quarta-feira, 12 de setembro de 2007

MINIATURAS – MARCH 751

Tentar encontrar alguma coisa de positivo no GP da Espanha de 1975 é difícil. O descaso dos organizadores e a pressão dos homens fortes da categoria para correr em um circuito sem a menor segurança resultaram em uma tragédia que custou a vida de quatro pessoas em Montjuic.


A
interrupção da prova na 29ª volta, veio tarde demais, mas acabou garantindo a primeira (e única) pontuação de uma mulher na Fórmula 1. A italiana Lella Lombardi ficou em sexto lugar na classificação final, recebendo meio ponto que a prova foi interrompida antes da metade. Seu carro era um March 751 retratado neste modelo 1:43 da Minichamps, enviado pelo César Pedrini. Eu adorava este bico do carro, ainda que ele pareça contrariar qualquer teoria aerodinâmica.


Lella Lombardi morreu
em 1992, com apenas 50 anos, de câncer. Parece continuar morta também a perspectiva de ver uma mulher na Fórmula 1 num futuro próximo. E não é de hoje. Confira abaixo uma coluna que escrevi no GP Total sobre o assunto, em março de 2004.

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Elas

17/03/04


Em meio à ressaca da etapa de abertura da Fórmula 1, esta notícia passou quase desapercebida na última semana: a Jaguar propôs à irlandesa Sarah Kavanagh um trabalho como piloto de testes. Seria um programa a longo prazo, com Sarah correndo neste ano na F-3, em 2005 na F-3000 e, finalmente, testando o Fórmula 1 da equipe em 2006. Meio caminho andado para, um ou dois anos depois, estrear na categoria como titular.

Seria uma boa
oportunidade de voltarmos a ver uma mulher pilotando na F-1, não fosse por dois detalhes. Primeiro: a irlandesa estaria com 33 anos em 2007, uma idade muito avançada para uma estreante. Segundo: a proposta da Jaguar exige que a piloto traga para a equipe um milhão de euros. Dá para ver claramente que a intenção da equipe não é exatamente de levar alguém do sexo feminino para a categoria máxima do automobilismo mundial. Trata-se na verdade de um golpe de marketing, ainda por cima faturando algum dinheiro com isso. Safados, estes ingleses.

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É uma pena. Em mais de 50 anos de Fórmula 1, apenas duas mulheres disputaram um Grande Prêmio: as italianas Maria-Teresa de Filippis, em 1958, e Lella Lombardi, em 1975. Para quem gosta de estatísticas, isto representa 0,3% entre todos os pilotos que correram na categoria. A explicação mais comum para esta participação insignificante é sempre de ordem física: as mulheres são mais frágeis e têm dificuldades para suportar o esforço envolvido na pilotagem de uma máquina tão potente. Uma bobagem tão grande quanto achar que Alex Yoong é melhor do que Michael Schumacher.

Quem prova isto é a pioneira Maria-Teresa. No GP da Bélgica de 1958, a italiana cruzou a linha de chegada em décimo-lugar após completar 310 quilômetros num circuito exigente como Spa-Francorchamps – que tinha o dobro da extensão do traçado atual. Atingiu velocidades acima de 270 km/h com sua Maserati 250F (com pneus finos e sem cinto de segurança) e terminou a prova no mesmo estado de seus companheiros homens. “Nunca tive nenhum problema físico, apesar de ter na época os mesmos 49 quilos que tenho hoje”, comenta a senhora de 77 anos, que ainda participa eventualmente de corridas de carros antigos.

As
desculpas mascaram a falta de espaço que as moças disfrutam neste mundinho chauvinista chamado automobilismo. Se no Kart o preconceito é latente, o que dizer da Fórmula 1, onde recepções calorosas são reservadas à mulheres com meio litro de silicone nos seios? “Antes da minha estréia na África do Sul, não me deram a chance de fazer um único teste. Nem mesmo um molde de banco eles fizeram”, reclama Giovana Amati, a última a tentar se qualificar para um GP de F-1, em 1992 com a Brabham.

Quando a italiana chegou à categoria. era mais famosa por ter tido um caso com Niki Lauda do que por suas qualidades ao volante (olha o chauvinismo de novo). Marcou tempos ridiculamente piores que os do companheiro Eric Van de Poele, masquem acreditasse que faltou apoio para Amati. “É uma das mulheres mais malucas que eu conheci. Ele tinha a pegada necessária para se manter no circo, era mentalmente forte. Mas teve de sair da F-1 por motivos financeiros”, opina o ex-piloto e comentarista Christian Danner.

Como Giovanna, outras duas moças também tentaram sem sucesso se classificar para uma corrida. Ou melhor, uma delas até conseguiu, mas não entrou para a história. Desiré Wilson largou no GP da África do Sul de 1981 em 15° lugar, três posições apenas atrás do companheiro na Tyrrell Eddie Cheever e ao lado da McLaren de John Watson. Abandonou a prova após 51 voltas, mas a corrida acabou sendo desconsiderada do Mundial devido à briga entre a FISA (de Jean-Marie Balestre) e a FOCA (de Bernie Ecclestone – use a ferramenta de busca do GPtotal para saber mais).

Um ano antes, Wilson venceu uma corrida da série Aurora em Brands Hatch, batendo pilotos que estabelecidos na F-1 da época, como Eliseo Salazar e Guy Edwards. Para quem não sabe, esta categoria utilizava modelos que tinham acabado de ser descartados pelas equipes da Fórmula 1. O da piloto sul-africana era um Wolf WR3, utilizado por Jody Scheckter em 1978. Ainda em 1980, Desiré ficou em último no qualifying do GP da Inglaterra, mas apenas meio segundo atrás de um certo Keke Rosberg e a um segundo do então campeão mundial Scheckter.

Quem completa a lista feminina é Divina Galica, uma inglesa que veio do esqui e tentou três classificações nos anos 70, sem sucesso. Hoje, vejam , ela é instrutora de pilotagem na Skip Barber Racing School, uma das mais conceituadas do mundo.

Os
pontos em comum na história destas cinco mulheres na Fórmula 1 são a falta de equipamento competitivo e a chance restrita que tiveram para mostrar suas credenciais. A única a marcar pontos foi Lella Lombardi, com um sexto lugar no confuso GP da Espanha de 1975. A prova foi interrompida no meio após um acidente com o piloto Rolf Stommelen que matou cinco pessoas. A italiana levou meio ponto para casa em sua segunda e última corrida na categoria. “Lella sempre ganhava o pior motor, o pior jogo de pneus. Ela era tecnicamente boa, entendia de mecânica, mas a March simplesmente a destratava”, relembra seu companheiro de equipe Hans Stuck.

é hora da Fórmula 1 rever seus conceitos. No início dos anos 80, a Audi deu um carro de fábrica para a francesa Michèle Mouton disputar o Mundial de Rali. Ela venceu quatro etapas e foi vice-campeã mundial em 82. Outro exemplo é o da alemã Jutta Kleinschmidt, campeã do Dakar em 2001, quando contou com apoio total da Mitsubishi. Um exemplo de que apostar no profissionalismo pode dar resultados, sem estas bobagens de “sexo frágil”.

5 comentários:

Francis Rosário disse...

Creio que logo teremos uma mulher em equipe de ponta, seria muito bom em termos de Marketing... quem sabe nossa Bia figueiredo possa chegar lá..

Anônimo disse...

Sinceramente, sem chauvinismo, acredito que se tivesse havido uma boa piloto ao longo de todo esse tempo, ela já teria aparecido. Seria ótimo para a categoria. Uma boa sugestão que ouvi outro dia foi a de levar a Danica para a F-1. Além de boa piloto ela também é uma graça. Aposto que muita gente torceria por ela.

Anônimo disse...

Acho que até 2011, quando a reforma da F1 está prevista para começar pra valer, alguma garota com roupa de piloto deve estar naquela foto coletiva de começo de temporada. Olhando as categorias de acesso à F1, ou categorias de topo do automobilismo, é impressionante a quantidade de moças que estão competindo hoje em dia. Alguma delas vai chegar lá.

Anônimo disse...

Não conhecia essa miniatura da Minichamps. Lindo modelo.

Anônimo disse...

Barreiras existem p/ ser transpostas...Querem exemplo melhor que LEWIS HAMILTON? A F1 nunca tinha tido um piloto negro,e logo na estréia de um representante da raça aparece,logo de cara,um fenômeno.
Por que não mulheres?