quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A TRAGÉDIA DE PERTO

Viajar o mundo “correndo atrás de carrinhos coloridos”, como diz o colega Bruno Terena, tem seus incovenientes. O pior de todos, sem dúvida, enfrentar a chatice de voar de avião nos dias de hoje: filas intermináveis no check-in, nas máquinas de segurança, na hora do embarque, serviços caros e ruins, desconforto total. Hoje, porém, pude somar a tudo isto alguns sentimentos novos.


Eram 15h15 quando meu vôo proveniente de Viena pousou no aeroporto de Barajas, em Madri, onde fiz escala antes de ir a Valência. Cerca de meia hora antes, um acidente em uma das pistas matara quase duas centenas de pessoas. Eu não tinha percebido nada até ver que quase todos os vôos que saíam de Barajas estavam atrasados. Foi que soube, através de uma outra passageira, da tragédia.


Minha primeira ação foi ligar para minha esposa e informar que estava tudo bem, o que acabou sendo fundamental que ela entrara em pânico ao saber de um acidente aéreo em Madri na hora prevista para meu pouso . Depois, um misto de raiva e impotência tomou conta de mim. Raiva ao ver que a maioria dos demais passageiros encarava o fato com absoluta resignação. Pareciam mais chateados com o atraso dos seus vôos do que com as muitas vidas ceifadas em uma leva. “Ainda bem que não foi o meu”, deviam pensar, egoístas.

E resignação ao perceber que, diante de uma crise econômica mundial que atinge com especial força a aviação civil, estamos pagando cada vez mais para voar em um ambiente que parece menos seguro, e que somos condenados a aceitar isso como parte do jogo.


Viver de perto um acidente aéreo como o de hojeum desânimo tremendo, e imagino que muitos de vocês sabem bem o que é isso depois do pavoroso acontecimento em Congonhas no ano passado. Acho que o melhor a fazer é dormir e torcer para sonhar com as pessoas que eu amo. Num dia desses, a importância delas acaba sendo a base para que nossos pés se mantenham firmes.

4 comentários:

Unknown disse...

pois é. a indiferênça é um pecado dos grandes. devia de ser pecado capital.

e o abrindo vôos novos só pra ganhar mais dinhero não está ajudando nada a reduzir os accidentes.

Speeder76 disse...

Eu percebo. Também fiquei um pouco agitado, pois sabia que hoje tinha uma grande amiga minha a viajar para Madrid, e sabia que normalmente a Spanair tem ligações com a TAP.


Felizmente isso não aconteceu, no meu caso, mas o facto de mais de 150 pessoas terem perdido a vida, e ainda por cima com alguns sobreviventes, cria ainda mais angustia nos familiares, para saberem quem sobreviveu e quem não...


Quanto à parte da segurança, e da proliferação de companhias de baixo custo e o aumento de vôos, até é um milagre não haver tantos acidentes aéreos. Aliás, acho que este ano ainda não tinha havido um acidente grave deste género...

Zani disse...

Há crises e guerras espalhadas pelo mundo inteiro, mas as pessoas precisam ir para seus destinos, precisam continuar a pensar obstinadamente em se manter à tona, mesmo que outros enham caído ao seu lado. Consciência, espiritualidade, fraternidade? Tudo isso é bobagem, né? O que interessa é a grana acima de tudo, sempre. E a grana é fria como foi esta tarde na Espanha.

Anônimo disse...

E me espantou a diferença de coberturas do acidente pela "grande (merda de) imprensa" brasileira

Quando houve o da Tam (que sabidmente não cuida bem dos aviões, tem um historico terrivel) ano passado, se falou em "caos aereo" e jogou se de todas as formas a culpa no governo sem qualquer analise, depois o laudo do IPT assinalou a qualidade da pista em seco e na chuva, e se confirmou a falha grave no avião

Mas, nesse ai, como é numa outra nação, sem interesses politicos, ah, a culpa direto foi "tecnica" pronto e acabou

lamenta se plos que se foram nesse ai, impotentes e indefesos, a merce de tudo, num avião velho e possivelmente mal cuidado