terça-feira, 5 de janeiro de 2010

UMA VITÓRIA ESPERADA. E PERIGOSA.

A reversão do banimento de Flavio Briatore da Fórmula 1 era algo esperado desde que a FIA divulgou o veredicto com sua condenação. Os argumentos eram tão inconsistentes quanto as penas aplicadas. A discrepância entre o que foi determinado para Briatore e Pat Symonds e a anistia de Nelsinho Piquet e o puxão de orelha da Renault carimbou o selo de uma decisão política no que deveria ter sido uma punição exemplar para todos os envolvidos, incluindo a retirada da vitória daquele maldito GP de Cingapura das mãos de Fernando Alonso – que, com a maior cara-de-pau, disse um ano depois que o triunfo “não perdeu nenhum valor” depois que a falcatrua veio à tona. Na sua sede por vingança sobre um antigo inimigo, Max Mosley esqueceu todos os preceitos jurídicos e quis passar por cima dos próprios estatutos da FIA. Qualquer advogado espertalhão (e a maioria o é) conseguiria reverter a decisão. Foi o que aconteceu hoje, na justiça francesa.

Para a categoria, é a pior maneira possível de começar o ano. Não pelo inevitável retorno de uma figura tão parasita e sem qualquer compromisso com o esporte como Briatore – acho que isso vai demorar um pouco para acontecer. Mas pela triste contatação que uma canalhice tão grande como a que foi promovida naquela corrida termina agora sem ninguém punido – um sinal negativo para qualquer patrocinador em potencial, num momento em que a F-1 está mais precisando deles. Era uma chance de ouro para a categoria contestar quem acha que ali vale tudo quando se atinge o sucesso. Chance jogada no lixo. Quero ver agora como Jean Todt vai descascar esse abacaxi que seu antecessor lhe deixou.

Também vejo que o caso de hoje abre um precedente perigosíssimo para o esporte em geral. O patético remendo costurado pelo Conselho Mundial de Max Mosley foi desfeito e isto enterrou a soberania dos tribunais desportivos. Eles podiam errar, muitas vezes eram absolutamente tendenciosos, mas davam a palavra final e estabeleciam um limite para o andamento normal das competições esportivas. Agora, não vai faltar gente do calibre de Briatore avacalhando tudo ao levar questões para a justiça comum, arrastando por meses (ou mesmo anos) o resultado de um campeonato.

No final das contas, Briatore vai voltar a causar estragos no paddock com seu estilo “tropa de choque”, Symonds ficará como consultor de alguma equipe da categoria e Nelsinho... bem, ele dificilmente volta à Fórmula 1, mas isso tem mais a ver porque não mostrou a mesma capacidade de ser bem-sucedido que os outros dois vértices deste triste triângulo de Cingapura mostraram ao longo de suas carreiras. É o fantasma do muro retornando com tudo.

8 comentários:

Daniel Médici disse...

E quando pensávamos estar livres de Max Mosley, eis que ainda sofremos as consequências de suas politicagens.

Luiz G disse...

É uma pena que Briatore possa voltar. Ele devia focar outras coisas na vida e deixar a F1 em paz.

Nelsinho...Não fará muita falta. Será lembrado como nosso Michael Andretti na F1. Filho de um grande campeão, conquistou um pódio, mas mal conseguia manter o carro na pista.

Espero que ele consiga ir para a Indy.

Caíque Pereira. disse...

Uma pena ter-se a possibilidade de se voltar a ver este Senhor na mureta de box comandando novas trapaças.

Thiago Wilvert disse...

Ico, eu ainda sou um que defende que o GP de Singapura 08 deveria ser anulado. Se o resultado foi manipulado, ele não deve ser considerado.

Espero que o Briatore nao volte, mas conhecendo as artemanhas desse cara, tem grande chance. Tem dinheiro e contatos, o que mais ele precisa?

Sacanagem...

Abraço!

Moacir Zandonai disse...

É, meu tio traficante e meu primo deputado já diziam: "nós, escória, sempre podemos contar com a Justiça" para nos livrar a cara... Vai uma pedrinha aí?"

Anselmo Coyote disse...

Ico,

Permita-me - vou discordar de algumas coisas. Imagino sua decepção e de todos os apreciadores da F1, mas não podemos viajar.

"Qualquer advogado espertalhão (e a maioria o é) conseguiria reverter a decisão."

A FIA fez a maior trapalhada, violando o princípio jurídico mais básico - não observou o due process of law. A FIA fez tudo errado e quis que ao final tudo desse certo. Isso é ilógico. Não adianta culpar advogados e a Justiça, os únicos que fizeram o certo. Ou preferiríamos outro julgamento político? Eu não. Odeio política.

"Fernando Alonso – que, com a maior cara-de-pau, disse (...) que o triunfo 'não perdeu nenhum valor'".

Vc está pegando leve. O Alonso é um reincidente em falcatruas. Um safado, no pior sentido do termo. Ele sabia de tudo. Vamos dar nomes aos bois.

Corrida é matemática, é física. São cálculos minuciosamente elaborados. Uma corrida resolve-se em milésimos de segundo.

O Alonso largou em 15o lugar com meia gota de gasolina no tanque.

Isso não existe!!! É como escalar um time com 8 goleiros e 3 zagueiros numa final de campeonato onde vc tem que ganhar o jogo de 5 a 0.

A gasolina do Alonso era suficiente para passar 2 carros, dar 10 voltas, ir aos boxes abastecer e voltar para o último lugar.

Essa estratégia só poderia dar certo se o Nelsinho batesse no exato momento e no lugar rigorosamente escolhido e entrasse o SC. Foi o que aconteceu.

A todos, absolutamente todos, devia ter sido dado o direito de defesa e todos tinha que ter sido punidos - Alonso, Briatore, Pat e Nelsinho.

A Justiça sempre vai existir para corrigir distorções políticas em pseudo-julgamentos intra-muros. Não acredito que vc seja contra isso.

Abs.

PS.: eu tbém queria que o Briatore e o Alonso se ferrassem, mas da forma certa, com transparência, à luz do dia e não numa farsa.

Abs.

Unknown disse...

Ico, nao concoredo muito com o que disse sobre abrir um antecedente de recorrer à justiça normal para reverter uma decisão esportiva...

infelizmente me parece que o que aconteceu foi o exato contrario: foi a FIA que fez questao de abrir um antecedente onde ela quis tomar decisões que competeriam à justicia normal, caçando a "licença" de alguem que não tem licença pois é apenas um manager e não um esportivo...



...e ao fazer isso esqueceu de tomar qualquer decisão esportiva contra os que realmente devia (e tinha poder para faze-lo) ter punido: piquet, alonso, renault

Mauricio disse...

Olá amigo, eu olhei para o seu blog e é uma informação muito completa, saudações e boas-vindas a visita.