sábado, 25 de setembro de 2010

FALA WHITMARSH

Confesso que, no início do ano, esperava que fosse na McLaren que estourasse os primeiros conflitos internos dentre as duplas de pilotos das equipes grandes. O tempo mostrou que não foi este o caso: Lewis Hamilton e Jenson Button seguem na briga pelo título sem interferências do comando do time. É o que me explicou Martin Whitmarsh nessa entrevista exclusiva. O engenheiro que fala à vontade nas suas longas respostas, trouxe um retrato claro de como é a convivência de dois campeões mundiais compatriotas numa mesma equipe. O que você acha da filosofia? Leia e opine!

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Luis Fernando Ramos: Como a McLaren está trabalhando nesta reta final do campeonato? Ainda há o que desenvolver no MP4-25?
MARTIN WHITMARSH: Sim, ainda há o que ser desenvolvido. Temos um novo pacote de asa dianteira, novos dutos de freio e componentes aerodinâmicos. Estamos sendo agressivos nisso. Red Bull tem uma nova asa traseira aqui, teremos uma nova na Coréia. Partes importantes do carro continuam sendo desenvolvidas. Este campeonato está sendo épico e temos cinco pilotos separados por menos de uma vitória a cinco corridas do final. O título vai ficar para a equipe que desenvolve mais o carro e faz menos erros. E para o piloto que exibe a melhor forma e erra menos. É simples assim. Se quisermos vencer, somos obrigados a continuar um desenvolvimento agressivo. E é algo normal, para falar verdade. Na maioria dos anos a McLaren está na briga e trabalhando duro até o final. Temos novidades aqui, mais novidades na Coréia e vamos trabalhar para estarmos no topo de nossa performance até Abu Dhabi.

LFR: Christian Horner sinalizou ontem que a principal adversária da Red Bull nesta reta final é a Ferrari. Você concorda?
MW: Eu não sei o que foi dito na Red Bull sobre a Ferrari. O fato é que as três equipes que estão na briga tem seus pilotos separados por uma margem muito pequena. Acho que este equilíbrio vai se manter até o final, vai ser uma disputa ferrenha e isto é ótimo: é por isso que estamos aqui e gostamos desse desafio.


LFR: Mas o fato de vocês manteram aberta a briga entre seus pilotos não pode tirar pontos importantes numa disputa tão acirrada?
MW: Eu reconheço que acabamos prejudicando por isso em algumas ocasiões. Como em 2007. Se tivéssemos aplicado a mais sutil das ordens de equipe a favor de um dos nossos pilotos, seríamos campeões e todo mundo sabe disso. Não é legal perder o campeonato por um ponto. Entretanto, é assim que gostamos de competir. Jenson Button só se juntou à nossa equipe porque sabia que teria chances iguais de lutar com Lewis Hamilton pelo título. Historicamente é como gostamos de conduzir a equipe, é a nossa filosofia.

LFR: Você se impressionou pela maneira com que Jenson Button se adaptou rapidamente à equipe?
MW: Não tanto como as pessoas de fora, mas é preciso dar um crédito ao Jenson. Ele veio como campeão do mundo e depois de muitos anos na mesma organização. E mesmo assim chegou de mente aberta. Ele é uma pessoa muito inteligente e madura. Ele rapidamente encantou a equipe – e acho que duas vitórias no início do ano o ajudaram a ficar mais à vontade.


LFR: Mas não era de se esperar algum conflito entre eles?
MW: Sua relação com Lewis é muito clara, eles têm muito respeito mútuo. São estilos diferentes: Lewis é mais agressivo nas ultrapassagens e Jenson, mais comedido. Mas acho que um está aprendendo com o outro. Eles querem derrotar um ao outro, já se ultrapassaram e até se tocaram na pista. Tiveram azares nas últimas corridas. Para entender melhor: em Spa, Lewis ganhou e Jenson saiu da prova depois de ser atingido por outro piloto. Quando fomos tirar a foto da equipe tive de rir porque Jenson, mesmo tendo de lidar com a decepção de ter sido tirado da prova, disse a Lewis que iria derrotá-lo no final do ano mesmo tendo 35 pontos atrás, tudo feito de forma bem-humorada. Mas Jenson pensa isso mesmo, quer vencer o título desse ano, assim como Lewis, e vão disputar de forma ferrenha para conseguí-lo.

LFR: Você precisa interferir muito para manter essa relação sadia?
MW: Não, nada, eles se viram entre eles. São pessoas com pés-no-chão e se dão bem. Em janeiro, tínhamos dois pilotos ingleses, o que aconteceu mais por acaso do que por planejamento. Então me sentei com ambos e expliquei que, não importa o que acontecesse, eles nunca leriam nos tablóides que há harmonia na McLaren porque isso não é notícia. Os jornais querem publicar é que há conflito interno na equipe. Até tentaram fazer isso no início, mas depois perceberam que eles trabalham bem juntos. Pode até ser que isso mude, se eles chegarem na última corrida em primeiro e segundo com um ponto os separando. Pode dar tudo errado. Eu acho que eles vão brigar de forma dura, mas fazer a coisa certa. Só saberemos isso na última corrida do ano.

(Foto McLaren)

2 comentários:

Érico disse...

Eu tiro o chapéu para ele. O cara literalmente vive um batismo de fogo na F1 e tem se saído muito bem, sempre íntegro e honesto. A McLaren não abandonou o ar britânico e calculista de Ron Dennis, mas ganhou um algo diferente, uma leveza com Whitmarsh. E isso sem derrapar nas pistas. Um título este ano coroaria MW e seu trabalho.

Renan do Couto disse...

"Historicamente é como gostamos de conduzir a equipe, é a nossa filosofia."
Por isso que sempre gostei mais da McLaren do que da Ferrari.

Button e Hamilton juntos formam uma baita dupla, uma das melhores de todos os tempos.