TV BLOGO – OS SHOWS DA MINHA VIDA (3 – PAUL McCARTNEY)

Há exatos vinte anos, o Brasil viveu uma onda atrasada de “Beatlemania”. Foi quando Paul McCartney esteve no país para duas apresentações no Maracanã. A primeira, na sexta-feira, contou com um público menor e muita chuva. A segunda, no sábado, contou com um público de 184 mil pessoas, o que na época era um novo recorde de audiência para o show de um único artista. Nas semanas anteriores, Paul e os Beatles tomaram conta do noticiário, das rádios e das conversas. Dias muito especiais para um garoto que, como eu, aprendeu a ouvir e apreciar música graças a esta banda.

Me lembro da viagem de ônibus ao Rio na tarde de sexta, devorando cada linha das revistas especiais que infestavam as bancas de jornais. De dormir no quarto dos fundos do apartamento de um parente, ouvindo boletins no rádio da primeira apresentação que acontecia. De passear no sábado ensolarado pela praia e de ir cedo ao estádio, sendo surpreendido com o som cristalino da passagem de som, com Paul brincando ao tocar “C Moon”.

E me lembro do show, de cada momento dele. Da expectativa da abertura dos portões, da multidão cantando vários sucessos dos Beatles esperando o tempo passar. Das luzes se apagando, do frisson com os primeiros acordes de “Figure of Eight” que abriu o show. Da explosão no momento da introdução de “Got to Get You Into my Life”, a primeira canção dos Beatles da noite. Foi a senha para uma deliciosa viagem nostálgica, que teve o canto uníssono em “Yesterday”, meus olhos cheios d’água em “Eleanor Rigby”, o piano que subia em “The Fool on the Hill” e o ponto alto esperado mas não menos emocionante de “Hey Jude”.

Ao final (apropriadíssimo) de “The End”, me sentia nas nuvens, levado por alguma mágica misteriosa. Quando mergulhei na obra dos “Fab Four”, a partir dos seis anos de idade, jamais imaginaria que seria tão bom viver de perto um “Maracanã de Beatles”, como algum jornal bem titulou no dia seguinte.