segunda-feira, 26 de abril de 2010

EXCESSO DE EXPECTATIVA OU CRISE REAL?

Os semanários de automobilismo em língua alemã optaram por deixar de lado a dobradinha da McLaren ou o emocionante GP da China na manchete de suas edições. Todas as discussões apontavam para o mesmo tema: a rara associação de Michael Schumacher com o número 2. Sem sensacionalismo barato, todos apontam que o principal problema está no uso dos pneus – vale destacar, Schumacher não é o único a sofrer com eles, vide o que aconteceu com Massa nas provas mais úmidas, mas aparenta ser o que mais sente os efeitos disso.

Ao mesmo tempo, já há uma cobrança enorme por resultados. Se a mídia alemã é a primeira a reconhecer que as expectativas que eles impuseram no início do ano eram exageradas demais, também apontam que o “livro de desculpas (powered by Briatore)” está chegando ao fim. Os sete décimos que o separaram de Nico Rosberg na classificação em Xangai foram indigestos não só para o próprio piloto.


Hoje, Ross Brawn comenta que um modelo completamente novo a partir de Barcelona é a tentativa de solucionar a questão que aflige o heptacampeão. Para mim, é muito claro que Schumacher é um obcecado por trabalho e vai suar mais do que ninguém para reverter o quadro. Mas ele pode acabar vítima da própria imagem de invencível que construiu com os resultados obtidos ao longo de sua brilhante carreira.


Se os sinais na Espanha não forem minimamente positivos, o problema vai virar uma crise das grandes, já que a pressão da mídia sobre ele e a Mercedes se tornará insuportável. Minha coluna do Lance da semana passada falou justamente do fator dessa expectativa no quadro atual. Confira abaixo e dê sua opinião nos comentários: Schumacher vai sair dessa?

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Michael Schumacher sempre gostou de destacar o seu lado de boleiro. Nos tempos de Ferrari, jogava num time suíço da terceira divisão e era a estrela de jogos beneficentes entre pilotos ou mesmo entre grandes nomes do futebol. Era uma encenação meio “mandrake”, já que ninguém endurecia uma disputa de bola com ele que, bem ao seu estilo, clamava para si o posto de cobrador oficial de pênaltis para aumentar sua artilharia. Mas a maneira com que chutava ou fazia lançamentos traduzia uma certa intimidade com a redonda, vamos ser justos aqui.


O que pouca gente sabe é que Nico Rosberg também joga futebol. Todos os dias nos finais de semana de corrida. Nos circuitos. Mais precisamente, numa sala apertada dentro do motorhome da Mercedes GP. Pelo componente lúdico e pelo impacto anaeróbico do ludopédio, o piloto passa cerca de meia hora antes de entrar no carro fazendo embaixadinhas e trocando passes com seu fisioterapeuta. É a primeira parte de seu aquecimento, complementada depois com exercício de alongamento dos ombros e do pescoço.


Claro que as diferentes maneiras de promover suas relações com a bola não explicam os quarenta pontos que separam a jovem promessa, lá em cima, do veterano mestre, nos porões da classificação. Mas ilustram bem a diferença de se estar ou não no foco da opinião pública. Como o próprio Rosberg afirmou no lançamento do carro da equipe no começo do ano, a única diferença de tratamento dentro do time é que há 98 câmeras focalizando Schumacher e só duas com as objetivas apontadas para ele.


É um mar de tranqüilidade para se preparar, com a bola e com seus engenheiros, e fazer o trabalho mais constante dentre os pilotos neste início de campeonato. Já as embaixadinhas de Schumacher são mais difíceis: a pressão da mídia, a dificuldade de se entender com um carro que mal conhece e o ineditismo de ser seguidamente derrotado pelo companheiro de equipe. A verdade é que a sua bola não pára de cair no chão depois de dois ou três toques nela.

9 comentários:

Ron Groo disse...

Eu sinceramente acho, e sei que foi o meu caso... Excesso de expectativa. Porém ainda acho que ele se recupera a tempo de salvar o ano.
Não de ser campeão, claro.

Anselmo Coyote disse...

Sair como? Fazendo um carro? E a Mercedes, vai fazer o quê?... rsrs.
Abs.

Williams disse...

Pra mim é bem simples: qualquer carreira de um atleta de alto rendimento tem um início, o áuge e uma decadência - não no sentido pejorativo, mas no sentido de que depois de um certo ponto, os resultados só tendem a cair - ninguem fica no máximo do seu potencial pela vida inteira. Quando de se trata de esportes de alto rendimento... não tem jeito, depois de uma certa idade, de um período de tantas mudanças, o piloto vai perdendo alguns décimos... mas que no esporte de alto nível são a diferença entre 5, 10 pilotos. O carro deve melhorar, bem como seus resultados, mas acho que dificilmente ele vai andar de igual pra igual com o Nico ou os pilotos da ponta. Acho que a imprensa criou uma expectativa muito grande em cima dele. É só lembrarmos dos esportistas que voltaram mais velhos para o esporte: Michael Jordan, Mike Tyson... e uma penca de outros. A história sempre se repete... raríssimas são as excessões, ainda mais com o tanto de pilotos bons que temos hoje no grid. Abs

Anônimo disse...

Muita expectativa. Se ele assinou mesmo por 3 anos e estiver realmente disposto a cumprir esse prazo, acho que resultados mais significativos mesmo só ano que vem; mesmo assim, não pra brigar pelo campeonato, mas sim com seu companheiro de equipe. Lembro que quando noticiou a sua volta, grande parte da imprensa já tava falando em título! Sem mesmo um único treino ou GP!

Eduardo Malheiros disse...

Acho que o futebol tem muitos macetes, muitos detalhes, muitas minúcias. Tão impressionante, no entanto, quanto a dificuldade de conduzir ou mesmo prever o tempo e a velocidade da pelota após um período sem jogar é a rapidez como essas coisas tendem a voltar para um antigo jogador de forma natural - ao menos no que diz respeito ao "café com leite" do esporte. E convenhamos, que sensação boa isso proporciona! Conduzir a bola, driblar de novo, chutar de novo, se sujar por completo. Para um antigo vencedor, vencer é bom e sempre será o objetivo maior. Ainda assim, quando o jogo não está indo para esse caminho, bem como um certo Zidane numa certa Copa do Mundo, cabe ao antigo jogador vivenciar o momento como este julgar mais adequado, e se isso significar romper com alguns olhares alheios para que este se sinta mais completo naquela ocasião, que assim seja. Na vida esse antigo jogador já provou o que tinha que provar por inúmeras vezes. Quem sabe agora não está na hora de curtir o jogo de novo, de uma forma simplesmente diferente? Um jogo com algumas "rabadas", passes não tão perfeitos, falta de fôlego pra chegar naquela bola longa, o drible que era pra ir mas não foi. Um jogo não tão grandioso aos olhos, convenhamos, mas repleto de uma alegria nunca sentida com tanta intensidade nos tempos de outrora a cada vez que a bola cruza com dificuldade (e com uma beleza toda particular) a risca do gol.

Abraços!

Marcelo Witt disse...

Eu também acho que foi excesso de expectativa. Só porque ele ganhava quase todas com a Ferrari, acharam que ele voltaria ganhando tudo de novo. Oras, além de tudo, é bom lembrar que quando ele parou já não estava ganhando tudo, ele já havia perdido título pro Alonso, então, quando parou, já não era mais tão imbatível, não tem porque pensar que voltaria agora tão melhor do que quando parou.

Anônimo disse...

Acredito que Shumi não deveria ter se aposentado no momento em que a F1 reservava uma nova geração de pilotos e já que ele queria um retorno.
O que ele tem de tomar cuidado agora é com a pressão psicológica desnecessária o que pode fazê-lo correr no limite e se arriscar em possíveis acidentes. Acho que acima de tudo, ele é mais do que bem vindo e acho injusto tirar a sua "alegria" de correr pela cobrança cega por resultados.
Abraço a todos.

moises simoes

Talita disse...

Boa noite

Numa entrevista, Chico Anysio fez referência ao amadurecimento de um atleta. Disse que aos 40 anos, é mais fácil chegar na bola que aos 41. E vida que segue.
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Schumacher pode e deve fazer besteiras na F1, agora, pode.Porque me agrada ver Schumacher na chamada parte decadente de um atleta. Vejo e verei a temporada dele, assim, um piloto cuja história na categoria foi feita de todos os recordes possíveis. Comparações aqui e lá com outras épocas, outros pilotos ( os quais nem vi, mas sei que há)é válido, é fato. Não sou fã do Shumi, meu Top é outro. Mas esse eu vi, respeito e como tal, terá minha admiração na F1.

Ou Romário no gol 1000 foi fácil? Jogos arrastados em campo, mas em 94, pra ficar por aqui, ele arrasou.
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Lembro que o Guga foi maldosamente ridicularizado por alguns em sua volta. Aí é outro papo, não entrarei no mérito da questão.

Sempre vou me deslocar na geografia pra assistir a grandes atletas em final de carreira. Gosto dessa coragem de se mostrar fora da perfeição.

Enfim, pra mim, Schumi vai melhorar, não pra ser o the best, mas vai melhorar...

Anônimo disse...

Não consigo entender que alguém possa acreditar que um desportista aposentado há 3 anos venha a ser imediatamente competitivo quando de seu retorno. E que ao ser comparado com seu companheiro, jovem, rápido, em plena atividade e no auge de sua carreira, tenha que batê-lo logo de início. Isto em qualquer esporte seria muito difícil e na F1 multiplicado por 10. Haja visto os níveis de concentração, arrojo, rapidez de reflexos e esforço devido às forças G. Não tem nada comparável. Some-se as alterações radicais acontecidas na categoria durante a sua ausência, além do pouco tempo de treino, e podemos chegar à conclusão de que o elemento em questão é realmente um fenômeno, pois qualquer outro no seu lugar estaria muitíssimo pior.
Luiz Eduardo Formighieri
Curitiba,PR