quinta-feira, 1 de novembro de 2007

MINIATURAS – ALFA ROMEO 159

Esta é uma peça que falta na minha coleção – ainda. A Alfa Romeo 159, também conhecida como Alfetta, foi introduzida em 1951 como uma evolução de outra “Alfetta”, a 158. A suspensão foi modificada, a estrutura tubular ficou mais leve e o motor, mais potente. Mas os pilotos da equipe não tiveram a mesma moleza de 1950: o carro consumia muita gasolina e a Ferrari aproveitou-se disso para equilibrar a briga na metade da temporada. O título só foi decidido a favor de Juan Manuel Fangio na última corrida do ano, o GP da Espanha, em Pedralbes (um circuito nas cercanias de Barcelona) – principalmente por um erro da Ferrari na escolha dos pneus.

Abaixo, uma coluna minha para o GP Total escrita em abril de 2003, comentando sobre esta prova. A miniatura acima foi enviada pelo Mário Bessa e é da Minichamps, na escala 1:43.



“HISTÓRIAS DE BARCELONA”
Luis Fernando Ramos
Se existe uma cidade do mundo que me conquistou totalmente, é Barcelona. Foi lá que conheci minha esposa e que assisti ao show de uma das minhas bandas favoritas, o Pink Floyd. Os quarteirões simétricos da Example, as curvas de Montjuic, as ladeiras de Tibidabo e a presença deslumbrante das obras de Gaudí por todos os lados dão um charme inigualável ao lugar. Isto sem falar na noite, que pode começar numa mesa de sinuca do Canigó ou entre a multidão que apinha a Champanhería e vai terminar invariavelmente de dia, curtindo a brisa da manhã em Barceloneta ou no Port Olímpic.
Foram tantos momentos divinos curtidos na capital catalã que, sempre que saí de lá, jurei que um dia voltaria como morador. Que Deus me dê muitos anos de vida para cumprir e curtir minha promessa.
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E o que isto tudo tem a ver com Fórmula 1, você deve estar se perguntando? Pois Barcelona é a única cidade do mundo a sediar GPs da categoria em dois traçados de rua distintos. O mais conhecido, talvez por ter sido utilizado mais recentemente, é o de Montjuic. Uma pista desafiadora e perigosa nas subidas e descidas do morro de mesmo nome, palco de um estúpido acidente em 1975 que matou cinco espectadores devido à negligência dos organizadores na construção de guard-rails decentemente resistentes.
O outro circuito é o de Pedralbes, utilizado duas vezes nos anos 50. O traçado incluía uma reta gigantesca, com quase dois quilômetros, na avenida que levava o nome do General Franco na época, e hoje é chamada de Diagonal, e possuía altíssima média horária.
Em minhas passagens por Barcelona, fiz questão de reservar um tempo para conhecer com calma os dois locais. A pista de Montjuic poderia ser imediatamente remontada, mas a Pedralbes perdeu sua curva mais interessante, a do retão, para a construção de uma avenida radial, a Ronda de Dalt, que interliga toda a parte norte da cidade.
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Pouca gente se lembra, mas Pedralbes foi palco do primeiro título de Juan Manuel Fangio na Fórmula 1. Pela importância histórica do momento, foi um dos melhores GP da Espanha já disputados - sem contar que as corridas na pista nova de Montmeló são sempre um sono só. Vale a pena contar.
Foi a etapa de encerramento do Mundial de 1951. Fangio, que corria pela Alfa Romeo, chegou em Pedralbes com 27 pontos, contra 25 de Alberto Ascari e 21 de Jose Froilán Gonzalez, ambos da Ferrari. Para aumentar acirrar ainda mais os ânimos, os postulantes ao título ocuparam a primeira fila, com Ascari na pole.
Seriam 70 voltas no circuito de 6,3 quilômetros sob um calor considerável e um asfalto bastante ondulado – um inferno para qualquer uma destas primadonas da Fórmula 1 atual, mas o palco perfeito para Fangio mostrar porque foi o melhor piloto que surgiu nesta galáxia. O público espanhol não decepcionou e compareceu em peso: mais de 250 mil pessoas espalhadas ao longo do traçado, um número espantoso mesmo para os dias atuais.
Os pneus teriam peso fundamental na prova e a Ferrari, que optou por um modelo com diâmetro menor, saiu em vantagem. Ao cair da bandeira, Ascari e Gonzalez zuniram à frente, com Fangio fazendo uma largada cuidadosa e caindo para quarto. Mas “el maestro” sempre utilizava esta tática. Passado o risco da primeira curva, o argentino da Alfa Romeo foi passando um a um e assumiu a ponta na quarta volta, para não mais perdê-la.
Fazendo as curvas com o carro de lado, escorregando nas quatro rodas, Fangio passava com uma precisão irritante a milímetros da guia e a centímetros de uma verdadeira parede de espectadores. Como resultado, bateu o recorde de volta da pista em mais de dez segundos e não perdeu a ponta nem nas suas duas paradas de reabastecimento, que duravam pelo menos meio minuto na época. Campeão com exibição de gala.
Duas ocorrências da corrida mostram bem o lado meio amador e romântico do automobilismo dos anos 50. Na primeira, o francês Yves Giraud-Cabantous abandonou a prova após atropelar um cachorro que atravessava a reta principal. O piloto teve sorte em sair inteiro do incidente, o animal, não. A outra ocorreu nos boxes da equipe Gordini-Simca, uma espécie de Minardi da época – sempre sem dinheiro, sempre atrás. André Simon entrou nos boxes reclamando que o motor estava fazendo o barulho de castanholas. O mecânico-chefe respondeu, às gargalhadas: “Ei, é normal, estamos na Espanha!” Foi preciso a intervenção do chefão Amedèe Gordini para não sair briga.
Assim era a Fórmula 1 no seu nascimento.

Um comentário:

Anônimo disse...

Toda serie Alfetta foi a referencia de competitividade na europa ,pois com o inicio da F1 em 1950 o Alfetta era o unico representante competitivo que mediu forças com os Alemães em 1939 ,sobreviveu a guerra graças a genial ideia de alguém da propria fabrica em esconde-los em um rancho em algum campo na Italia.

Jonny'O