quarta-feira, 4 de novembro de 2009

FOI A CRISE OU O BOLO?

E mais uma se vai. Os sinais disso em Abu Dhabi eram muitos: o “feeling” dos que trabalhavam no time, a homenagem dos diretores nipônicos ao casal de velhinhos que formavam os torcedores-símbolo da equipe. Assim, a Toyota se junta a Honda, BMW e Bridgestone como a quarta grande companhia a deixar a Fórmula 1 (ou anunciar que fará isso em breve). É claro que a conjuntura econômica teve um peso enorme na decisão. Mas será que é isso? É justo adotar o discurso de que “Mosley tinha razão e esses safados não temem em deixar o esporte quando lhes convém”? É claro que não, é mais além.


Antes de elevar o indicador ao nariz do outro, a Fórmula 1 deveria olhar para o próprio umbigo. Para uma grande empresa automotiva, o investimento na categoria mira dois objetivos: promoção e desenvolvimento de tecnologias, combinadas com um investimento que faça sentido.


No primeiro quesito, o ano de 2009 foi uma flechada no coração. A série sucessiva de escândalos e manchetes negativas, culminando no vexatório episódio de Cingapura-2008 e seu veredicto muito mais político que jurídico, atacou seriamente a percepção do que restava de esporte no evento. Mais: com raríssimas exceções, o espetáculo oferecido foi de uma monotonia sem igual, irritando até mesmo seus seguidores mais fanáticos.


A questão tecnológica também perdeu muito de seu apelo com uma série de restrições técnicas adotadas no regulamento. Isso ajuda a economizar dinheiro em tempos bicudos, bem, obrigado. Mas também diminui o aspecto de “laboratórioque cerca a categoria. E a confusão dos homens que fazem o regulamento derrota o argumento econômico. Como justificar para um alto executivo o investimento de milhões em uma tecnologia chamada KERS (por pressão da FIA), que foi pouco ou nada usada, apenas para ser descartada doze meses depois?


A verdade é que, quando a Toyota entrou na Fórmula 1 em 2002, além de gastar rios de dinheiro com a equipe, ele gastou outro tanto em promoção (indireta para a categoria) e ajudou a encher autódromos com convidados e fãs – tudo traduzindo em dinheiro que foi parar nos bolsos de Bernie Ecclestone e sua turma.


Agora que os cintos estão sendo apertados, é natural que as montadoras iniciassem um movimento para receber uma porcentagem maior do bolo dos lucros. Isto desencadeou uma guerra pelo poder que deixou muitos mortos e feridos. Que foi selada num Pacto de Concórdia com a duração ridícula de três anosum claro sinal de uma trégua, que nenhum denominador comum foi encontrado. Diante de tantas incertezas e nenhum sinal de mudança, acho que não devemos ficar espantados se algumas empresas resolverem puxar o carro (no caso, literalmente).


A Toyota teria dinheiro para ficar na categoria. Cortaria orçamento, mas ficaria. Na verdade, se a Fórmula 1 fosse interessante como plataforma de investimento, ficariam todas. Precisa mudar muita coisa. Bola com você, Jean.

22 comentários:

Unknown disse...

a descição da Toyota é dolorosa, mais totalmente adequada. é a mesma coisa acontecida com a Super aguri, a propia Honda, a BMW e a Brigestone. a categoria deixou de ser interesante para desenvolvimento de tecnologia, e ainda é uma vergonha com tanto escándalo.

acho até saudavel a saida da japonesa, a longo prazo. isto acelera o climax da crisse, e com isso a renovação

mais temo por uma avalanche de cancelações, mais do que de outras montadoras (que já não tem como) de patrocinadores. isto, mais do que para as equipes pequenas, imagino é ruim pro pelotão intermedio, que precissa de investimentos mais grndes para a superação.

para Suzuka imagino que vai ficar critico, porque o principal impulso era equilibrar a presença da Toyota com o circuito perto da montadora da Honda. o GP do japão tem um motivo a menos pra estar alí?

ba disse...

Pensar que até "artistas" como Allan McNish, Mika Salo e Ralf Schumacher tiveram sua chance e o grande Kamui Koba não terá a sua é de cortar o coração...

Rangel disse...

Bem, os rumores estavam certos, no final das contas. E sua descrição do panorama da F1 não poderia ser mais feliz. Particularmnte a saída da Honda no ano passado me parece intimamente ligada a falta de desafio tecnológico... se for pra fazer motor padrão, melhor gastar 10% do valor e equipar o grid inteiro na Indy, trabalhar na ALMS ou na NASCAR, onde está a Toyota, por exemplo...

Celso AM disse...

Ico, uma pena mas estava na cara mesmo. Só não saíram ano passado porque a Honda foi mais rápida e ficaria muito chato. Há um tempo seus pilotos já estavam sem emprego para o ano que vem, com o Koba até pensando em ir trabalhar com o pai vendendo sushi.
Não receberia nenhum investimento a mais da Toyota, nem para correr na GP2.
Sua sorte foi ter se mostrado ao mundo nos poucos kilômetros percorridos em apenas 2 corridas.
Esperamos vê-lo pelo menos no espólio da equipe ano que vem.
E pensar que a Renault só ficou por causa do escândalo de Cingapura...
Em pouco tempo a teremos apenas Ferrari e McLaren novamente.
Novos (velhos) tempos na F1!
Um grande abraço Ico!

Edgard Pinto Júnior disse...

www.oconsumidoremdebate.blogspot.com

Despejaram um caminhão de dinheiro por ano, não fizeram nada...a estrutura era falha. Mais de uma vez li que a direção da equipe era pródiga em dar cabeçadas e partir para o lado contrário.
O que adianta ter todo o dinheiro e não saber usar?
Sua constatação é mais do que certa, Ico, pois a falta de coerência por parte da FIA, a ausência de objetivos técnicos, só políticos somados aos sucessivos escândalos só faz água no barco, que cisma em seguir em frente.
E agora, que as outras grandes fábricas de pneus já deixaram claro que não tem interesse na F-1 e a Renault convocando reunião de urgência (podendo tomar o mesmo rumo da Toyota e pular fora), o que vai ser da maior categoria do automobilismo num futuro breve?
Uma dúvida, o fato da Toyota desertar já habilita o espólio da BMW (Sauber) entrar no campeonato automaticamente?

Celso AM disse...

Outra coisa, não faz a menor diferença a saída da Toyota. Em nenhum momento empolgou na F1 (exceto com o próprio Koba, para ver o nível de sua participação na categoria).
Não gerava expectativas boas para o ano que vem.
Sempre imaginei um 2010 disputado entre FerrarixMcLarenxRedBull e, em seguno plano, BrawnxWillians.
A Toyota nunca entrou como favorita.. sad, but true.
Sayonara, Arigatou.

Kico disse...

Olhando novamente para as propostas de teto orçamentário de Max Mosley, motores Cosworth e otras cositas más, vê-se que o 'Chicotinho' é o grande responsável por um grid 2010 com mais de 20 carros.

Fleetmaster disse...

Bolo!!!! Indigesto ainda !

Anselmo Coyote disse...

Ico,

A F1 agoniza – moral e economicamente.

Moralmente, a situação da categoria é a mesma das décadas de 80 e 90, quando inúmeras maracutaias e condutas anti-desportivas foram varridas para debaixo do tapete em julgamentos convenientes. O que exacerbou esse mal-conceito foram as transformações pelas quais passaram os meios de comunicação.

A própria transmissão da F1 com várias câmeras ao longo do circuito e nos boxes, os telefones celulares e suas câmeras (in)discretas e, principalmente, a internet com seus portais de notícias, blogs, mini-blogs e fóruns de discussão escancararam o que antes era informação privilegiada de um grupo muito restrito e poderoso, ávido por garantir o retorno de seus investimentos.

Em negócios, como em política, vale a máxima de que os fins (lucros) justificam os meios (modus operandi) – aliás, qual é mesmo a diferença entre negócio e política?!

Mas, como falar em “agonia econômica” diante do show de opulência que acabamos de assistir na última corrida? O que um circuito de F1 com uma pista competitiva e cheia de possibilidades, boxes com segurança para as pessoas envolvidas diretamente no esporte e acomodações igualmente seguras para o público em geral, tem a ver com aquele oásis tecnológico de encher os olhos em pleno deserto?

Aquilo é bizarro, visionário – e tem uma pista de F1 travada. O que está errado? Nada.

Ninguém investiria bilhões em luzes para mostrar apenas carros - meras baratinhas, correndo feito loucas para deleite de um bando de fãs desocupados.

Carros, pilotos e equipes são coadjuvantes. Afinal, o espectador notaria a diferença se numa temporada os carros andam a 280 quilômetros por hora e na outra a 330? Se o kers que pode dar 160 cavalos a mais deu somente 80? Não.

Não vimos ultrapassagens, disputas, “pegas”, mas vimos uma saída subterrânea dos boxes, vimos um hotel que muda de aparência e de cor continuamente, como um caleidoscópio gigante. Vimos uma corrida começar com a luz do dia e terminar à noite sem paralizações ou qualquer obstáculo. Vimos muitas figuras influentes e poderosas com seus óculos escuros, suas túnicas alvas e seus turbantes.

Negócios milionários e decisões importantes foram entabulados ou tomadas ali. Aliás...

- vamos melhorar o isolamento acústico; esse barulho infernal dos motores atrapalha nossa conversa.
- por Alá, vamos sim.
- tem um primo meu que representa uma empresa especializada em acústica, no norte dos...


Abs.

Cassio disse...

Será que a saída da Bridgestone e Toyota foi decidida esportivamente ou na FIESP do Japão? Essa F1 sem ultrapassagem parece um campeonato de futebol com um monte de 0 x 0 cujo campeão marcou um gol através de um penalti duvidoso

Marconi disse...

E daquí a pouco a Renault também deverá anunciar a sua saída da F1. A dez anos isso foi previsto por alguém!

Fernando Mayer disse...

Onde vamos parar?

Tá difícil acompanhar a F-1...Eu amo o esporte sempre acompanho temporada por temporada e a tristeza bate cada vez que leio histórias do passado e vejo que de lá pra cá a única coisa que permanesse igual é o nome da categoria. Não há emoção, ultrapassagens são raras, ao contrario de escândalos e episódios desagradaveis como este da Toyota. Tudo bem, era uma equipe sem graça e que com o passar do tempo serviu de exemplo de como NÃO ser um time de sucesso, mas nunca é legal saber que uma equipe vai deixar a competição por motivos políticos. Lamentável também é o fato de a chance de vermos o Kobayashi mostrar serviço são mínimas. Como torcedor fanático fico irritado com a situação pois tudo gira em torno do dinheiro e o esporte...bom, este é jogado em último plano como sempre.

Abç

Diego Guidi disse...

Bela alfinetada no Flávio Gomes, rsrsrs... Impressão minha ou vc's não se dão muito, hein, Ico...?

Ron Groo disse...

Ok!
Entendi a coisa do pobnto de vista financeiro, mas... Eu insisto.
Tivessem os nicômicos da Toyota acertdo a mão no carro e assim conseguindo resultados expressivos, puxariam o carro ainda assim?

Smirkoff disse...

Acho que a imagem do choro do chefe da Toyota diz tudo pra quem acha que essas decisões são fáceis e indolores para as empresas. Até onde eu sei, empresas são comandadas por gente.

Todt vai ter muito trabalho, por que pior que a saída das montadoras é o pouco entusiasmo que essa situação dá a novos patrocinadores de investir na categoria. E, sem patrocinadores de peso, nem os garagistas correm.

Mas só espero mesmo é que arranjem uma vaga pro Kobayashi. Na McLaren, por que não??

Luiz G disse...

Ico, com a Bridgestone saindo da categoria e não tendo apoio da Michelin, Pirelli ou GoodYear, os F1 terão que flutuar a partir de 2011, certo?

Anônimo disse...

Será possível um grid com mais de 24 carros daqui em diante?
Desde que a F1 passou a ser direcionada para as transmissões de TV (isso há duas décadas ou mais) comecei a achar que uma dúzia de carros seria o suficiente - o embate pelos títulos nunca envolveram mais que três equipes a cada temporada; Ferrari, McLaren e uma terceira, pra quê mais? Isso pensado sem considerar contenção de orçamentos, isto sim algo de há poucos anos.
O que passa na TV são disputas pela liderança e uma ou outra das chamadas 'posições intermediárias'.
Aliás, uma dúzia de carros apenas viria bem a calhar com a premiação por medalhas idealizada por mr. Ecclestone.

Fernando Kesnault disse...

Infelizmente a Toyota sempre foi mal gerenciada por ineficientes que se julgam "experts" por estarem a viver na Europa e portanto só eles merecem ser o melhor gerente de um time de f-1, e assim está afundando a categoria. Chega deste eurocentrismo na f-1, chega do Tike que só faz circuitos chatos onde vemos desfile de carros ao invés de corridas. É o preço de ser petulante e querer só prá si, com pilotos sendo a maioria fracos tecnicamente e fortes financeiramente ou por sobrenome (vide ex. Piquet, B.Senna - péssimo, alguersuari, glock, etc, ah, sim e o bando de horríveis japoneses impostos pelos fabricantes de lá). Só podia dar nisso. Lembro-me da imposição de monopolio dos pneus...deu no que deu. BEM FEITO.

Anônimo disse...

Ico, com a temporada 2010 anunciando a briga intensa de McLaren e Ferrari e toda a gastança que teremos, acho que a próxima temporada deverá ser ainda mais inglória para as médias e pequenas.
Do jeito que se desenha, em 3 anos teremos uma F1 com 18 carros no Grid!

Speeder76 disse...

Só posso dizer isto: na mouche, meu caro. Na mouche.

Gabriel Souza disse...

Como sempre, a questão gira em torno da grana...


Em resumo, a Toyota teve uma "vida na F1" cheia de equívocos ...

Até na hora da saída, pois deixou o Kobayashi na mão... e o coitado vai ter que voltar a fazer sushi...

John White disse...

O triste mesmo, foi ver o japonês, o diretor esportivo da Toyota, chorar na coletiva, essa foi de partir o coração. confeço que chorei junto.