Em 2008, me assustei um dia ao chegar no circuito do Bahrein e dar de cara com um sujeito em chamas. Era apenas um dublê que se incendiava com uma roupa especial e se jogava segundos depois num enorme tanque de água, um show para entreter o modesto público que acompanha a prova.
Desta vez, se vir cena parecida saberei que há um contexto claro por trás. Olhando de fora fica difícil entender com exatidão o que move os protestos. Alguns apontam que é uma briga dos xiitas contra o governo sunita (como acontece no Irã), outros falam apenas no desejo popular por mais democracia.
Do que eu observei nas minhas três visitas por lá, deve ser algo no meio disso. O Bahrein é um país minúsculo (duas vezes menor que a cidade de São Paulo) e, por conta do petróleo, rico. Possui um Índice de Desenvolvimento Humano alto, o 39º do mundo, bem maior que o do Brasil e no mesmo nível de Portugal. Acredito que chega a estes índices por ter um PIB alto, uma das partes usadas no cálculo do IDH.
Mas basta andar pelas ruas de Manama para ver muitos sinais de pobreza. Gente simples trabalhando em becos imundos como engraxates, vendendo quinquilharias ou cozinhando sei-lá-o-quê - e tem quem coma. São os esquecidos por uma sociedade um tanto bizarra, um país no meio do Oriente Médio que abre suas portas nos finais de semana para que os endinheirados sauditas consumam álcool e durmam com prostitutas.
É preciso reconhecer que a família real (sim, lá é uma monarquia) faz os seus investimentos sociais. Ao lado da pista de Fórmula 1 há uma gigantesca universidade que, aparentemente, dispões de bons recursos para formar gente principalmente em ofícios ligados à engenharia e tecnologia. Mas é difícil imaginar que os pobres que a gente vê no centro da cidade tenham acesso à ela.
Isolado e vendo tanto dinheiro em volta, não admira que parte do povo proteste por chances maiores na sociedade. Os tempos estão mudando, que o Bahrein também faça as mudanças necessárias para se ajustar a eles. Ou a coisa vai pegar fogo nas próximas semanas.
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10 comentários:
Se o GP do Bahrein rodar nessa revolta, olha que não vou me importar nem um pouco.
É a velha e tão famosa desigualdade social.
Cancelar a corrida do Bahrein? só se for esta, a próxima, e a próxima e a próxima...
Ico,
Com abismos colossais fica dificil manter a paz e a ordem, lá ou em qualquer lugar desse mundo.
Com relação a corrida, que deve ser colocada em último plano,não ficaria triste se não acontecesse mais por lá.
O circuito xarope!
abs
Ao contrário do que se passou na Tunisia e no Egito, estes não querem derrubar o regime, apenas mais igualdade: os xiitas são 70 por cento da população, mas quem manda é a minoria sunita...
O que querem é que o sheik alargue as reformas constitucionais ao máximo: eleições totalmente livres, o poder nas mãos de um Parlamento, com o sheik a ser um mero garante.
Claro, se as coisas se arrastarem e se a repressão continuar, vão querer tudo, ate o impensável: correr com o sheik e estabelecer uma república. A Formula 1 será inevitavelmente atrapalhada com isto, porque a primeira corrida será dentro de cinco semanas, e antes disso haverá a semana final de testes. Até o Tio Bernie anda nervoso.
Quanto ao cancelamento do Grande Prémio, sejamos honestos: pessoalmente acredito mais num adiamento para o final do ano, uma semana depois do Bahrein. E mesmo que o cancelamento seja permanente, o Tio Bernie mais rapidamente oferece a corrido ao seu vizinho Qatar do que a colocar na Europa ou na América do Sul. A não ser que as duas margens do Golfo Pérsico expludam entretanto...
Disse Bahrein? Caramba... o que queria dizer era o Abu Dhabi!
São os ventos da liberdade que vieram do Egito.
- É um pais imbecil que como outros no mundo mascaram a sua pobreza, so que la eles exageram nos gastos e nas obras faraonicas, que o povo toque fogo mesmo e reivindique o que querem.
Pois é, enquanto o pessoal lá vai pra rua aos milhões, encaram soldados e policiais, a gente aqui no Brasil fica vendo deputado ganhar 65% de aumento, ex-governador ganhando aposentadoria vitalícia de 20.000 por um trabalho que executou por 4 anos ou menos, e faz o quê? Vai xingar no Twitter.
O país é tratado como um puteiro pelos seus governantes...
E como o Tio Bernie é uma das maiores putas do universo (é só pagarem para ele levar a F1 para qualquer buraco), deve estar muito triste com a situação.
Que o Tio Bernie e a F1 se explodam, toda a sorte do mundo ao povo barenita.
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