As participações especiais continuam hoje com a contribuição do Mike Vlcek, colocando a grandiosidade desta temporada numa interessante perspectiva. Confira:
O REI ESTÁ MORTO, VIVA O REI
Olá, meus bons amigos do Blog do Ico. Foi com muito prazer que recebi o convite para escrever algumas linhas neste espaço, e é desnecessário dizer que me sinto muito honrado com a brecha. Sem mais delongas, vamos lá.
Como vocês já devem saber, o tema em debate é “F-1 2010 - Por que uma temporada histórica?”. Bem, é fácil apontar razões para elegermos essa uma temporada especial, daquelas que daqui a vinte, trinta anos ainda iremos nos recordar com nostalgia. Difícil é cravar se esta é, como muitos já estão alardeando no calor da emoção, a melhor temporada de todos os tempos.
Pois bem, vamos aos fatos. Em 2010 assistimos ao retorno do maior (eu disse maior, não melhor, antes que me joguem pedras) piloto que já correu na F-1, um tal queixudo chamado Michael Schumacher. Em 2010 assistimos ao primeiro título de Sebastian Ffféééttel, a afirmação definitiva de que o alemãozinho chegou para ficar. Em 2010 vimos Fernando Alonso no auge de sua forma, tanto física quanto polêmica. Em 2010 ouvimos, talvez, a frase mais emblemática da história da F-1 - Fernando is faster than you, com sua inapelável contundência, que jogou por terra a estima de alguns milhões de brasileiros, afetados por tabela. Mas, além de tudo isso, em 2010 tivemos cinco pilotos brigando ponto a ponto pelo título, um recorde, este sim, histórico.
Resumindo, vimos um pouco de tudo neste Mundial que se encerrou. Tivemos polêmicas nos bastidores, tivemos brigas dentro e fora das pistas, tivemos trocas de farpas públicas entre companheiros e chefes de equipes, tivemos ultrapassagens espetaculares (thanx Koba-San), tivemos corridas memoráveis (alô Turquia) e tivemos, no fim, a coroação de um novo campeão, um que promete ser grande, muito grande. Não é pouca coisa.
Mas a beleza, diz o ditado, reside mais em quem a enxerga do que no objeto admirado. Eu, particularmente, guardo com muito carinho outros Mundiais recentes. Em 2009, a espetacular ascensão da Ross Racing (aka Brawn GP) e a coroação de um cara do bem como Jenson Button me levou às lágrimas. Um ano antes, também não pude conter os olhos marejados com a derrocada de Felipe Massa já no apagar das luzes. E o que dizer de 2007, campeonato polêmico mas que acabou decidido por um mísero ponto? Histórico também, oras.
Há beleza até em supremacias. Faço parte de uma minoria que considera as conquistas “monótonas” de Michael Schumacher verdadeiras obras de arte, ou o título inapelável de Nigel Mansell em 1992, massacrando os rivais sem dó a bordo de uma jóia mecânica de rara equivalência, aquele Williams-Renault FW14B. E me respondam com honestidade: quantos aqui, fãs verdadeiros da F1, não dão um suspiro escondido quando lembram dos carros especiais (McLaren de 1988, Williams de 1992 e 1993, Ferrari de 2002 e 2004), bólidos responsáveis diretamente por tirar a emoção da competição, tamanha a superioridade técnica?
A F-1 é um esporte diferente. A excelência técnica, aos olhos dos que sabem admirá-la, empolga tanto quanto uma disputa roda a roda até o último segundo. O Mundial de 2004, por exemplo, aquele em que tivemos os carros mais velozes de todos os tempos, foi um ano especial. Para os que não se lembram, assistam a um vídeo onboard qualquer daquela temporada - recomendo Schumacher em Monte Carlo e Monza, para começar. Vejam a diferença de se domar aqueles V10 nas ruas do Principado em comparação aos motores de fusquinha que hoje repousam atrás dos pilotos. Há beleza nisso.
Sou, portanto, levado a concluir que sim, tiramos a sorte grande em 2010, mas ela já vinha nos sorrindo. E talvez, analisando friamente, seja mais fácil contar os campeonatos sem graça do que os eletrizantes. … ou não é?
O rei morreu, meus bons. Viva o próximo rei.
(* Mike Vlcek comanda um dos blogs de F-1 mais movimentados da web, o excelente FormulaUK. O bom humor habitual mantém a discussão leve, mas nem por isso rasa. Pelo contrário, curti demais ao longo do ano a perspicácia com que ele analisou cada aspecto da temporada. Um blog obrigatório, pelo conteúdo e pelo ambiente. E para quem curte boa música, afinal ele também manda muito bem nessa área)
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15 comentários:
"Long Live the king, Mike!" Perdão... o novo Kaiser Sebastien I, bem mais agradável do que o Queixudo, confesso.
Vendo as coisas nesta perspectiva, gostei da parte em que falas dos carros dominantes. Apesar deles terem esmagado sem dó nem piedade os seus adversários, concordo contigo: foram carros fabulosos. E da lista que colocas, até acrescento os exemplos mais distantes: Mercedes W196, Ferrari 156 "Squalo", Lotus 49, Lotus 79, Matra MS80...
Gostei, gostei! Está bem escrito.
"A excelência técnica, aos olhos dos que sabem admirá-la, empolga tanto quanto uma disputa roda a roda até o último segundo."
Falou tudo, Mike! Parabéns!
Belo texto, realmente... beauty is on the eyes of the beholder... disse tudo...
Os títulos do alemão provavelmente foram manchados mais pelas polêmicas do que pela supremacia do carro...
Mike tá inspirado hoje!!!!
Outra opinião de força, claro, mas sem rasgação de seda. Prefiro o blog do Ico. Até por que, além de ser ótimo, claro, é em português.
Valeu, galerinha. Agradeço a todos e, em especial, ao Ico, claro. :)
É muito bom saber que tem mais gente que curte e valoriza a supremacia de um carro, de uma idéia vitóriosa que deixa todos anos luz atrás.
Pra variar, mais um ótimo texto, chefe Mike.
Uma coisa que você falou, que eu sinto falta nessa F1 de hoje em dia são os motores V10, incomparáveis (eu vi um vídeo que meu colega gravou no hairpin de Montreal, uma coisa de louco!)
Pois é, Jerry. Para 2013, com os biturbo 4 cilindros de 2L, ficará ainda pior, mas pelo menos se espera q o Kers vitaminado preencha a lacuna. A conferir. :)
Pra mim, a temporada, valeu como a melhor de sempre.
Por várias razões que passo a descrever por ordem crescente de motivo:
1- A reacção de Vettel ao saber que era campeão.
2- A cara de Azia de Alonso após essa ultima corrida.
3- Duas corridas assistidas ao vivo; Barcelona e Spa, sendo que uma delas (Spa) foi qualquer coisa de fantástica.
Ver os carros subindo a Eau Rouge, e depois no final da corrida caminhar por ela...
Assim como prestar a devida homenagem ao busto do Sr Silva, ali na entrada das boxes, vigiando, e sendo reverenciado, onde todos os pilotos passam e passarão pra correr no melhor circuito do mundo.
4- Aquela corrida do Canadá. Com todos aqueles problemas nos Pneus.
Deviam ser todas assim.
O Blog do Ico é figurinha marcada já de longa data e essas ultimas semans então tá que tá!
Icooooo saudades da Rádio GP!
Mr. Teix... MK, muito bom texto, diga-se de passagem.
ahahha, vcs não esquecem a gafe do Tony Fernandes sendo chamado de Tony Teixeira cara a cara comigo no lançamento da Lotus! :P
Os Williams de 1992 e 1993 foram arrasadores, sim. Gostaria de ver um grid completo com aqueles carros. E, depois de apagadas as luzes, Senna, Mansell, Prost, Schumacher, Piquet, todos aqueles, acelerando, disputando os milímetros de asfalto da primeira freada.
E gostaria, já que os Red Bull foram os carros do ano, um grid de Red Bull, todos iguais (com as diferenças de acerto referentes ao modo de guiar de cada piloto), e, nos bólidos, os pilotos desta temporada brigando pelo título de pilotos. Daí, veríamos quem pode o quê, quem é quem.
Categoria monomarca? Assista à GP2 então, meu bom...
Não foi bem a intenção...
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