipo de coisa, pois tem muito brasuka americanista ou muito estrangeirista juramentado que acha que é só aqui que impera a bandalheira, que é só aqui que as coisas terminam em pizza. É, não! Não conheço o mundo inteiro, mas apenas alguns poucos países, o suficiente pra saber que a pizza pode ser encontrada em qualquer parte do mundo, seja na forma tradicional, seja como prática comportamental das mais execráveis que se conhecem.

FranciscoCarlos disse...

Também não achei muito legal esse julgamento. O que aconteceu foi grave demais para uma pena com sursis.
Quanto ao Nelsinho acredito que ele ainda vai voltar porque seu sobrenome, apesar de manchado, ainda atrai publicidade. Sem contar que quando se fala em dinheiro, a memória fica fraca. Se conseguir, de algum modo, fundos suficientes, uma dessas pequenas novatas equipes pode acabar cedendo.

Luiz G disse...

Eu achei justa, quase toda a punição.

-Briatore está fora do esporte.(Sendo tão egocêntrico, será que vai querer viver por baixo dos panos, "colhendo migalhas"?)

-Pat Symonds está fora do esporte por algum tempo e sujou seu currículo.

-Piquet está sujo e comprometeu sua carreira.(Será que vai para a Stock Car?)

-Alonso sai limpo. Isto foi errado já que o espanhol se envolveu em sua segunda tramóia, mas está deixando a equipe.

Ou seja, a Renault afundou...mas vai continuar! Achei bom, pois não creio que seja justo demitirem um monte de empregados que nada tem a ver com a história.

...Mas, pergunto ao Ico:
-Será que este novo escândalo de Alonso não compromete sua ida para a Ferrari?
Será que um bom piloto que sempre se mete em tramóias é interessante para a imagem da Ferrari?

Anselmo Coyote disse...

"Acima de tudo isso, Max Mosley joga todos os conceitos de Direito no lixo em mais um julgamento orquestrado...".

Ico,
Só uma questão técnica. A delação premiada só pode ser praticada se houver um instituto legal que a conceba e autorize.

Não sou defensor do Max de jeito nenhum. Mas esta questão é técnica demais para ser tratada assim.

Ao lançar mão desse expediente legal (delação premiada) ele agiu com estrita observância da legislação própria que rege a matéria e obedecendo a todos os conceitos de Direito.

Sei que muitos vão desejar me execrar, mas repito: isso é técnico. Não representa o que eu penso nem o que eu quero.

Abs.

Anônimo disse...

Eu torço para q Piquet Jr consiga retornar, e não duvido de q haja chances disso acontecer dadas as condições da F1 atual. Pilotos ultra novatos, equipes idem a partir do ano q vem, vagas q se abrem em equipes decadentes, proibição de testes durante a temporada... não são poucas as circunstâncias q poderão lhe servir de bóia salva-vidas.
Ele tomou uma decisão estúpida com E maiúsculo, mas isso só vemos assim porque estamos com a bunda confortávelmnte instalada na poltrona de casa.
Não parece ser dos mais velozes, mas tem habilidade o suficiente para ser atrativo de se ver guiando carros de corrida, F1 ou não. Vi boas corridas dele em GTs e protótipos, não é nenhuma lesma nem uma besta (apesar do episódio em questão sugerir o contrário).
Quanto ao respeito a padrões éticos-desportivos, já tem pelo menos duas décadas (Senna X Prost) que na F1 isso é elegantemente, solenemente e hipócritamente ignorado. E digo isso porque acompanho a categoria, como espectador, já há 37 anos.
Quiséramos ele não tivesse ido para uma equipe grande (assim considerada), como companheiro do bicampeão mundial reinante - mas isso foi imposição do pai dele, que afirmou não permitir que o filho entrasse na F1 pela porta dos fundos. Daí foi parar nas mãos de Briatore e deu nisso.

Fernando Amaral

Fleetmaster disse...

Será que agora finalmente poderemos assistir as nossas corridas de automóveis em pz, sem nenhum escândalo ?

Caíque Pereira. disse...

Ico,
A Delação Premiada é um instituto do Direito, seja ele Romano ou Saxonico. O Mosley não pode ser culpado por isso, já que apenas se utilizou de uma possibilidade legal dentro da lei.

Ron Penis disse...

Uma palhaçada. O assunto merecia uma bomba atomica na cabeça de todos os envolvidos e a FIA achou que um caramurú de 5 tiros estaria de bom tamanho. A impunidade só serve para provar que a F-1 é lugar ideal para o Kid Vigarista. Ele só perde no desenho animado. Na F-1 ele levanta um campeonato atras do outro.

Torquemada disse...

A delação premiada é um lance pesado e sério. É tão novinha que foi trazida para cá em 1603 junto com as Ordenações Filipinas, que por sua vez era de origem espanhola mas acabou chegando aqui com sotaque lusitano, dizendo: “Como se perdoará aos malfeitores, que derem outros à prisão”. Permaneceu em vigor por um tempo, desapareceu e retornou em 1.990 junto com a lei de CRIMES HEDIONDOS, e assim mesmo porque havia muita vítima de seqüestro (o Abilio Diniz, por exemplo, foi seqüestrado em 89), de modo que prometer liberdade para um vagabundo fdp por incrível que pareça fazia sentido, desde que isso levasse a salvar a vida de um inocente. O mesmo raciocínio se aplica à máfia e ao terrorismo político na Itália, onde a barra era pesadíssima e a delação premiada foi usada a torto e, literalmente, a direito. Agora, catso isso tudo tem a ver com a trapaça de merda levada a efeito na F-1 por dois ou três picaretas ?! A delação premiada sempre esteve intimamente ligada a situações sérias e de real gravidade, e não a assuntos levianos e de natureza meramente esportiva como esse. Se alguém quiser dar uma explicação para a pífia decisão da FIA em relação a este ou aquele, que faça em função das suas respectivas simpatias pessoais, pois em termos de direito, direto na acepção da palavra, a decisão da FIA é simplesmente uma vergonha, verdadeiro subnitrato de pó de traque. Abraços a todos.

Caito disse...

Se fosse no Brasil o NAP já estaria empregado. É que aqui quando alguém faz uma cagada, se for mulher é convida para ficar pelada na PlayBoy, se for homem vira celebridade e vai correr na Formula G. G de gay! Não é de Gran Turismo, não!

Anselmo Coyote disse...

Ico e amigos,

Direito é regra social obrigatória e suas leis podem ser para toda a sociedade (Constituição Federal, leis complementares, leis, decretos etc), para parte dela (Constituições Estaduais, leis estaduais, idem, idem..).

Pode ser também para determinados grupos específicos, como, p. exemplo, os concursos, os regulamentos de empresa, as competições esportivas etc.

Estes grupos tem seu regulamento próprio, concebido em função das necessidades de regulação de suas relações, que em nada obriga o cidadão comum.

Um ato banal na sociedade pode ser faltoso num esporte e vice-versa. Por exemplo, uma trombada de pessoas numa calçada apertada não infringe a lei social. Já, no basquete, é falta, segundo o seu regulamento específico.

A recíproca é verdadeira. Um soco dado nas fuças de um cidadão na rua abrindo-lhe uma brecha no supercílio é crime de lesão corporal. No boxe é atitude normal e aplaudida.

Não se cogita regulamentar sequestros e terrorismo que são crimes contra a humanidade numa mera competição esportiva, muito menos na F1, evidentemente. Então a delação premiada prevista em seu regulamento relaciona-se aos ilícitos esportivos.

Para a F1 a tramóia levada a efeito é grave e era de difícil apuração se alguém envolvido não ensinasse o caminho das pedras aos investigadores e à FIA, assim como é difícil encontrar um cativeiro e desmantelar uma quadrilha na sociedade em geral. Tanto é assim que o Nelson Piquet contou a história à FIA ainda em 2008 e não teve como investigar.

Então a delação premiada faz todo o sentido em qualquer lugar onde haja dificuldade em desvendar uma ação delituosa e o desmantelamento do grupo autor.

O que não faz sentido, data maxima venia, é pretender que as regras feitas para a sociedade em geral sejam as mesmas para um grupo restrito envolvido em outras espécies de relações entre si, como o esporte, por exemplo.

Se prevalecesse esse princípio todos os boxeadores estariam presos por lesões corporais gravíssimas, a velocidade máxima na F1 seria de no máximo 110km/h e as pistas estariam cheias de radares, quebra-molas, semáforos e guardas.

Outra coisa muitíssimo importante para quem ingressa num grupo social regulamentado é saber que se está obrigado às regras do jogo, antes dele começar.

Isso importa dizer que se o regulamento da FIA, certo ou errado, admite objetivamente a delação premiada, nenhum princípio de Direito sustenta a sua não-aplicação ou aplicação subjetiva.

As pessoas "a-morais" olham as regras antes do jogo começar, não as aceitam, e por isso não participam.

As "morais" aceitam as regras, para o bem ou para o mal, e participam do jogo.

As "imorais" lêem as regras, concordam, entram e participam. Porém, no momento da imposição das leis negam aplicabilidade àquelas que são contrárias aos seus interesses.

A delação premiada pode ser retirada do regulamento da FIA para casos futuros. Jamais para casos passados e consumados.

Isto se chama Princípio da Reserva Legal e é o pilar de toda sociedade ou grupo democraticamente organizado. Por isso é aplicável a qualquer ramo do Direito.

Esse princípio não é nenhum bicho de sete cabeças. Ao contrário, é tão primário que qualquer calouro de qualquer curso de Direito, por mais ordinário que seja, dele tem conhecimento amplo.

Abs.

Ah... minha preferência na F1? Ok.
Kimi Räikkönen (com todas as tremas, claro) e Nelson A. Piquet. E se o Nelsinho não voltar o Hamilton vai ocupar seu lugar na minha preferência.

Abs.

Fernando Mayer disse...

Mais uma vez Parabens!!!


A música é lindissima eu adoro Alan Parsons Project(é claro que a minha favorita é Time), e eu não sou a Mãe Dinah mas o que aconteceu já estava meio que previsto; Só não entra na minha cabeça o porque do Alonso sempre se safar das maracutaias nas quais ele está envolvido. Eu não tenho absolutamente nada contra o cara. Muito pelo contrario ele é o melhor piloto do grid sem dúvida, mas não precisamos de um piloto que seja lembrado por episódios lamentáveis como estes escândalos. Se o resultado do julgamento foi justo? Não. Salvo a exclusão do Briatore e a punição do Symonds o NAP e o Alonso se safarm com direito até a poder ter futuramente uma vaga em um outro carro e a Renault deveria, na minha opinião pagar uma multa por em um primeiro momento ter ficado do lado e abrigar debaixo do seu teto um trambiqueiro do quilate do Briatore.

Abs

Caíque Pereira. disse...

Anselmo,

Nada mais a escrever. Parabéns!!!

. disse...

Parabens Alselmo. Voce falou, falou deu uma de Muluf e nçao disse coisa alguma. Pau nos Piquets

Torquemada disse...

A delação premiada é condenada, é execrada por todos os juristas de peso, aqui e no exterior, exatamente por ser imoral, anti-ética e incompatível com os mais comezinhos princípios de direito. Os poucos criminalistas favoráveis a ela concordam que é imoral e absurda, mas na prática a justificam como instrumento útil na resolução de casos de extrema gravidade, de modo que utilizar o mesmo critério na solução de questões de natureza esportiva acaba consagrando a imoralidade e a falta de ética. Para melhor compreensão do assunto recomendo a leitura do mestre Damásio de Jesus:

“a polêmica em torno da "delação premiada", em razão de seu absurdo ético, nunca deixará de existir. Se, de um lado, representa importante mecanismo de combate à criminalidade organizada, de outro, parte traduz-se num incentivo legal à traição.
Esse incentivo à traição, patrocinado pelo estado, faz surgir questionamentos sobre quais os limites dessa negociação que o Estado faz com o Acusado, pois é muito criticada essa defesa de deslizes éticos em prol de avanços no combate à criminalidade.
Quando a sociedade oferece ao delator criminoso a possibilidade de obter sua pena extinta, mediante a "traição" de seus companheiros na empreitada criminosa, está institucionalizando a traição. “


Como se vê, a delação premiada é, realmente, uma aberração jurídica que tem enorme dificuldade para se compatibilizar com qualquer ordenamento jurídico do mundo civilizado, razão pela qual, mesmo repudiada, execrada, a sua utilização só se justificaria em casos extremos, de real gravidade, e não em questões levianas, de natureza esportiva ou assuntos de somenos importância.

Daí o porquê é merecedora de aplauso a conclusão do Luis Fernando:

“Acima de tudo isso, Max Mosley joga todos os conceitos de Direito no lixo em mais um julgamento orquestrado, enquanto canta um velho sucesso do Alan Parsons Project: “I am the maker of rules/dealing with fools/I can cheat you blind”.

Perfeito! O Max Mosley jogou, sim, os mais elementares conceitos de Direito no lixo, e a conclusão final é a de que não é preciso ser jurista nem tampouco criminalista para entender, para "sacar" - como fez o Ico - que algo de errado, de muito errado aconteceu. Basta o bom senso!


Em tempo: Se o Ico voltar a este post seria interessante esclarecer se existe, de fato, no regulamento da FIA, previsão expressa para a aplicação dessa imoralidade. Francamente eu gostaria de ver isso por escrito. Não que eu duvide, mas para saber em que termos estaria vazada a aberração. Abraços

Anselmo Coyote disse...

Torquemada,

Eu disse lá atrás: isso é técnico. Não representa o que eu penso nem o que eu quero.".

Minha opinião sobre a delação premiada não cabe discutir aqui e não tem nada a ver com o que escrevi.

Eu defendi a legalidade. Ninguém pode ignorar a lei e julgar de acordo com a cor dos olhos ou preferências pessoais.

Quem não concorda com isso está querendo tratamento privilegiado.

Somente as equipes, os pilotos e as respectivas associações, podem tirar a delação do regulamento.

Se o fizerem eu vou bater palmas, porque será uma atitude madura, de gente que sabe o que quer, e o quer com igualdade para todos.

Enquanto isso não acontece a lei que valeu para o Alonso vale para o Nelsinho e para qualquer outro.

Acho que fui claro o suficiente.

Damásio Evangelista de Jesus. Conheço muito bem. Já estive com ele inúmeras vezes. Jurista de primeira qualidade, mas não é besta.

Prender um cliente dele que esteja no programa de delação premiada é comprar briga da grossa.

Abs.

Caíque Pereira. disse...

Anselmo,

Parabéns de novo. Lei é lei e é para ser cumprida. Se está errada, que se altere antes, caso contrário NADA vale a não ser a lei previamente estabelecida e de todos conhecida.

Em tempo, minha formação acadêmica é engenharia e administração de empresas, mas respeito a lei.

Torquemada disse...

Anselmo:

Minha opinião sobre a delação premiada não cabe discutir aqui e não tem nada a ver com o que escrevi.
Eu defendi a legalidade. Ninguém pode ignorar a lei e julgar de acordo com a cor dos olhos ou preferências pessoais.


1 – Não estou discutindo a sua opinião sobre a delação premiada, mas o conceito geral que se tem sobre ela e a opinião de alguns juristas a respeito. De outro lado, como não sou o dono da verdade, não tenho absolutamente nada a opor se alguém quiser discutir ou até criticar a minha opinião, já que estamos numa democracia.

2 – Defendeu que legalidade? Você tem aí um link ou qualquer caminho que conduza ao regulamento da FIA onde conste a previsão para se aplicar a delação premiada nas questões que chegarem até o Conselho?! Se tiver, desde já agradeço a indicação. Se não tiver, volto a perguntar: Que legalidade, que lei ou regulamento você estaria defendendo???

3 – Já que tive que voltar a este post - e de minha parte provavelmente será a última, pois as pessoas que não estão nem aí com o Direito já devem estar com o saco cheio desse papo – aqui vai mais uma luzinha sobre o assunto:

"Desço, pois, aos infernos onde se encontram Judas Iscariotes, Domingos Fernandes Calabar e Joaquim Silvério dos Reis para dizer alto e bom som que delação é coisa suja, muito suja, campeã das coisas mais reles e indignas desse mundo e todo delator é a escória maior da sociedade, pouco importando se se trate de delação legal ou não, E, ainda que legal, a delação continua a ser imoral, já que o Direito e a Moral não se confundem, embora o ideal do Direito é que suas normas estejam todas imbuídas do mais profundo caráter moral e ético. Mas nós, juristas, sabemos que não é bem assim..."

Câmara, Edson de Arruda - Delação Premiada: moral ou imoral, avanço ou retrocesso? - Revista Prática Jurídica IV, nº 45, pg 48, dez/2005


Como diria o Faustão: O loco, meu!!! todo delator é a escória maior da sociedade, pouco importando se se trate de delação legal ou não, E, ainda que legal, a delação continua a ser imoral

Abraços

. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anselmo Coyote disse...

Torquemada,

Eu já havia até encerrado esse assunto quando disse "Acho que fui claro o suficiente.".

Eu não tenho legitimidade para questionar uma decisão da FIA se os seus próprios e legítimos membros andam em projéteis a 300km/h ou os que investem bilhões de euros não a questionaram.

Também não cogito que estas pessoas investiriam suas vidas e bilhões de euros para um maluco qualquer inventar ou tirar leis da própria cartola e jogar esses investimentos pelos ares. Se eles aceitaram uma vez e agora aceitaram de novo é porque acham que assim está bom para todos. Acordo é lei entre as partes.

Eu conheço os regulamentos da FIA tanto quanto vc e afirmo que ele garante igualdade de tratamento a todos os seus membros.

Desta forma a delação premiada conferida a um (Alonso) transforma-se imediatamente em direito do outro (Nelsinho) pois estão todos sujeitos ao mesmo regramento.

Isso é analogia jurídica (aplicar a casos iguais a mesma solução), é ordenamento jurídico, é lei.

O que refoge a isso é baderna, é Justiça caolha que enxerga a uns e não enxerga a outros.

Se vc quer conhecer o Código Esportivo Internacional, basta clicar no link abaixo.

Abs.

Ah... minha opinião sobre delação premiada? Igual à sua. Acho uma m.rda. Mas a bandidagem morre de medo dela.

Quando ela acabar deverá ser para todos. Aí eu vou tomar um drink.

Abs.

Dê uma olhada no artigo 192 e no Capítulo XIII.


http://argent.fia.com/web/fia-public.nsf/0F87165CBD2D8281C125751400389A28/$FILE/CSI_apres_AGNov08FR.pdf

Anônimo disse...

Quem não conhece o velho Coyote do F1AROUND onde ele arregaça o jogo como mó paga pau dos Piquets até pode acreditar que ele é Raikonen, fala serio Mané

Ico (Luis Fernando Ramos) disse...

Pessoal, a discussao sobre a questao da delacao premiada está ótima e em um bom nível. Agora, por favor, nao ataque pessoalmente quem tem opiniao contrária a sua. Aqui, o que vale é o conteúdo, nao precisamos de rótulos.

Só para deixar claro, minha crítica no post é também à delacao premiada, mas o foco principal está nos interesses políticos por trás do veredicto. Max considera a ofensa cometida pela Renault como muito mais grave da feita pela McLaren (q eu tb acho feia demais). Mas nada de multade 100 milhoes, apenas um puxao de orelha. Isto que nao acho bom para o esporte.

Abs e nao deixem o nível cair!

Anselmo Coyote disse...

Ico e amigos,

Torquemada,
Excelente discutir com vc. Alto nível, idéias claras e acima de tudo muita combatividade com muitíssimo respeito.

Como não somos nós que damos a palavra final, a solução para o caso, considero que somos vencedores, porque pelo menos pudemos nos expor abertamente e dar nossas opiniões.

Foi gratificante, embora, como vc mesmo ressaltou, podemos ter cansado o Ico e alguns colegas, aos quais me desculpo nesta oportunidade.

Abs.

Torquemada disse...

Senhores:

Eu gostaria de deixar claro que a minha revolta ou indignação é contra a delação premiada e não contra esta ou aquela pessoa, já que a delação é algo "sujo, muito sujo" como bem lembrou o jurista que transcrevi acima, de modo que se eu tivesse que justificar a atitude do Nelsinho jamais recorreria à imundice da delação premiada. Não mesmo, e acredito que esteja ai o ponto onde eu e o Anselmo divergimos.

Se alguém disser que os pilotos entram jovens e inexperientes demais num mundo onde só existem feras e onde, por via das dúvidas, se anda o tempo todo com o traseiro encostado na parede, eu concordo em parte, até porque o Nelsão o deve ter advertido um milhão de vezes sobre as pedras que ele ia encontrar pelo caminho.

Se tentarem justificar, como o próprio Nelsinho tenta fazer, dizendo-se debilitado emocional ou psicologicamente, parece-se que aí ele acaba caindo no perfil grosseiro e vulgar traçado pelo Briatore, segundo o qual ele seria um sujeito mimado, incompetente, frágil, com traços de homossexualidade, etc.

Nessas, resta o que para defender a permanência do Nelsinho da F1, senão a minha preferência pessoal, o meu particular entendimento (na verdade não é o caso), de que ele é, sim, um piloto competente e até então com uma retrospectiva vencedora ?!

No mais, se a famigerada delação foi usada em outras ocasiões e em relação a outras pessoas - não consta que tenha sido aplicada desta vez ao Alonso, pois preferiram acreditar que ele realmente não sabia de nada, isto é, a menos que se esclareça, amanhã ou depois, que a tal testemunha X seja ele mesmo - isso tudo evidentemente não a torna mais limpa ou purificada. Nada a ver! Continua sendo um expediente sujo e imoral, seja ela considerada sob o aspecto legal ou não.


Finalmente, mil perdões, mas não tenho do que me desculpar, pois acredito que o puxão de orelhas do Ico se dirige à claque daqui e dali e não a mim ou ao Anselmo, a quem em momento algum ofendi ou desrespeitei, nem tampouco fui por ele ofendido ou desrespeitado.

Abraços

Torquemada disse...

Em tempo: "Si esqueci" de deixar claro que a redundância "Finalmente, mil perdões, mas não tenho do que me desculpar" é um chiste, foi proposital. Valeu!

Lucas Carioli disse...

Brilhante texto e brilhante música, adoro Alan Parsons Project.