Talvez tenha sido a total falta de expectativas na visita a uma cidade que não constava do meu roteiro inicial. Talvez tenho sido o deslumbramento com o charme dos canais da foz do rio Ota. Talvez seja obra do paladar, encantado com esta delícia da culinária local chamada Okonomyiaki. O fato é que Hiroshima é um dos lugares mais fantásticos que eu já visitei. Não só no Japão, mas no mundo todo.
Das cinzas de uma cidade devastada pela bomba atômica se construiu um parque para celebrar a paz no mundo todo - e para liderar o movimento pelo fim das armas atômicas. Da dor das crianças que pereceram naquele seis de agosto (ou nos dias, meses, anos seguintes) por conta dos efeitos do ataque, fizeram pássaros coloridos em Origami para pedir esse desarmamento. Hoje as aves de papel estão lá, aos milhares, trazidas pessoalmente por milhões de crianças das escolas japonesas para enfeitar o parque.
Uma visita ao museu do Memorial da Paz não é tarefa fácil. As histórias de dor das vítimas civis de um inconcebível ataque militar inevitavelmente reviram sua alma. Histórias de meninas (cegas, inexatas) que voltaram para casa em pânico com a pele desmanchando e o rosto preto feito carvão, sendo reconhecidas por seus pais apenas pela voz (no reverso das mudas, telepáticas). Chocante.Mas o local explica também o que motivou a escolha por Hiroshima, tradicional centro bélico japonês e que, naquela época, colocou sua indústria inteiramente voltada para o esforço de guerra - como muitas cidades no mundo inteiro, aliás.
A diferença para estas outras é que Hiroshima aprendeu com seu destino - e luta para que todas façam o mesmo. O fato da entrada no museu custar pouco mais que um real mostra que o fundamental é conhecer e entender o que aconteceu para que o horror nunca mais se repita.
Mais do que lamentar o destino que associou o nome da cidade para sempre à dor, tragédia e destruição, Hiroshima concentra todas suas energias para celebrar a vida e a paz. E é isso que a torna uma cidade maravilhosa, por fora e por dentro. É preciso ver para crer. Eu vi - e foi por isso que me apaixonei por ela.
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9 comentários:
Ótimo texto, mas só uma correção, não foi bomba H, Ico, foi Bomba atômica normal, A H foi inventada no final dos anos 50, se não me engano.
abraços!
Cidade linda,ta ai um lugar que quero muito conhecer pessoalmente, não apenas a triste dos documentários da II WW.
Belas fotos Ico!
Olá Juca,
realmente foi uma bomba A, pois se tivesse sido uma H a destruição teria sido ainda mais terrível dada a potência assustadora de tal artefato.
Ico, realmente o Japão é interessantíssimo tanto pelas paisagens quanto pela sua cultura e história tão peculiares.
abs
Filipe W
Master Ico,
Truman, o maior homicida norte-canalha-americano, e seu(i)mundo hollywoodiano são capazes dessa barbárie, e o Tribunal de Haia só julgou os genocídioss nazistas.
Master, q mundo tosco!
Saudações belgo-monarquista
carlo paolucci
Muito se fala de Hiroshima. E com razão! E Nagasaki? A cidade recebeu também um "presente" bombástico estadunidense. Fala-se muito pouco de lá...
um abraço,
Renato Breder
Obrigado Juca e Filipe pelas dicas referentes à Bomba H - fez sentido agora o q vi na exposição, q a bomba atômica mais potente q se tem notícia era tipo 300 vezes mais potente q a de Hiroshima - dá para ter noção do estrago q isso pode fazer???
Renato, sobre Nagazaki, é algo interessante para conhecer e se entender tb o porquê dela ser tão em segundo plano. O fato de Hiroshima ser o centro bélico e de ter sido a primeira explica um pouco disso. O resto... um dia vou para Kagazaki e te digo.
Abs!
Hiroshima é linda mesmo. A praça central é um charme. Pena que passei algo em torno de três horas na cidade qdo visitei -faz uns 10 anos. Tivesse tido mais tempo, teria curtido mais a cidade.
O Museu da Paz é visita obrigatória, apesar de ser uma experiência (pra dizer o mínimo) impressionante.
Bela foto dos origamis -tsurus e rosas. O Tsuru é uma ave sagrada pros japoneses (tanto que estava no logo da JAL até pouco tempo atrás, não sei se vc lembra). O origami desta ave é o mais tradicional deles -diz-se no 'folclore' japonês que se alguém fizer mil dobraduras pensando em algo bom trás bons fluidos para ela. O costume de depositar as dobraduras no mausoléu de Hiroshima é na intenção de desejar que o que aconteceu lá nunca mais se repita.
(e, como escrevi em outro comentário, Hiroshima é sede mundial da Mazda. Tem a ver com motores. Sempre. rs.)
Abraço
Que maravilha este texto, que beleza de cidade... Ah um dia... Um dia.
Pra variar ...puta texto!
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