domingo, 6 de abril de 2008

PASSAPORTE – BAHREIN

Quando eu via imagens do mundo árabe na televisão, parecia que eram de outro planeta. Via os costumes daquele povo, suas vestimentas, um idioma em que qualquer conversa parece uma acirrada discussão, o hábito de comer com a mão, o contraste entre uma minoria rica e uma enorme massa aparentemente fanática por Alá, acima de qualquer outro preceito – tudo muito estranho e distante. Com este pré-conceito (que poderia também ser escrito sem hífen por aqui), embarquei para o Bahrein um tanto receoso e preparado para um enorme choque cultural.

Não sei se foi pelas expectativas muito altas, mas no final das contas esta ilhota no meio do Golfo Pérsico me pareceu quase um país ocidental. As pessoas parecem obcecadas por carros, relógios, celulares e compras em geral. E tratam o visitante com simpatia e respeito, embora sempre apareçam alguns oportunistas – o taxista que me levou do aeroporto ao hotel cobrou um preço quatro vezes acima do verdadeiro, mas é algo que já aconteceu comigo em lugares tão distintos como Budapeste e Rio de Janeiro. Faz parte.

A impressão ocidentalizada é reforçada pelos prazeres “mundanos” que são permitidos aqui aos praticantes da religião mulçumana. Nos chamados “Night Clubs”, a imensa maioria de sauditas bebe álcool, fuma narguilé e gasta dinheiro à vontade com mocinhas vestidas de odalisca, levando-as por muitos dinares para um recinto privado onde fazem sabe-se lá o quê (e, a não ser que se trate de um Max Mosley árabe, ninguém ficará sabendo). Pelo jeito, Alá fecha os olhos para os pecados cometidos aqui pelo povo de lá.

Há, claro, as diferenças. Mas elas são mais curiosas do que propriamente um choque. O dia de descanso deles é a sexta-feira e, para quem vem de fora, é divertido sair pela cidade no sábado de manhã e encontrar ruas lotadas, enormes filas esperando a abertura dos bancos e o ritmo caótico que marca o início de uma semana. É também a primeira vez que encontrado uma unidade de dinheiro que não pára nos centavos, mas vai até os “milavos”. Pagar 0,375 por uma garrafa d’água foi uma novidade para mim.

O fato é que não bastou mais que um dia e o aprendizado de um vocabulário básico (“bom dia”, “obrigado”, “por favor”, etc.) para me sentir à vontade andando pelas ruas de Manama. E falar alguma coisa no idioma local passou a ser minha maior diversão aqui. Não teve uma vez em que o interlocutor não respondeu iniciando um enorme diálogo em árabe. Diante da minha expressão de incompreensão e da minha réplica em inglês, não teve um que não caiu na gargalhada. “Caramba, mas você tem uma cara de Saudita! Conheço vários muito parecidos a você”.

Acho que está na hora de tirar meu cavanhaque.

4 comentários:

Unknown disse...

Muito interessante esse seu post. Na verdade acho bem mais curioso que os relacionados à F1.

Sobre a parte do choque cultural, você tem que se lembrar que Dubai e os Emirados Árabes são muito mais ocidentalizados que o resto dos países da península árabe...

Anônimo disse...

Pra completar a sua cara árabe, você emimigrou pra europa, num país de lingua alemã.

E a corrida ico? foi o tédio que eu vi na tv?

João Carlos Viana disse...

Dizem que muitos princípes sauditas passam seus finais de semana no Bahrein, lugar meio escuro para o olhar castigador de Alá.
Tô esperando sua reportagem no Band News!
Abraços!

Unknown disse...

Excelente post, Ico, parabéns. Continue com esse olhar antropológico (tô falando sério!).