sábado, 2 de maio de 2009

UM LONGO CAMINHO

Encerrada essa primeira fase do Mundial 2009, tem muita gente dando a disputa como encerrada. Jenson Button abriu uma vantagem confortável na ponta, Rubens Barrichello parece carecer de inspiração, Sebastian Vettel pode ser que se torne uma ameaça e o resto já ficou para trás com carros menos competitivos. Um diagnóstico até natural depois que nos acostumarmos aos melhores anos de Michael Schumacher na Ferrari, quando o alemão imprimia um domínio nas provas iniciais para seguir massacrando até encerrar a contenda com um punhado de corridas de antecipação. Como naqueles dias, parece que falta um adversário para o líder.

Mas se fizermos uma análise do ritmo de desenvolvimento dos carros até agora, fica claro que ainda vai passar muita água debaixo da ponte que leva ao título da temporada. Existem três pontos primordiais no trabalho dos engenheiros e projetistas. O primeiro é a velha jornada de se buscar o máximo de pressão aerodinâmica possível para os modelos. Um quesito onde as equipes que possuem o difusor de fundo duplo estão na frente, mas que não têm muito onde avançar, já que o regulamento é muito restritivo nessa área. As rivais, pelo contrário, já começaram a introduzir novidades e o farão em grande proporção em Barcelona. A tendência é que elas dêem um salto maior do que Brawn GP, Toyota e Williams - mesmo as que já correram com um difusor “transitório” vão subir assim que colocarem soluções mais definitivas e afinadas com todo o conjunto.

Como um difusor só não faz verão, chegamos ao segundo ponto fundamental da história. O que explica o sucesso obtido até agora pela Brawn, Red Bull e Toyota é a maneira de trabalhar os pneus. Algo que uma melhor pressão aerodinâmica ajuda a melhorar, mas cujo segredo vai além: passa por uma suspensão eficiente e por uma filosofia aerodinâmica que garanta uma frente do carro estável. Aqui é onde as adversárias terão mais trabalho, porque será preciso uma bela revisão de diversos pontos do projeto para diminuir a vantagem nessa área do trio da ponta.

O quebra-cabeça proposto pelo novo regulamento técnico da Fórmula 1 encontra seu terceiro ponto no KERS. Um dispositivo que até agora se mostrou um fardo para quem o usa: pesado, atrapalha demais na distribuição ideal de lastro dentro do chassi, resultando num carro nervoso e devorador de borracha. Mas que será o principal diferencial na segunda metade do campeonato, quando todas as equipes deverão ter esgotado as possibilidades de desenvolvimento aerodinâmico. Quando isso acontecer, quem pagou com performance pelo handicap do KERS agora deve colher seus dividendos.

Isso mostra que é preciso cuidado para não tirar conclusões precipitadas em cima deste início de campeonato. Pela já citada mudança radical no regulamento técnico, a dinâmica do Mundial tende a ser diversa do que estamos acostumados. Às vezes, basta encontrar uma solução inteligente para que o salto de performance seja enorme. Mais do que o visto até agora, é o que vai acontecer nas próximas três ou quatro etapas que nos dará um subsídio mais rico para projetar a reta final do campeonato. A fase européia está apenas começando!

Na segunda-feira, aguardem mais análises desse início de temporada, incluindo a prometida questão Button versus Barrichello.

9 comentários:

Max Amaral. disse...

Ico,

o blog do Teo José (http://teojose.zip.net/) traz em um post do dia 30/04 uma informação que não vi em nenhum outro lugar: a diferença entre Button e Barrichello estaria nos freios.
Vc sabe alguma coisa sobre isso?

um abraço,

Max

Henry disse...

ICO,
A temporada tem uma série de elementos interessantes para os “hardcore”, como você nominou.

Acho que já pedi, mas repito a solicitação de um futuro post que fale sobre Ross Brawn e Adrian Newey.

Para além dos engenheiros, a ótima fase de Button, Vettel, boas corridas de Webber e Trulli, a temporada em si é caótica, bagunçada e, com certeza, em aberto, principalmente porque FIA/FOM e FOTA estão se degladiando.

Eu não acho que o talento de Alonso, Kimi, Lewis e Felipe é uma farsa, ou um detalhe. Gostaria de assistir a continuidade da batalha do ano passado, com a natural ascenção de novos valores como o Vettel, ou a recuperação de antigos, como Button. Eu não ficaria feliz de assistir um torneio de tênis com o Nadal de mão amarrada para o surgimento de novos ídolos.

ICO, estou fazendo um acompanhamento da evolução do KERS (como você falou: "quem pagou com performance pelo handicap do KERS agora deve colher seus dividendos."):
http://henrychannel.blogspot.com/2009/05/na-telinha-nelsinho-piquet-duro-de.html
1abraço

Paulo Cunha disse...

Olá Max,

Eu também escutei essa história, não lembro exatamente, mas suponho que foi pela transmissão da BBC.

O que eu lembro foi que um engenheiro da Brawn (quem exatamente eu não lembro) teria dito que o problema do carro ainda são os freios e isso afeta mais o Barrichelo do que o Button. Se o problema fosse de aerodinâmica, seria o contrário, segundo ele.

Ico, boa análise, parabéns. Porém, continuo achando que vou colecionar as desculpas barriquelianas ao longo do ano...

Henry disse...

Max e Paulo Cunha,
Sobre os freios, Rubinho explica para o colega do ICO, Felipe Motta da Jovem Pan:
"Vocês questionaram os pilotos brasileiros"
http://jovempan.uol.com.br/blogs/f1/2009/04/23/voces-questionaram-os-pilotos-brasileiros/
São bem abrangentes as entrevistas feitas pelo ICO, Livio Oricchio, Felipe Motta, Tatiana Cunha e Mariana Becker, normalmente divulgadas no Tazio e na JP.

Ron Groo disse...

Não acho que tenha ficado tudo nas mãos do Button não.
Tem muita água pra rolar embaixo desta ponte.
Só não acho que a briga que você disse vá se desenrolar.
Ross não deixaria nunca.

Luís disse...

Sem contar que é impossível bater a Red Bull na suspensão. Afinal ela usa pull-rod...

Eu acho que quando tiver o difusor "duplo" ela vai dar um salto incrível, se não vejamos... Com a pull, ela pode fazer uma traseira mais baixa, estreita e ainda tem um centro de gravidade mais baixo! é perfeito...

Eu acho que o Vettel pode ser campeão, a não ser que a Brawn como diz o outro, tire algo da cartola...

Sem contar que a suspensão tem braços mais "magros" o que com certeza ajuda o ar por ali... e tmb como a massa suspensa é menor, devemos ter um beneficio aos pneus...

Eduardo Malheiros disse...

Olá Luis, não quero lhe contradizer e sim adicionar fatos novos ao assunto, mas me recordo que nos treinos livres da última prova (ou seria no Linha de Chegada?) o Lito Cavalcanti comentou essa questão do pull-rod da Red Bull e afirmou justamente o contrário. Segundo ele, esse conceito é sem dúvida o melhor para carros que não contam com o difusor "double-deck" e uma ótima sacada do Newey para essa configuração, mas seria inviável quando utilizado em conjunto com o "novo" difusor. Este seria ainda, segundo o comentarista, o motivo pelo qual o projetista tem trabalhado arduamente na "fábrica" na tentativa de mudar esta parte do projeto, adaptando-o a nova realidade.
Na f1technical dá pra encontrar alguns fóruns a esse respeito também.

De novo, não te contradizendo, apenas jogando mais informações para a melhor informação de todos.

Abraço!

Celso disse...

Eu também ouvi o que o Lito falou no Linha de Chegada. O fato é que o Newey sentou no banquinho e dará uma resposta só em Monte Carlo ou depois.

Luís disse...

Nah que isso! Precise esse "não me toques" eu sou tranquilo...

Bem isso pode ser, tudo pode... sauahusahusah

Ate explica a "demora" da Red Bull.

Na minha interpretação(sem avaliar como esta o comportamento do monoposto) eu imaginei ser melhor(como dito acima).

O cara é "bom", vamo ver oque ele faz...

PS:Temos de ver a questão dos pneus, eu ainda aposto que eles vão contar muito esse ano...