quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O PREÇO DO TRAMBIQUE

Com cem mil dólares, cerca de 175 mil reais, você pode realizar aquele seu velho sonho de infância. Tudo bem que seja um modelo usado, mas é uma autêntica Ferrari 360 Spider, apenas 18 mil quilômetros rodados, com câmbio seqüencial no volante, bancos de corrida e aquele motorzão V8 que faz um barulho característico.

Para a própria Ferrari, o valor tem outro significado. É o preço que se paga para quebrar o regulamento da Fórmula 1. Para eles, é dinheiro de pinga. Ou de Limoncello. No GP da Alemanha, depois de Fernando Alonso ter choramingado à vontade pelo rádio, o time resolveu atendê-lo e deixou claro a Felipe Massa que ele deveria ceder a vitória ao companheiro de equipe. Quem falou com o brasileiro foi seu engenheiro de corridas e grande amigo pessoal Rob Smedley, que não conseguiu esconder sua dor em dar uma ordem que teria de ser aceita.

A ordem de equipe ficou tão caracterizada que os comissários de prova em Hockenheim ouviram estes personagens, consideraram que o time realmente havia quebrado o artigo 39.1 do regulamento desportivo da F-1 e deram uma multa de cem mil dólares, a maior pena possível que poderiam fazer naquele dia. Levaram também a questão ao Conselho Mundial, que teria poder para aplicar uma sanção mais apropriada.


A sessão aconteceu hoje e, todos sabemos, a Ferrari saiu ilesa – mesmo considerada culpada de ferir o regulamento também no Conselho! Já pagou a multa dada em Hockenheim e a vida segue, com Alonso como vencedor de uma prova ganha no grito. Ao invés de cuidar do valor das suas próprias regras, a FIA colocou uma etiqueta com um preço bem baixinho para quem quiser quebrá-las. As outras equipes certamente não ficarão contentes com o veredicto, mas pelo menos sabem o quando terão de desembolsar caso queiram usar do mesmo expediente.

É óbvio que a Fórmula 1 precisa discutir o que fazer com a regra que proíbe as ordens de equipe, já que todas as participantes do campeonato acham que ela não faz muito sentido e, mesmo veladamente, acabam tomando decisões que favoreçam um ou outro piloto. Mas a discussão não é esta de ordem moral, de que ordens de equipe fazem parte do esporte e não há como coibí-las. O que houve é um tribunal esportivo reconhecendo que uma regra foi quebrada e dando uma punição leve demais ao infrator.

Os membros do conselho pode ter ganho tapinhas nas costas dos engravatados de Maranello, especialmente do advogado inglês Nigel Tozzi, um homem que já fez mais pela equipe do que Michael Schumacher e Ross Brawn juntos. Mas passaram uma mensagem equivocadíssima aos fãs da categoria, a de que vale tudo em nome da vitória, inclusive quebrar as regras descaradamente, se fazer de inocente e ficar com o benefício disso em troca do valor de um carro de luxo usado.


Enfim, uma sem-vergonhice.


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Pelo menos uma boa notícia vinda de Paris: o calendário de 2011 da Fórmula 1 volta a trazer o Grande Prêmio do Brasil como a prova que encerra a temporada, a primeira na história que conta com 20 etapas. Será uma maratona para quem vai a todas as etapas, com início no Bahrein em 13 de março e encerramento em Interlagos em 27 de novembro. Mas a logística das viagens ficou bem melhor.


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Outra decisão relevante foi a decisão em não outorgar licença para uma 13ª equipe na Fórmula 1. Diante da demora da própria FIA em tomar uma decisão, não havia mesmo outro caminho. Se uma das candidatas ganhasse a oportunidade, jamais conseguiria aprontar um carro em tempo hábil para disputar a corrida no Bahrein. Já basta o sufoco que foi a presença da Hispania na prova deste ano.

18 comentários:

Anônimo disse...

Tomara que em monza o Alonso bata forte e atropele o Montezemolo... junto com o Todt

Ron Groo disse...

Tô frustrado... Assim fica difícil entender a coisa como esporte.

Dé disse...

Alguém tinha alguma dúvida?

Só sendo muito ingênuo mesmo.

A F1 é uma palhaçada mesmo.

Adriano Augusto disse...

acompanho a F-1 desde 1980, tendo perdido no máximo umas 5 corridas desde então.
mas essa turma vem fazendo de tudo para que eu pare de acompanhar a F-1, e é algo que estou a ponto de fazer. já me bastou o hamilton ser recolocado de guincho na pista, a proibição do amortecedor de massa e tantas trambicagens que estamos vendo de uma década para cá, muitas vezes favorecendo a ferrari.
cansei. estou preferindo assitir a BTCC na net, aquilo lá é corrida de carro! embora hoje em dia nem sei se não sofre manipulação, basta ver o que vem ocorrendo na nascar e no wtcc.... o automobilismo está morrendo, é triste mas o business está o matando.

Fernando disse...

E agora, F1?
Menos audiência na TV?
Menos interesse da torcida?
Menos credibilidade junto aos anunciantes?

E agora, F1, como fica?

Kico Stone disse...

Ico,
Meu interesse pela F1 este ano recebeu um balde de água fria (congelando) naquele GP da Alemanha. Concordo 100% com seu artigo. E mantenho-me desanimado com a maneira como as coisas são conduzidas na categoria.
Abs,
Kico

Anônimo disse...

A FIA está se f* para os fãs da F1!! O que vale é a grana!!! Só que sem audiência...eles não vão vender nada!!

Douglas Fortes disse...

Vai ser bem no dia do meu aniversário a corrida no nosso Interlagos ano que vem, o melhor presente seria ver um de nossos brazucas campeões.
abraço.

Anônimo disse...

Palhaçada. Não pela ordem de equipe mas pela maneira que ela foi feita.
No dia em que foi anunciado que os pilotos não participariam da audiência, já era de se imaginar que a pizza já estava no forno.

Flavio disse...

Isso é esporte??? Fuck you Ferrari, FIA & Cia.!!!!

JCCJCC disse...

Ico,
No credencial do GP Turquia perguntei o que achavas das ordens de Save Fuel e se achavas que a FIA devia verificar se isto eram ordens de equipa proibidas. No credencial resopndeste que a FIA não podia andar a verificar o que as equipas diziam no rádio para verificar se eram ordens de equipa, e que: "Se eram ordens de equipa, paciência, ordens de equipa sempre existiram e contínuarão a existir".

A que se deve o ruído todo que se faz agora? Porquê tantas queixas que a Ferrari só recebeu 100.000€ de multa quando na Turquia defendias que as ordens de equipa eram normais e a FIA não as devia investigar?


Eu pessoalmente não gostei de nenhuma delas, fiquei chateado na Turquia por as duas equipas terem interferido no resultado da corrida na Turquia, e fiquei chateado por ter acontecido o mesmo na Alemanha. Não acho é que seja justo ter uma visão tão oposta em relação às duas situações.

Ico (Luis Fernando Ramos) disse...

JCC, existem aqui duas discussões: uma é sobre a moralidade das ordens de equipe; outra é sobre a quebra do regulamento.

Eu vejo q as ordens equipes serão eventualmente praticadas pelas equipes, sejam elas proibidas ou não. Mas se o regulamento as proíbem, elas acabam feitas de forma veladas, não esfregando na cara do planeta como a Ferrari fez (e o fez porque fez mal feito). Mas a questão mais forte em Hockenheim foi o fato dela ter sido explicita E TAMBÉM incluir uma inversão de posições. Assim, todos que viram a corrida ficaram com a sensação de que o vencedor foi injusto - e isto é péssimo para o esporte. Se a Ferrari mandasse um "mantenham suas posições" (e digo isso mesmo se Alonso fosse primeiro e Massa segundo, a nacionalidade pouco importa), o público acharia um absurdo um time impedir uma luta esportiva, mas entenderia que o cara que estava na frente, pelo menos, venceu.

Mas é o outro ponto da discussão que, para mim, é o mais relevante, o único que se aplica ao que aconteceu ontem: tanto os comissários de prova de Hockenheim quanto os membros do Conselho Mundial consideraram a Ferrari culpada por quebrar o regulamento esportivo da F-1. Só que a punição da equipe não foi esportiva, foi financeira (e de baixo valor, o que é pior). É este o grande absurdo. É como ganhar a Copa do Mundo com um gol de mão, pagar uma multa por isso mas levar o troféu para casa. Por isso, o barulho...

Abs!

JCCJCC disse...

Obrigado pela resposta,

Compreendo o ponto de vista, embora não concorde com ele, para mim ordenar que se mantenha posições ou que ordenar que se troque posições não são ordens tão diferentes assim, no fundo está-se a contrariar o espírito desportivo na mesma.

A existirem ordens de equipa, prefiro que elas sejam assim claras e simples.

E sobre o ponto que referes, de facto é incoerente que os comissários tenham dado a Ferrari como culpada de violar o regulamento desportivo aplicando apenas uma multa financeira, mas se calhar o problema estava logo aí, considerar a Ferrari culpada foi uma incoerência grande com o historial recente.

Penso que os comissários inicialmente só consideraram a Ferrari culpada pela pressão da imprensa, pressão essa originada por:
- imprensa que cobre a formula 1 é maioritariamente de lingua inglesa, e sempre viu com maus olhos as vitórias da Ferrari, ainda para mais quando essa vitória é conseguida por um espanhol que esteve em guerra aberta com o menino bonito da imprensa inglesa.
- a ordem ter sido transmitida pela TV.


E atenção, eu concordo que o que a Ferrari fez foi errado, não acho é que faça sentido punir desportivamente a equipa quando já passaram outras situações semelhantes sem punição. Acho que é uma oportunidade das equipas se juntarem e decidirem o que se pode fazer, e o que não se pode fazer e partir daí decidir-se-ão estas situações com base num regulamento mais claro que o actual e que não permita interpretações emocionais.

Uma boa alternativa seria proibir a comunicação rádio, no entanto, com a quantidade de afinações que os pilotos têm que fazer no carro provavelmente não seria viável.

Assim sendo, o melhor provavelmente será que as ordens de equipa sejam permitidas.

Vi-twoooooooo disse...

A cada dia me torno menos fã desse esporte. E farei de tudo para deixar de acompanhar de vez essa farsa.

Fernando Mayer disse...

Já imaginava que isso iria acontecer. Com muito ódio, mas imaginava que seria assim.

Esta é uma outra gestão, mas desde muito tempo atrás a FIA (mais do que nunca o significado que o Ron Groo deu a esta sigla faz muito, mas muito sintido mesmo)ou a FOCA, ou seja lá que entidade superior do automobilismo, sempre vem dando um jeitinho de acabar com o esporte e privilegiar o din-din. Eu não gostaria de ser o pessimista da turma mas eu acredito que a F1 vai continuar sendo essa "terra de ninguém". Em seu primeiro ano como Presidente da FIA o Todt já deu essa pisada na bola.

Não sei não, mas será que o bafo de onça do Vartanen não seria mais coerente?

Fico triste com esse estado de coisas e a cada palhaçada dessas eu acredito mais e mais que os dirigentes ficam se valendo do fato de que somos apaixonados por esse esporte e que aconteça o que acontecer, de positivo ou não, estaremos lá pra acompanhar cada etapa.

Em outras palavras somos aquele marido que foi traido pala mulher e mesmo assim não deixamos de ama-la e perdoamos a traição.

Que pena!!

Roberto Zimmerman disse...

Melhor frase da semana, do editor da Autosport: "Estou indo este fim de semana pra etapa da Le Mans Series em Silverstone, onde tem jogo de equipe e ninguém tem problemas com isso, já que só tem jornalista especializado cobrindo e não tem arrivistas que não entendem o esporte que cobrem e fazem escândalo com coisas absolutamente normais". E a manchete do editor de F1 da BBC hoje no seu blog: "FIA corajosa faz a coisa certa no jogo de equipe". E isso é só uma amostra da imprensa britânica, que não é muito chegada na Ferrari... Mas são jornalistas de verdade, né? E conhecem automobilismo e sua história. Mais uma vez, parabéns a FIA por dar uma banana pros boçais que formam a "opinião pública midiática", a imprensa sensacionalista, a mídia podre que cria escandalos e factoides todo dia e restaurar a história da F1 ao permitir de novo o jogo de equipe. Ah, se todas as entidades e governos fossem assim...

Anônimo disse...

Roberto Zimmerman ....regras são regras.....se a FIA diz que não pode....não pode!!!

Se quiserem alterar, vale da data de alteração em diante!!!

Anônimo disse...

Será que a F1 vai resistir e tamanha sucessão de patifarias? E o Alonso, qual será sua próxima obra? Alguém aí ainda ousa chamar o Schumacher de "Dick Vigarista"?
Luiz Eduardo
Curitiba