quarta-feira, 18 de julho de 2007

STEPNEYGATE – QUANDO COMEÇOU?

A história que vem abalando as estruturas da Fórmula 1 está repleta de episódios mal explicados: o que faziam resíduos de um branco nas calças de Nigel Stepney? Porque a esposa de Mike Coughlan teria ido a uma copiadora ordinária em Woking para reproduzir documentos sigilosos e comprometedores? Será mesmo que ninguém dentro da McLaren, além de Coughlan, viu estes documentos? Quem seriam e quais posições ocupariam os outros membros da Ferrari que estariam envolvidos na espionagem? Qual a participação da Honda na história e qual a influência dela na decisão de Gil de Ferran em deixar a equipe?

São perguntas que adoraríamos ver respondidas. E não me surpreenderia se a maioria delas acabar o sendo. Hoje, olhando em retrospecto, fiquei intrigado com mais uma coincidência estranha. Quando afinal Coughlan teria tido acesso a estes documentos? A versão oficial diz que foi no mês de abril, mas estou achando que esta vazão de informações sobre o F2007 rumo a Woking começou antes, muito antes.

Lembram do episódio do assoalho móvel da Ferrari? Foi no fim-de-semana do Grande Premio da Austrália, na metade do mês de março, que Ron Dennis chegou com uma conversa estranha junto à imprensa, dizendo quealguns concorrentes estariam interpretando algumas regras de maneira que não concordamos”. Foi assim mesmo, de maneira muito vaga, sem citar quem seriam estes concorrentes e qual regra estaria sendo burlada.

Logo foi apurado que a questão envolvia o assoalho do F2007. A peça teria uma mola acoplada que permitiria o movimento do assoalho de acordo com a dinâmica do carromais recolhido na reta, diminuindo o arrasto aerodinâmico, e mais aberto nas curvas, melhorando a aderência do carro na freada.

Pois bem, no dia 16 de março, na sexta-feira de Melbourne, quando se realizaram os primeiros treinos livres da temporada, a McLaren enviou uma carta a Charlie Whiting, da FIA, pedindo esclarecimentos quanto ao assunto. A entidade realizou testes de flexibilidade na peça da Ferrari e os resultados não indicaram nada de ilegal. Mesmo assim, a FIA prometeu que aumentaria o rigor nos testes de flexibilidade das peças dali para frente. Isto foi feito e, desde então, nada de anormal foi encontrado em nenhuma equipe (em que pesem as suspeitas levantadas pelo aerofólio traseiro utilizado pela Red Bull em Barcelona). Pode até ser que a Ferrari tenha mudado a construção do assoalho depois da polêmica, mas o assunto morreu ali.

Não vejo nada de muito anormal no protesto da McLaren na época, mas me intriga mesmo o comportamento de Ron Dennis. Porque ele não falou diretamente à imprensa que, olhando os carros da Ferrari na garagem e na pista, seus técnicos ficaram com a impressão de que a equipe estaria usando um componente flexível? Será que a McLaren soube de detalhes da construção deste assoalho através de outras fontes? Porque o protesto logo no primeiro dia de atividades em pista em toda a temporada? Porque Martin Whitmarsh, da McLaren, e Jean Todt foram vistos numa discussão acalorada no domingo em Melbourne; ou melhor, quem estaria acusado quem ali?

Quando o escândalo explodiu há duas semanas, Ron Dennis chorou e jurou de pés juntos que não havia nada do F2007 que tivesse sido empregado no MP4/22. Provavelmente não mesmo. Mas será que os dados obtidos por Coughlan – e possivelmente debatidos dentro da McLaren – não serviram para minar a competitividade do adversário?

É mais uma dentre as muitas coincidências estranhas envolvendo o “Stepneygate”. Outra curiosidade saborosa foi notada por colegas da imprensa inglesa que foram à casa de Coughlan na semana passada atrás de um depoimento. Ele, obviamente, não falou nada. Mas os jornalistas não puderam segurar o riso ao ver os três carros que estavam parados em frente à residência: um Mercedes C-Klasse, um Fiat Barchetta e um Honda Civic...

5 comentários:

Anônimo disse...

Olá Ico.
Muito bem lembrado. Aliás, não me lembro de qualquer outra pessoa levantando tal suposição.
Uma coisa que me intriga - e não vi também quem quer que seja especulando sobre o assunto - é a relação dos dois no famoso caso do Lotus 100T, aquela bomba projetada por Gerard Decarouge. Sei não, mas não teriam os dois alguma participação naquele fracasso da Lotus?
Grande abraço e parabens pelo blog.

Anônimo disse...

Oi Ico,

antes de mais nada parabéns pelo blog !

esse caso de espionagem ainda tem muitas pontas soltas e várias perguntas ainda sem resposta, acho que nem filme de James Bond teria uma trama tão intrincada !!!!

Muita água vai correr debaixo dessa ponte antes de sabermos de alguma verdade palpável, digo isso porque a verdade "verdadeira" talvez, nós nunca saibamos.


Mas dentre todas as declarações uma me aguça a curiosidade mais que as outras, oque o Nigel Stepney quis dizer com os "cadáveres do ultimos anos", claro que sei oque ele quis dizer, mas fico curioso com quais "cadáveres" seriam estes ?

abs
Filipe W

Felipe Maciel disse...

Isso me faz lembrar daquela frase

"A diferença entre a realidade e a ficção é que a ficção faz mais sentido"

Muito interessante essa referência que você fez sobre o caso do assoalho no início do ano. Será mesmo que há algumas relação? Quanto mais o tempo passa, mais longa e cabeluda vai ficando essa história...

Descobri seu blog através da Rádio GP. Parabéns pela página!
Aproveito também para convidá-lo a dar uma passadinha no meu modesto site, o Blog F-1

Abraço e boa sorte com o blog!

Capelli disse...

Na mosca, hein Ico?

Ico (Luis Fernando Ramos) disse...

Essa foi, Capelli, e no estilo Karatê Kid, pegando a mosca com palitinho! :-)