Paramim, a história desse show de retorno dos Mutantes começou com uma década de antecedência. Maisprecisamenteem 26 de março de 1995. Enquanto aguardávamos na sala de imprensa de Interlagos por uma decisão da FIAquanto ao resultado da prova (por uma questãooperacionalquanto ao combustível, as equipes Benetton e Williams estavam sendo investigadas), meueditor Castilho de Andrade me chamou a uma mesaparameapresentar a umsujeitoalegre e bonachão. “Garotinho, esseaqui é o Dinho, assessor de imprensa da Marlboro. Ele é irmão do Reginaldo Leme”. Não demorei maisquemeiosegundoparaunir os pontos. “Você é o Dinho Leme, baterista dos Mutantes”, perguntei. Diante do sorrisoafirmativo, saquei a câmerafotográfica e registrei uma imagem ao lado do ídolo.
Numa dessas voltasque o mundo dá, algunsanosdepois fui trabalhar no escritório de assessoria dele, que passou de ídoloparacolega e, acima de tudo, umamigo. As oportunidadesemque a gente se engajava numa conversasobre a banda eram raras, mas curtidas. A impressãoqueeutinha é que a músicaeraumcapítulo encerrado na vida dele. Num armárioemsuasala havia algumas peçasque lembravam dos tempos de Mutantes: umquadro deles tocando na televisão, a tabla usada na gravação de “O A e o Z”, uma caixa de bateria furada. Tocando uma segundacarreira, Dinho não tocava maisbaterianemporhobby. Foi porissoqueme espantei quando, no início de 2006, me disseram queele andava praticando com uma bateriaeletrônica no escritório, porque a banda voltaria comumshowem Londres. “E está tocando muito”, me avisaram. Eujá estava morando em Viena, fiz umrápidoestudo dos custos de viagem e liguei paraele. “Dinho, me arruma umingressoqueeu vou vervocês tocarem”. Ele ficou animadíssimo.
No diaanterior ao show, fui ao hotelonde a banda estava hospedada. Fui apresentado a Sérgio Dias e, depois a Arnaldo Baptista, estava curtindo muitoaquilo, me sentia comoemum daqueles documentários dos grandesastrosqueeuvia na adolescência, como “Let It Be” ou “The Song Remains The Same”. O queme chamou a atenção é que dava parasentir a expectativa estampada no rosto de cadamembro da bandaque passava. A volta dos Mutantes despertou uminteresseenorme, vieram jornalistas e críticosaté dos Estados Unidos. Foi sóem Londres queeles puderam sentir o significado do passoque estavam dando, e cadaum foi buscarsuamaneira de digeriraquilo.
Dinho optou porbater uma conversacomigo no jantar. Entre algumas garrafas de vinho, deixou claroque estava umpouconervosocom a proximidade do grandemomento. Percebi que, paraele, euera o únicoponto de referênciaali ligado à sua “segundacarreiraprofissional”. Nãome sentia muito qualificado paraopinar, mas fiz o meumelhor. Falei paraeleque a ansiedadeeranatural e todos da banda sentiam o mesmo. E soltei algumas pérolas do tipo “é sóimaginarquevocês estão num daqueles ensaios na Cantareira quevocês faziam no início dos anos 70”. Deu resultado, acho, porqueele deu umrespiro aliviado na saída do restaurante. “Pô, bicho, valeu, tô me sentindo bemmaistranqüilodepois da nossaconversa”. “Foi o vinho”, respondi rindo, enquanto ia para a outradireçãopegar o metrôpara o meuhotel.
No diaseguinte, no Barbican Hall, a expectativa deles passou para o público. Poucas vezes vi tantaanimação na aglomeraçãoque antecede umshow. As luzes se apagaram, a banda entrou no palco ao som de uma gravaçãocom a aberturatriunfal de “DomQuixote”. Segui-se a hora e meiamais alucinante que se poderiaimaginar. Talvezpelaprópriaansiedade, elespraticamente emendaram uma músicaemcima da outra, semmuitapausapara a platéiarespirar. Eraumsucessoatrás do outro, executado por uma banda afiadíssima. Sim, Rita Lee não estava lá, mas a convidada Zélia Duncan cumpriu bem o seupapel, semquererimitarousubstituir, masapenas agregando sons ao resultadofinal. Arnaldo Baptista carregava as marcas do tempo, às vezes errava o tempo, massuapresença trouxe uma cargaemocionalindispensávelpara a noite. E o Dinho, quenão tocava bateria a décadas, estava lácomaquelepesoquesóele consegue darpara uma batida de rock n’ roll (mais pesado queele, só o John Bonham). O amigo era o mesmo de sempre mas, depois de uma década, era a primeiravezqueeuviao ídoloquetinhaconhecido de ouvido. Valeu a espera, foi uma noite mágica. Os Mutantes estavam de volta!
Lembro-me de uma festa de lançamento do anuario do RL (acho que voce já tinha viajado) que teve show deles, fiquei curtindo lá com o Panda e a Alê. Nossa, eu chorava que nem criança. Fui criado ao som deles, jamais imaginei vê-los ao vivo, ainda mais tão perto! Alê e eu ficamos na beira do palco, cantando tudo.
Dinho Leme é meu referencial no Brasil em termos de baqueta, e sim... Mais pesado que ele só Bonzo Bohan.
Como eu queria ter visto ao menos o show que fizeram em uma das viradas culturais ai, que não me lembro. Só pra poder gritar a plenos pulmões : "Mambo, mambo!"
Aproveitando, como você gosta muito de Led Zeppelin: já viu essa antiga reportagem sobre o Jimmy Page em Lençois-BA? http://www.oesquema.com.br/trabalhosujo/2010/01/22/jimmy-page-em-lencois-na-bahia-via-jornal-nacional.htm
Será que vou conseguir comentar depois de ler isso? Bom, comigo foi uma história semelhante, porém mais resumida. Eu SEMPRE gostei muito de Mutantes, porém, nunca tinha ligado o Dinho Leme, a banda. Foi então que em uma Truck em Londrina, em 2006 eu soube que ele era o ex-mutante, meu coração quase saltou pela boca... resumindo, fiquei mais fã ainda, pude ir a 4 shows, já fotografei 2 e já jantei muitas vezes com o Dinho e a maioria das vezes, o papo era Mutantes. Dinho Leme, um grande amigo, um ídolo, um gênio.
Ico, meu caro, você é um sujeito de sorte. Legal que você compartilha essas histórias com a gente.
Caminhante Noturno é uma das minhas preferidas deles. Agora, é interessante a postura de reverência da Zelia Duncan, e a de seriedade de todo mundo.
É uma formação menos brincalhona (a idade faz isso com a gente, né?), mas gostei dessa formação dos Mutantes, e a versão ao vivo ficou muito boa mesmo!
O disco novo ficou legal? Não ouvi/comprei ainda...
abraços a todos!
PS - um off topic: estava na argentina, e os jornais davam como certa a contratação do "Pechito" Lopez pela USF1 desde sábado.
(Não tive tempo de acessar a rede ontem, e por isso não perguntei a vcs se tinham alguma notícia disso.)
Mas achei interessante é que na própria notícia vinha um quadro com a relação dos principais responsáveis pela grana que o cara levantou pra ficar com a vaga (quais empresas e inclusive quais setores do governo), e os valores de cada aporte.
Achei legal essa info, e me deu curiosidade de saber a lista de quem banca/patrocina os brasileiros...
Ico eu estava no barbican nesse dia e foi incrível mesmo. Mt bacana esse texto seu! Só conhecia os irmãos Batista e o Liminha mas falei com o dinho e ele foi muito bacana. Embora eu tenha algumas criticas a respeito dessa volta dos mutantes ao mesmo tempo acho super bacana poder ver esses caras tocando ao vivo. Essa geração é realmente especial.
Na pauta desse blog, discussõessobre a Fórmula 1 emtodos os seusaspectos: histórias do passado, análises do presente, bastidores da cobertura e curiosidades. E muitamúsicaparatemperar essa mistura de razão com a paixãoque o automobilismo desperta.
Repórter de Fórmula 1 do Grupo Bandeirantes de Rádio, do diário Lance e da revista Racing. Apreciador de boa música, viagens e velocidade. Guitarrista amador, corredor de rua e piloto virtual.
10 comentários:
Lembro-me de uma festa de lançamento do anuario do RL (acho que voce já tinha viajado) que teve show deles, fiquei curtindo lá com o Panda e a Alê.
Nossa, eu chorava que nem criança. Fui criado ao som deles, jamais imaginei vê-los ao vivo, ainda mais tão perto! Alê e eu ficamos na beira do palco, cantando tudo.
Inesquecível!
Dinho Leme é meu referencial no Brasil em termos de baqueta, e sim... Mais pesado que ele só Bonzo Bohan.
Como eu queria ter visto ao menos o show que fizeram em uma das viradas culturais ai, que não me lembro. Só pra poder gritar a plenos pulmões : "Mambo, mambo!"
Cara, se com toda essa história esse show foi só o de número oito na tua lista, mal posso esperar pra saber quais serão os próximos.
Aproveitando, como você gosta muito de Led Zeppelin: já viu essa antiga reportagem sobre o Jimmy Page em Lençois-BA?
http://www.oesquema.com.br/trabalhosujo/2010/01/22/jimmy-page-em-lencois-na-bahia-via-jornal-nacional.htm
Será que vou conseguir comentar depois de ler isso? Bom, comigo foi uma história semelhante, porém mais resumida. Eu SEMPRE gostei muito de Mutantes, porém, nunca tinha ligado o Dinho Leme, a banda. Foi então que em uma Truck em Londrina, em 2006 eu soube que ele era o ex-mutante, meu coração quase saltou pela boca... resumindo, fiquei mais fã ainda, pude ir a 4 shows, já fotografei 2 e já jantei muitas vezes com o Dinho e a maioria das vezes, o papo era Mutantes. Dinho Leme, um grande amigo, um ídolo, um gênio.
Muito legal!!!
Essa é a história mais legal dos teus shows até agora, Ico!
Parabéns! Vc é um cara de sorte! :-D
Ico, meu caro, você é um sujeito de sorte. Legal que você compartilha essas histórias com a gente.
Caminhante Noturno é uma das minhas preferidas deles. Agora, é interessante a postura de reverência da Zelia Duncan, e a de seriedade de todo mundo.
É uma formação menos brincalhona (a idade faz isso com a gente, né?), mas gostei dessa formação dos Mutantes, e a versão ao vivo ficou muito boa mesmo!
O disco novo ficou legal? Não ouvi/comprei ainda...
abraços a todos!
PS - um off topic: estava na argentina, e os jornais davam como certa a contratação do "Pechito" Lopez pela USF1 desde sábado.
(Não tive tempo de acessar a rede ontem, e por isso não perguntei a vcs se tinham alguma notícia disso.)
Mas achei interessante é que na própria notícia vinha um quadro com a relação dos principais responsáveis pela grana que o cara levantou pra ficar com a vaga (quais empresas e inclusive quais setores do governo), e os valores de cada aporte.
Achei legal essa info, e me deu curiosidade de saber a lista de quem banca/patrocina os brasileiros...
Thom, perdi esse show (tinha mesmo viajado), legal q vc estava lá e curtiu!
Thiago, vi essa matéria sim - e mais, uma amiga minha estava no tal bar quando Page chegou e deu uma canja. Inveja total!
Grande Zé Mário, imagino que barato deve ter sido para vc ficar tirando fotos do show. E o Dinho é mesmo um grande cara!
Abs!
Ico eu estava no barbican nesse dia e foi incrível mesmo. Mt bacana esse texto seu! Só conhecia os irmãos Batista e o Liminha mas falei com o dinho e ele foi muito bacana.
Embora eu tenha algumas criticas a respeito dessa volta dos mutantes ao mesmo tempo acho super bacana poder ver esses caras tocando ao vivo. Essa geração é realmente especial.
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