sexta-feira, 20 de agosto de 2010

SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE MOTORES

Uma pergunta muito comum feita pelos ouvintes do “Credencial” é sobre o desenvolvimento dos motores na Fórmula 1: como pode acontecer isso se as unidades são homologadas e “congeladas” pela FIA? O tema ganhou ainda mais importância neste ano com a chegada da Cosworth, que fornece unidades para quatro equipes incluindo três que possuem pilotos brasileiros. Vale a pena tantar solucionar estas dúvidas.

Em primeiro lugar, vale citar que a FIA permite mudanças nos motores se há problemas de confiabilidade. No caso das unidades Ferrari, que estouravam feito pipoca nos carros da Sauber no início da temporada, foi permitida a mudança da peça no interior das unidades que causava o problema. Isto não implicou em nenhum ganho de performance, apenas solucionou as quebras.

No caso da Cosworth, foi aberta uma exceção para resolver uma questão delicada para uma fornecedora que ficou três anos longe da categoria. Quando uma unidade chegava a seu terceiro final de semana de uso, era registrada uma queda de potência muito grande. É uma questão de performance, mas que as autoridades estudaram e permitiram a mudança dos cilindros internos para resolvê-la. No fundo, os motores da marca não ganharam potência com isso, a medida apenas evitou esta perda excessiva que os outros modelos, mais desenvolvidos, não sofrem.


Com exceção deste quadro de confiabilidade, as unidades permanecem realmente congeladas. Mas o trabalho para ganhar potência, não. E ele pode ser feito de algumas formas:


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Mapeamento: é a programação da eletrônica que trabalha com o motor, algo que varia a cada pista e permite, com um bom acerto, uma performance máxima em todas as faixas de rotação.

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Entradas e saídas de ar: refrigerar o motor na dose certa também é a garantia de extrair o máximo dele. Por isso os times fazem ao longo da temporada diversas mudanças nas entradas de ar no carro e também no escapamento, tudo visando o ganho de uns cavalinhos a mais.

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Combustíveis e lubrificantes: se não se pode mexer dentro do motor, o jeito é trabalhar duro nos líquidos que passam por lá. O uso do automobilismo como desenvolvimento de combustíveis é secular e não há plataforma melhor para otimizar a composição da gasolina que a Fórmula 1. O mesmo vale para os óleos lubrificantes, que cuidam do funcionamento perfeito de cada peça que monta este complicado coração de um carro de corrida.

Quem fizer um bom trabalho nestas três áreas ganha sim em potência, e isto explica as diferenças entre unidades de diferentes marcas num regulamento que engessa tanto o trabalho com os motores.

8 comentários:

Stênio Campos disse...

Ico, não entendi a parte sobre as "entradas e saídas de ar". :-)

PS: aqui pra mim parece grego, literalmente falando.


Stênio Campos
Ouça o Buteco Racing]
www.butecoracing.blig.com.br

Lucas Domakoski disse...

AA parte das entradas e saídas de ar está em grego ou é impressão minha?
Afora isso, o texto está ótimo!

Elcir Campos disse...

é o tipo de letra, substitua por arial no word. Veja
Entradas e saídas de ar: refrigerar o motor na dose certa também é a garantia de extrair o máximo dele. Por isso os times fazem ao longo da temporada diversas mudanças nas entradas de ar no carro e também no escapamento, tudo visando o ganho de uns cavalinhos a mais

Stênio Campos disse...

Ico, a respeito desse assunto, postei em uma lista de discussão da qual participo, a seguinte msg em 12/07/2010:


Vc pode mexer em qq coisa que não seja estrutural do motor, mesmo que haja um ganho de potência.
Por exemplo, pode mexer no ponto do motor, o que pode dar ganho de potência, mas isso não é estrutural.
Outro exemplo, não pode mexer na relação curso x diâmetro (pistões), nem nos materiais empregados, nem nos sistemas de rolamentos/bronzinas (se for o caso), pois isso altera a estrutura do motor que foi homologada pela FIA. Parece que a única excessão é se for provado pelo fabricante que há um problema de durabilidade, então a parte afetada pode ser corrigida. Esse foi o caso da Cosworth e da Ferrari. A primeira apresentava degradação elevada do motor ao longo de sua vida útil. A segunda apresentava quebras contínuas de pistão. Os dois fabricantes tiveram permissão para corrigir os problemas, sob supervisão da FIA.

Isso que estou falando é de 'orelha', ainda não consultei o regulamento. Vou pesquisar no site da FIA sobre esse regulamento e vejo se posto aqui. Isso que estou falando é de 'orelha', mas acho que é mais coerente do que permitir que um fabricante possa fazer alterações e outros não.

Depois, fui pesquisar no regulamento da F1 sobre isso e o resultado foi o que segue, em email para a mesma lista no mesmo dia:

http://argent.fia.com/web/fia-public.nsf/65EE8F15945D0941C12576C7005308AE/$FILE/1-2010%20SPORTING%20REGULATIONS%2023-06-2010.pdf

Apendix 4

De acordo com o item 1.i, os motores têm que ter sido homologados até 31/03/2008 ou, no caso do Cosworth ou qq outro fabricante que não tenha participado dos outros anos, que tenha sido apresentado para homologação até às vésperas do primeiro evento do ano de 2010 (veja o asterísco no texto original e item 1.iii).

Após homologado, NADA pode ser alterado no que diz respeito a estrutura e desenho dos motores e/ou peças que tiverem sido homologadas, com as excessões citadas nos itens 1.i.a / b / c.


Portanto, em nenhum ponto foi dito que os motores Cosworth podem sofrer alterações ou melhorias. Tudo o que pode ser feito no Cosworth também pode ser feito nos outros motores.


Abraços;

Stenio Campos
Ouça o Buteco Racing
www.butecoracing.blig.com.br

Atenágoras Souza Silva disse...

Muito obrigado, Ico! Foi deveras esclarecedor, ao mesmo tempo que breve!
Quanto ao camarada que perguntou sobre a influência do resfriamento na potência dos motores através das entradas e saídas de ar, acho que isto está relacionado com a segunda lei da Termodinâmica.
Obviamente, o ciclo de um motor não é de Carnott, mas se lembrar da fórmula, quanto menor a temperatura do sistema no fim do cilo, maior o rendimento, e portanto a potência.
Para os ciclos que não são de Carnott, quanto menor o calor que sai do sistema no fim de cada ciclo, maior o rendimento e a potência também, visto que este também depende da temperatura.

Um grande abraço do fundo do meu coração vermelho de outubro de 1917,
Atenágoras Souza Silva.

Ico (Luis Fernando Ramos) disse...

Desculpe pelo problema de formatação que houve no post para os usuários do Explorer - algo que não consegui resolver, aliás.

Minha dica, de amigo mesmo, só pode ser uma: baixe um outro browser melhor e apague esse mico do seu micro. Suas nevagadas pela Internet ficarão bem melhores! :-)

Abs!

Renan do Couto disse...

Ico, tem uma parte que está em algum idioma que usa o alfabeto cirílico. (uso o Chrome)

Mas é esclarecedor o post. Esse "desenvolvimento" permitido pela FIA é boa para nivelar a competição e não dar uma vantagem ou desvantagem muito grandes para alguém.

Abraço

Fleetmaster disse...

Bacana e esclarecedro este posT!