terça-feira, 16 de março de 2010

DUELOS INTERNOS

A disputa entre companheiros de equipe é um dos maiores atrativos do Mundial de 2010. E acho que aqui, como na discussão sobre a qualidade das corridas, é preciso esperar mais algumas etapas para avaliar melhor o verdadeiro quadro. O desenvolvimento dos carros e o comportamento deles em diferentes tipos de circuito vão criar variações nas performances e só quando elas ficarem claras vamos conseguir saber se há e qual seria o padrão desenvolvido na competição.

Pelo próprio interesse que o assunto desperta, vale a pena dar uma olhada no que aconteceu no Bahrein. E acho que uma boa maneira de fazer isso é comparando o desempenho de cada dupla no treino de classificação do sábado. Não no tempo final absoluto, mas na soma das melhores marcas de cada piloto para cada um dos três trechos do circuito ao longo da sessão. Isso nos permite avaliar o desempenho em condições muito parecidas de pneus e combustível. E elimina a influência de um eventual erro feito em uma volta decisiva, quando um piloto anda no limiar do combustível e arrisca mais.

Confira abaixo uma análise do resultado das equipes do G4 e também das dos outros brasileiros. Entre parênteses, o nome do piloto mais rápido na soma das melhores parciais e sua vantagem para o companheiro nessa conta:

FERRARI (MASSA -0.021)
A diferença de 21 milésimos a favor do piloto brasileiro é um indício claro de como a briga na Ferrari começou equilibrada. E pela maneira de trabalhar da equipe e as similaridades no gosto que ambos compartilham no acerto do carro, tende a ficar assim ao longo do ano. O que seria fantástico, com a briga sendo decidida pela forma de cada um no dia da competição. Um duelo nos detalhes.

WILLIAMS (BARRICHELLO -0.078)
Outra disputa que a diferença entre os dois pilotos foi mínima. Mas as condições do final de semana tornam uma leitura mais difícil aqui. Em primeiro lugar porque Rubens Barrichello jamais se sentiu à vontade com o comportamento do carro o final de semana inteiro. E também porque o desempenho de Hülkenberg em ritmo de corrida ficou a milhas de distância do que o brasileiro imprimiu. É uma disputa onde os dois vão melhorar. A proporção em que isto vai acontecer vai ser determinante para ver em que pé eles realmente estão.

RED BULL (VETTEL -0.326)
Mark Webber errou no Q3 e deveria ter se classificado tranqüilamente entre os quatro primeiros do grid. Pagou o preço disso no domingo, ficando a prova inteira preso atrás de carros mais lentos. Mas acho que sua diferença real para Vettel é mesmo algo em torno de dois décimos de segundo por volta, três em uma pista mais longa. Algo que me chamou a atenção no domingo foi o rosário de elogios que o sempre contido Helmut Marko dedicou ao piloto alemão. Pelo jeito, ele realmente conseguiu se aprimorar tecnicamente no simulador (três décimos de segundo, garantem algumas fontes) e cabe ao australiano correr atrás do prejuízo.

McLAREN (HAMILTON -0.423)
Hamilton é um osso duríssimo de roer e Jenson Button sentiu isso no Bahrein. A diferença acima reproduz a verificada de forma geral durante a pré-temporada. Mas o carro deste ano foi projetado inteiramente pensando em Lewis e é natural que o atual campeão do mundo leve um tempo para se entrosar com a maneira de trabalhar do time e, ao mesmo tempo, encontre um acerto básico do carro com o qual fique à vontade. Button pode não ser gênio, mas também não é bobo e acho que, a um médio prazo, ele encurta essa diferença em uns dois décimos.

MERCEDES (ROSBERG -0.790)
Conversando com colegas alemães com bons contatos na Mercedes, Nico Rosberg superar Michael Schumacher no Bahrein era algo esperado depois da pré-temporada de ambos. O heptacampeão está voltando depois de três anos longe da F-1 e ainda pegou um carro com a característica que mais odeia, que é sair de frente. Mesmo assim, fiquei impressionado com a diferença entre ambos. Uma explicação dela está na pista, repleta de curvas lentas que é onde Schumacher está perdendo mais tempo. A equipe deve desenvolver o carro para deixá-lo mais ao gosto de sua maior estrela, mas Schumacher deve sofrer um tanto nas quatro primeiras corridas do ano, quando poucas novidades serão introduzidas no bólido. Depois, a parada ficará duríssima.

VIRGIN (GLOCK -0.996)
A diferença entre os pilotos da Virgin foi grande, mas o final de semana no Bahrein e, principalmente, o estágio em que a equipe se encontra não permite nenhuma comparação válida. O time está correndo contra o tempo e o carro recebeu pequenas atualizações a cada dia do final de semana. Muitas vezes apenas uma peça, colocada corretamente no carro do piloto com mais experiência na F-1, Glock. O brasileiro ainda sofreu com um defeito em um dos coletores de combustível do tanque de seu carro e teve de ir para a pista com um volume maior de combustível para não correr nenhum risco. O pouco tempo de pista nos treinos livres também é um handicap para ele, ainda mais em circuitos onde não correu. Pelo que demonstraram na GP2, quando disputaram o título com o mesmo pacote, a diferença real entre ambos é muito pequena.

HISPANIA (SENNA -1.789)
Aqui também não se pode ser injusto: fazer uma comparação é algo tão abismal quanto a diferença no cronômetro. O carro é uma incógnita completa e Karun Chandhok foi para a classificação sem ter andando um metro sequer nele. Os dois foram companheiros de equipe na GP2 em 2008 onde Senna se saiu melhor, mas o indiano andava num ritmo próximo. Vale esperar um final de semana normal do time para se ter uma idéia mais clara dessa disputa. E isso pode demorar um pouco.

10 comentários:

Anônimo disse...

Os números não mentem, mas os homens que fazem os números mentem sim". Essa foi uma frase com a qual o ex-Presidente da República Itamar Franco respondeu a respeito de uma estatística que economistas e jornalistas insistiam em mostrá-lo na tentativa de contrariar o homem que ressuscitou o Fusca no Brasil.

Larguemos Itamar nos anos 90 e miremos firme na tela do PC que a todo instante pipoca números na nossa cara.

A F1 é uma fábrica alucinante de números. Como encará-los? Com a medida de prudência que a relatividade dos números nos impõe.

Quando terminou o treino oficial de ontem, festa para os fãs de Massa. Havia o clima de triunfo corroborado pela cobertura desnecessariamente 'ulfanática' da TV Globo. Claro que era era pra comemorar, mas ... relativizar é preciso.

Como acontece em todos os últimos anos, aquele placar "Batalha do Grid" será mais uma fonte de números a jorar à vontade servindo aos mais difusos interesses; assim, relativizar segue sendo preciso.

Não tem mais reabastecimento; o consumo de pneu tornou-se mais importante que em outras temporadas. E é nesse contexto que a "Batalha do Grid" precisa ser encarada, enquadrada, refletida e analisada.

A disputa pela pole voltou a "fazer mais sentido" em 2010. Mas ao mesmo tempo, outros aspectos têm que ser levados em conta na hora da prova. A exceção de Mônaco, largar na frente, mesmo com essa F1 de ultrapassagens escassas, não tem tanta relevância assim. Fica mais nas estatísticas, nas marcas, nos números.


Que não se diminua a importância da "Batalha do Grid", mas que não se iluda o torcedor com gritos e alaridos de véspera de Copa do Mundo. Todo mundo sabe que no automobilismo, só depois da bandeirada é que se pode estourar o Champanhe e que a melhor foto (acompanhada do melhor sorriso) é a que sai segunda-feira nos jornais do mundo inteiro.

Jean Corauci disse...

ola, muito bom seu blog, da uma passadinha no meu tb, oq vc acha de uma troca de banners? www.gpexpert.blogspot.com

Tomás Motta disse...

Olá Ico!
Bem, primeiramente meus parabéns por tudo nesse ano e agora é direto a Merbourne!! hehehe

A minha opinião, apenas de um garoto de 13 anos, é reforçada pelo fator Red Bull X Ferrari.
Como vimos, o time dos energéticos pecou pela falha no motor, ou se foi por falta de gasolina, aí a coisa complica, já que significaria que o RB6 tem um consumo maior..
Alonso não teria vencido sem isso, mas se a Ferrari não estivesse muito bem posicionada atrás do alemão, a vitória teria ficado para outro, mas enfim..

O que importa agora é ver as chances de cada um (incluindo todos os pilotos da temporada) na Austrália, um circuito totalmente distinto do sem nada Bahrein e com muito mais emoção..

Como digo: a F1 não está chata pelas regras, mas sim pelas pistas..
foi um grande erro ter começado nesse circuito, mas o dinheiro árabe chama mais a atenção..

Certo Ico, continuo de olho sempre nos seus ótimos textos..

P.S.: ah, algo mais particular..
Eu sou aquele que fez um comentário faz algum tempo, lá em dezembro..
claro que voce não lembra, mas me recordo de algumas dicas que voce deu;;
agora o blog está no wordpress, com uma média de 50 comentários por dia e textos muito bons, sem essa de copiar as noticias do sites de F1...
Se você puder, porque sei que é sempre a maior correria por ali, dê uma olhada, e se achar digno de parecer em sua lista de links, adicione-o.

Grande abraço e obrigado;

Tomás
http://theformula1.wordpress.com/

Anônimo disse...

Ico, a experiência vale muito. Shumi precisa se superar a guerra na Mercedes é dele? quanto aos motores os mercedes deram as cartas 5 marcaram pontos, Ferrari 2, Renault 2 Coswort 1.
Petrobas vai gastar muito dinheiro para patrocinar malaios acredito que o dinheiro vai para caixa dois do PT equipes europeias são confiaveis, mais Honestas.

Fernando Soethe disse...

Me confundi um pouco.
Se o Rosberg foi mais rápido que o Schumacher (por exemplo), não deveria ser -0.790 ???

ehehe

Abração.

PS: Teu blog é do Car.....

CelsoAM disse...

Ico, muito legal este post!
Não sei se é pedir demais, mas poderia ter um desses em todos os GPs!
Assim podemos ver também se esses tempos combinados em voltas voadoras são condizentes com a classificação dos pilotos ao final do campeonato.

Abraço!

Dennis disse...

Ico, acredito que devemos considerar tb a corrida e não só o treino oficial para comparar os companheiros de equipe. Afinal o carro tem diferentes comportamentos em relação ao peso e o tipo de pneu e a partir de como cada um consegue se virar melhor com cada situação poderemos ter uma idéia de quem esta se saindo melhor dentro de cada equipe.

Douglas Fortes disse...

Ico, sempre leio o blog e escuto o credencial.
Excelente cobertura e queria saber onde acho pra baixar o tema da vitoria da band na formula que é muito legal.
abraços

Ico (Luis Fernando Ramos) disse...

Dennis, sem dúvida, incluir o ritmo de corrida é mesmo a melhor - a única - maneira de comparar de forma completa as disputas internas. Essa do treino classificatório parece mais uma análise da velocidade pura de cada. O que também é muitíssimo interessante!

Douglas, grande pedida! Eu tb nao tenho a música e adoraria tê-la, vou correr atrás.

Abs!

Anônimo disse...

Só discordo do critério de soma das melhores parciais:me parece que a realidade se mostra na melhor volta da classificação pois a soma das parciais embute os experimentos de cada piloto antes de sair para a definição, no final da sessão.
Leduard