terça-feira, 23 de novembro de 2010

FÓRMULA 1 2010 - POR JULIANNE CERASOLI*

Foi uma temporada marcante, essa de 2010. Drama, polêmica, comédia e muita disputa dentro das pistas fizeram dela a mais emocionante que eu me lembre desde 1986. Mas esse é um tipo de conclusão pessoal, então tomei a iniciativa de fazer algo que há muito tempo pensava fazer: pedir e trazer a colaboração de outros blogueiros. Escolhi três nomes, optei por pessoas que eu não conheça pessoalmente mas autores de trabalhos que eu admiro muito - todos em blogs mantidos de forma independente. O tema que coloquei à eles foi: F1 2010 - Por que uma temporada histórica? O mais legal é que as respostas vieram com a cara de cada um. Começamos hoje, com o trabalho da Julianne:

BONS ERAM OS TEMPOS DE ALONSO, HAMILTON, VETTEL...
Seis líderes diferentes durante o ano. Uma equipe que, ao mesmo tempo em que consegue fazer 15 das 19 poles possíveis no ano, entra em ebulição por uma simples asa dianteira. Quatro pilotos divididos pelo equivalente a menos de um 2º lugar após 19 etapas. Um piloto 47 pontos atrás, depois de dois péssimos resultados, promete que lutará pelo título – e cumpre. Seja olhando pelo prisma dos números, seja valorizando mais as histórias, 2010 é daquelas temporadas que nos farão, daqui a 20, 30 anos, olhar para os tempos de Vettel, Hamilton, Alonso e companhia com ares de nostalgia.

A pressão
Não coincidentemente, a marca de um campeonato tão apertado foram os erros cometidos sob pressão. Erros de estratégia, de pilotagem, inexplicáveis. Quem diria que veríamos as grandes McLaren e Ferrari serem barradas na primeira parte da classificação na Malásia por pura soberba frente à tempestade? Ou que assistiríamos a um bicampeão mundial queimar a largada, como nem os principiantes fazem hoje em dia?

A lição que fica é que, mesmo que os pontos tenham igual valor em qualquer momento da temporada, um gol aos 45' do 2º tempo faz diferença. E foram Vettel e Alonso, os que deixaram os tropeços para trás antes dos outros e afrontaram os momentos decisivos com precisão cirúrgica, que acabaram levando vantagem.

As atuações
Mas este esteve longe de ser um ano de, quem menos erra, leva. Tivemos performances inacreditáveis. Como Button, duelando décimo a décimo com as bem mais rápidas Ferrari mesmo ostentando a maior asa traseira que Monza já viu. Ou Alonso, resistindo à pressão de um Vettel que havia comandado todos os treinos no calor da noite de Cingapura ou mesmo guiando uma corrida inteira com a embreagem pedindo água na Malásia. E o que dizer das poles de Sebastian, tirando aquele décimo de segundo que enlouquecia Webber?

O mesmo Webber que, ao construir uma vantagem de 22s fazendo durar por 43 voltas os pneus macios para fazer seu pitstop e ainda voltar na frente na Hungria, e vencer com ares de gênio em Mônaco, também deu show. Assim como Hamilton, passando por cima de um erro de estratégia da equipe, fazendo 13 ultrapassagens, por dentro, por fora, de qualquer jeito, para ser segundo na China. E, por que não, o que foi aquela pole quase milagrosa de Hulkenberg, lendo uma Interlagos nem seca, nem molhada, como um veterano?

O difusor, a asa e o jogo descarado
Claro que qualquer temporada que se preze tem suas polêmicas. No campo técnico, tentaram de tudo para desmascarar o domínio da Red Bull, que aparecia de uma hora para a outra nos momentos finais da classificação. Primeiro, acreditava-se que havia um sistema ilegal que regulava a altura de acordo com a quantidade de combustível a bordo. Ninguém provou. Depois, o segredo era a configuração do escapamento, cujos gases eram direcionados ao difusor. Todos copiaram, e não chegaram muito perto.

Por fim, a briga mal resolvida das asas dianteiras. Mesmo que a FIA fosse mais e mais rigorosa nos testes, não conseguia colocar o dedo na ferida. Elas continuaram flexionando, a Red Bul seguiu voando nas curvas de alta, e ninguém sabe como.

Mas nada se comparou ao estardalhaço provocado pelas ordens de equipe da Ferrari. Enquanto tudo acontecia por baixo do pano, sem conversas mais que comprometedoras pelo rádio ou pilotos praticamente estacionando pela pista, a Fórmula 1 convivia bem com uma regra à qual ninguém dava muita atenção. Depois de tanto desgaste, quem sabe não encontrem um meio termo entre os interesses de uns e o faz-de-conta de outros.

Aos números

Sebastian Vettel é o campeão mais jovem da história da F-1, reforçando uma tendência de queda na idade dos que chegam ao título. Ele é o terceiro desde 2005 a bater uma marca que durou 33 anos nas mãos de Emerson Fittipaldi – Alonso venceu com 25 anos; Hamilton estava perto de completar 24 e, hoje, o alemão tem 23.

Mas a conquista é marcada por estatísticas ainda mais interessantes, que mostram o atual equilíbrio da categoria: Vettel jamais havia chegado à liderança do campeonato antes da última etapa da última prova, sendo apenas o terceiro na história a vencer chegando na corrida final em terceiro na tabela, numa temporada que terminou, mesmo com a pontuação mais farta, com apenas 16 pontos de diferença entre o 1º e o 4º colocados.

Continuando a “maldição” do líder do campeonato, desde o GP da Turquia de 2009 o melhor colocado na tabela não vence a prova. E, pelo terceiro ano seguido, o atual campeão do mundo só venceu duas vezes na temporada em que defendia o título e não chegou à última etapa podendo chegar ao bi: foi assim com Raikkonen em 2008, Hamilton em 2009 e Button em 2010.

Por fim, talvez não na quantidade que gostaríamos – e a má impressão de Abu Dhabi ainda é muito forte –, mas, sim, as ultrapassagens voltaram. Em 2010 tivemos a melhor média – 28,8 por prova – desde 1991. Foram 547 no total, contra 244 de 2009. Ainda não é comparável às médias do início dos anos 1980, acima de 40 por GP, mas um alento para quem já viu temporadas com apenas perto de 10 ultrapassagens por etapa há muito pouco tempo, em 2005, e convivia, nos últimos anos, com pouco mais de 14 manobras a cada final de semana.

(*Julianne Cerasoli compartilha suas idéias sobre Fórmula 1 no seu blog Faster F1, com análises inteligentes e ponderadas, sustentadas por números e por uma visão bem realista de como funciona a categoria. Leitura obrigatória para os que querem ir além da notícia)

21 comentários:

Speeder76 disse...

Encontrei o blog da Juliane há apenas umas semanas, mas entrou imediatamente no meu blogroll. É um pouco unifocado na Formula 1 e por vezes acho demasiado técnico - faz-me lembrar o James May do Top Gear, nos meus dias de Richard Hammond - mas no geral, gosto. É analitico e pormenorizado, e é muoto interessante de se seguir, especialmente porque é escrito por uma mulher. Parte da beleza está aí, confesso.

Anônimo disse...

Minha esposa se chama Juliana! Cara ,ela é toda metódica com relação a numeros de seu orçamento mensal! Tudo que ela gasta e recebe ta la na sua planilha! Tirando esta coincidencia em relação a numeros e aquela visão perfeita em cima de minimos detalhes, a unica coisa que difere a minha Juliana, com a Juliana do blog, é que a minha não gosta de F1! Não que a minha esteja longe de ser perfeita, mas convenhamos, seria legal ter a esposa pra discutir,, após um grande premio, os resultados do final da prova! Tudo Em Casa, como se diz! Valeu! Grande sacada do Ico! Dar espaço para a galera!

Gustavo Delacorte disse...

Boa...

]Muguello[ disse...

Putz, ser engenheiro com OCD (Obsessive Compulsive Disorder) eh florida... Mas nao foi Hulkenberg quem leu Interlagos. Foi Rubinho. A Hulkenberg cabe o credito de ter confiado na avaliacao de Rubinho e ter executado o plano (aquecer os pneus rapidamente) com perfeicao. Absolutamente nada que tire o merito do Alemao, mas vamos por os pingos nos i's
No mais, muito boa a leitura. Mais um blog de F1 no meu bookmark...

Érico disse...

Gostei do texto. Minha ressalva é que a média de ultrapassagens não é um bom referencial para a emoção das provas. Provas confusas como os GPs da Austrália e China tiveram um número de manobras totalmente fora do comum que inflaram a média. Ao mesmo tempo, a presença das equipes novatas, sempre mais lentas, inflou a estatística sempre que um de seus carros dava uma sorte e andava pelo pelotão algumas posições mais à frente que deveria.

Os GPs do Bahrein e de Abu Dhabi foram duas das provas mais sofríveis das últimas deácadas. Abu Dhabi se salvou por decidir a temporada, Bahrein não teve essa sorte.

Lili disse...

A Juliane fez uma grande análise da temporada de 2010 e o seu blog é um dos mais completos que eu conheço para esclarecer detalhes técnicos e estatísticas,inteligente e ótima jornalista seu blog deveria ser pit stop obrigatório para todos os fãs de fórmula 1.

bjs e sempre sucesso Lili.

Tiago Fontes disse...

Lembrando que foram 7 os que lideraram o campeonato, esqueceram do Rosberg!! Abss..

Ron Groo disse...

Muito bom... Muito bom mesmo.

Érico disse...

Tiago, Rosberg nunca liderou. O mais próximo que ele chegou foi após o GP da China, quando acumulava dois 5º e dois 3º lugares.

Os líderes de 2010 foram, em ordem: Alonso, Massa, Button, Webber, Hamilton, Webber, Hamilton, Webber, Alonso, Vettel.

Ufa...

Unknown disse...

Ótima análise da Julianne. O blog Faster F1 é com certeza um dos melhores fóruns de discussão que eu conheço. A qualidade das informações é ímpar. Gosto muito de textos com embasamentos estatísticos e seu espaço de discussão de certa forma é inovador nesse sentido. Ju, Parabéns por essa conquista! Beijos.

Marcos Antonio disse...

ótimo texto e ótimo blog, bem técnico e de mto talento. excelente analise

Anônimo disse...

Queria agradecer os comentários e, mais uma vez, o convite. Espero estar de volta mais vezes!
E, enquanto isso, estão todos convidados para dar uma passadinha lá no Faster.

Julianne

Pedro Araújo disse...

Putz, excelente dica, Ico!

Já adicionei o fasterf1 nos meus favoritos.

Legal ter mais leitura interessante antes da pré temporada começar...

Fernando disse...

Legal !! Mto bem escrito !!

Parabéns Julianne !!!

Edmilson Madureira Segundo disse...

Gostei do texto da moça. Tropeçou na atribuição da leitura de Interlagos a Hulkenberg e na idade de Alonso ao ser campeão mundial de F1 pela primeira vez (24 anos e 56 dias na verdade). No resto, humilhou um monte de marmanjos (feito eu).

Unknown disse...

Boa Julianne.
Essa menina tem talento. Eu a conheço desde pequena, sempre atenta à F-1, era minha companhia constante e querida na frente da TV, aos domingos, vibrando, conhecendo, se empolgando com as fantásticas corridas. Daí para o jornalismo foi um pulo só. E o talento - reconhecido agora mas já antecipado - é merecido. Bom para nós - simples mortais - que, com sede, temos onde beber. Parabéns pela escolha ICO...e pela idéia tb.
João Cerasoli (pai insuspeito da JU)

Paulo Lima disse...

Juliane, gostei muito das suas analises técnicas sobre a Formula 1, não sabia que voce era tão apaixonada por esta modalidade, mas depois que soube que vc foi a Espanha assistir um GP, pude deduzir. Suas analises são muito embasadas em dados técnicos, realmente é excelente. Parabéns....

Fernando Mayer disse...

Mais um "Feed" pra lista.

Bela dica!

Abs

Érico disse...

Gostei da análise dela, mas acho que é preciso haver muito cuidado ao analisar os números, principalmente a pontuação. Dizer, como está no blog dela, que o F10 foi o 3º melhor carro do ano com base no campeonato de equipes ignora a péssima temporada do Massa e todos os erros do Alonso até Hockenheim. Seria comparável e igualmente incorreto dizer que o F10 foi o melhor carro da segunda metade do ano simplesmente porque Alonso marcou mais pontos que todos os outros da Alemanha a Abu Dhabi.
Não é assim.
De qualquer modo, valeu pela sugestão, é mais um blog que acompanharei.

Nicholas Sana disse...

Impressionante a analise dela...muito boa...

Ingryd disse...

Sensacional a análise, e obrigadíssima pela dica, Ico. Muito bom tem mais uma mulher na blogsfera. Do jeito que vai, ainda bem, daqui uns dias esse tipo de observação, "mais uma mulher" será completamente desnecessária! O FasterF1 já está no blogroll do Athena, e a visita passa a ser obrigatória.

bjo