terça-feira, 18 de setembro de 2007

MINIATURAS – BENETTON B192

A miniatura de hoje pega carona no rescaldo do GP da Bélgica. O Benetton B192 entrou na história como o carro da primeira das 91 vitórias de Michael Schumacher na Fórmula 1, exatamente em Spa-Francorchamps, há quinze anos. Ilustra também o início de um período extremamente frutífero para o projetista sul-africano Rory Byrne, o pai da criança. O modelo da foto pertence ao Herik Nelson e é um kit Tamiya na escala 1:20.

Sobre Byrne, escrevi esta coluna para o GP Total em abril de 2004, explicando porque, para mim, ele é o maior dos projetistas que passaram na Fórmula 1. Concordando ou discordando, uma coisa é fato: ele é bem menos badalado do que merecia.

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O PROFESSOR DE QUÍMICA

28/04/04


No
último GP de San Marino, quem subiu ao pódio para receber o troféu dos construtores pela Ferrari foi o projetista do F2004, o sul-africano Rory Byrne. Ele bem que poderia estar naquele momento em casa, corrigindo provas, como parte de seu ofício de professor de química em alguma escola de Johanesburgo. Masmais de três décadas, para o bem da Fórmula 1, resolveu investir na sua paixão por automobilismo assim que pegou o diploma de industrial químico e foi desenhar carros.

A categoria celebrou a genialidade de diversos projetistas. Colin Chapman, dono de idéias revolucionárias e capaz de desenhar um novo modelo em um guardanapo, durante um evento social, é o mais famoso deles. Recentemente, creditou-se à caneta de Adrian Newey um tetracampeonato mundial de pilotos, conquistado entre 1996 e 1999 com carros da Williams e McLaren.

Para mim, o maior de todos é Byrne. Olhem alguns dos feitos de seus carros. Foram 12 títulos mundiais, sendo seis de pilotos e seis de construtores. E não vai demorar muito para colocarmos os dois deste ano nesta conta. Com isto, ele vai superar a marca de Chapman (treze títulos). Tem mais: 71 das 74 vitórias de Michael Schumacher foram em máquinas suas (as três de 1996, primeiro ano do alemão na Ferrari são a exceção). E 26 dos 27 triunfos da Benetton também (ficou de fora o canto do cisne da equipe, a vitória de Berger na Alemanha em 1997). Do lado sentimental, me reconforto ao lembrar que o Toleman TG184 com que Senna assombrou o mundo tinha a assinatura de Byrne. E que as três últimas vitórias de Nelson Piquet na Fórmula 1 foram em carros do sul-africano.

Nãodúvidas que o melhor chassi desta temporada é o da Ferrari, embora a grande maioria vesga da mídia aponte o BAR006 como merecedor deste título. Foi assim no ano passado com o carro da Renault. Mas nãoporque se enganar. Em todos os circuitos da temporada, os carros vermelhos marcam tempos extremamente competitivos nos primeiros minutos dos treinos de sexta-feira, um sinal incontestável de um chassi versátil e eficiente.

Curioso é ver que Byrne não deixa a desejar quando se fala em aerodinâmica. Embora a área não seja sua especialidade, ele é pródigo em criar soluções originais lembrar a curiosa asa traseira dupla que a Toleman usou em algumas corridas de 1984 ou o apêndice aerodinâmico nas laterais da entrada de ar do F2004). Suas teorias são bastante diretas e simples, e surgiram de um passatempo adolescente. Aos 16 anos de idade, o sul-africano construía e competia com planadores em miniatura, destes que você lança com a mão. O segredo: “obter o máximo de força com o mínimo de peso; o máximo de elevação com o mínimo de arrasto”, afirma. Em um Fórmula 1, bastou inverter o que fazia para manter a elevação de seus planadores para obter carros com ótima pressão aerodinâmica, embora os insucessos da Ferrari no ano passado em Mônaco e Budapeste sugerem que ainda há o que melhorar quanto à isto. Ninguém é perfeito.

Mas porque, com um currículo tão impressionante, o projetista não é tão badalado quanto seu colega Adrian Newey, por exemplo? A resposta está, com toda a certeza, em seu absoluto horror aos holofotes. Quando não está em Maranello trabalhando, Byrne se refugia em uma praia na Tailândia, terra natal de sua esposa, onde possui uma escola de mergulho. O projetista detesta dar entrevistas, quase nunca as concede e, provavelmente, pouco se importa que o mundo festeja a genialidade de Michael Schumacher e pouco fala de seus carros.

Um perfil curiosamente oposto ao de outro gênio sul-africano das pranchetas: Gordon Murray, desenhista da Brabham por diversos anos e pai do genial McLaren MP4/4, de 1988. “Um piloto e um construtor estão no mesmo nível. Um não é nada sem o outro”, fazia questão de dizer. Mesmo assim, consta que Nelson Piquet gostou muito de trabalhar com ambos. Manter um canal de diálogo intenso com os projetistas sempre foi um dos pontos fortes do piloto brasileiro, passando diversas informações úteis para que estes extraiam o máximo de seus trabalhos, algo especialmente importante na F-1 pré-informática.

Mas, voltando à Byrne, o fato dele ter sido o escolhido por Jean Todt para receber o troféu em Ímola foi sintomático. A corrida é como um GP caseiro para a Ferrari, e todos na equipe sabem que o verdadeiro prazer do projetista é se enfurnar na fábrica de Maranello, comandando a equipe de projetistas no desenvolvimento do carro com a mesma paixão com que um bom professor de química orienta seus alunos em aulas no laboratório.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ico,
Obrigado por publicar a foto.
Gostaria de saber qual o real papel atual do Rory Byrne na Ferrari já que, pelo que sei, desde 2005 os monopostos da equipe italiana são "assinados" por Aldo Costa.
Mas não resta dúvida que o cara é genial e não recebe um "pentelhésimo" de reconhecimento dado, por exemplo, a John Barnard.
Grande abraço.

Anônimo disse...

Eu tenho outro carro dessa série Tamiya, uma Lotus Type 102B 1991 do Hakkinen. Infelizmente na época a ação dos irmãos mais novos impede que eu te mande uma foto dela. Está nafila do conserto, pois como já disse, irmãos mais novos são dose pra mamute, mas nem se comparam com os filhos. Ressalto a qualidade da Tamiya nessa série, dando de marreta na concorrência da Revell.