Na tarefa de reportar tudo o que acontece num final de semana da Fórmula 1, a máquina fotográfica aparece como um instrumento importante para captar o ambiente do paddock. Claro que na correria pela informação, o uso dela costuma ficar em último plano, já que não sou fotógrafo. Mas a brincadeira de captar imagens às vezes rende algo interessante. Confira abaixo alguns momentos do Mundial de 2009 contados pela desfocada lente da minha câmera digital.
AUSTRÁLIA
É quinta-feira e o clima nos boxes ainda é de incerteza e expectativa para a temporada que vai começar. Nos boxes da equipe que faz sua estréia na Fórmula 1, Ross Brawn e o diretor da equipe Ron Meadows ficaram cerca de meia hora repassando uma série de pontos. Podia ser sobre a questão dos difusores, que bombava nos bastidores antes mesmo da primeira sessão oficial do ano. Ou anteviam uma temporada de sucesso, enquanto apreciavam o vencedor BGP001 nos boxes.
MALÁSIA
Foi assim ao longo de toda a semana: por volta das 5 da tarde, um dilúvio caía sobre o circuito de Sepang, deixando o paddock deserto assim que o último incauto encontrasse um abrigo. Poças d’água enormes se formavam em todos os lugares, inclusive na pista, onde bólidos de corrida construídos rente ao chão deveriam rasgar o asfalto. A interrupção do GP da Malásia pela metade foi um fracasso anunciado e explicado por uma ambição por audiência tão grande que quis ignorar o ciclo da natureza.
CHINA
A risada das mocinhas chinesas parece zombar do campeão mundial e de seu colega. Depois do “escândalo da mentira”, foi em Xangai que a McLaren anunciou o afastamento completo de Ron Dennis da equipe de Fórmula 1, a justificativa corporativa escondendo o cadáver da briga política com Max Mosley. O desempenho na pista não ajudava e a temporada prateada se anunciava um desastre. O tempo mostraria que não foi.
BAHREIN
Sábado de classificação e o calor extremo do deserto pede por uma sombra. Mas a ocupação do espaço reservado aos torcedores para o ócio denuncia o que foi a tônica não só daquele final de semana, mas de praticamente toda a temporada. O ano de 2009 foi marcado também pelos enormes vazios nas arquibancadas. Culpa de todas as crises: a econômica, a política e a esportiva.
ESPANHA
A segunda dobradinha da Brawn GP na temporada não teve o componente festivo da abertura do Mundial na Austrália. Depois de superar Jenson Button após uma largada sensacional, Barrichello acabou surpreendido pela mudança na estratégia do companheiro de equipe. Desceu do carro visivelmente contrariado, principalmente pelo fato de seu engenheiro não ter sido avisado dos planos para ter a chance de contra-atacar. O brasileiro precisaria esperar mais algumas corridas para celebrar sua primeira vitória no ano.
MÔNACO
Para quem faz a cobertura da Fórmula 1, o que torna Mônaco especial é a possibilidade de ficar a poucos metros da ação, com visão privilegiada de como os pilotos lidam com um dos traçados mais difíceis do calendário, onde não há margem para erros. Foi o que fiz na quinta-feira, admirando cada vez mais o talento de gente como Kimi Raikkonen, que conquistaria em Monte Carlo o primeiro pódio de um ano difícil, para ele e para a Ferrari.
TURQUIA
Seis vitórias em sete corridas. Jenson Button continuou sua marcha colossal na Turquia, abrindo caminho na primeira volta como se fosse Moisés e a Red Bull de Sebastian Vettel, o mar. Deixei o autódromo de Istambul convencido que o Mundial de 2009 já estava decidido e seria um dos mais chatos de todos os tempos. Tremendo erro de julgamento. Muita coisa ainda estava por vir, na pista e nos bastidores.
INGLATERRA
Nelsinho Piquet interrompeu suas atividades na quinta-feira para um sessão de fotos, que acabaram utilizadas para os menus do novo game oficial da Fórmula 1. Com ou sem capacete, sua expressão era um tanto séria, mesmo nos momentos de pausa. Fruto da pressão por resultados que vinha do seu chefe e de uma cláusula do seu contrato. O clima na equipe era dos piores e a novela que culminaria na decisão de trazer o escândalo de Cingapura à tona já estava em marcha.
ALEMANHA
Foi o final de semana mais frio do ano, com temperaturas invernais em pleno verão europeu. Condições que permitiram o domínio completo da equipe Red Bull, mas com um protagonista inesperado. Não foi Sebastian Vettel, mas Mark Webber quem dominou na Alemanha, fazendo a pole-position e vencendo pela primeira vez na carreira, mesmo após receber uma punição por uma agressiva defesa de posição na largada.
HUNGRIA
Havia uma corrida para ser disputada, mas o clima no domingo em Hungaroring era realmente estranho. Em meio as incertezas quanto a recuperação de Felipe Massa, a única coisa que parecia fazer sentido era mesmo a homenagem do grupo da Ferrari que trabalha em seu carro. O acidente do piloto brasileiro, sério e bizarro ao mesmo tempo, marcou um final de semana e deixou completamente em segundo plano a volta da McLaren e de Lewis Hamilton às vitórias.
EUROPA
Depois de quatro semanas de pausa, a Fórmula 1 viu confirmado o renascimento esportivo de Rubens Barrichello depois de um inverno de incertezas e um início de campeonato com alguns contratempos. Em Valência, o brasileiro fez uma corrida perfeita para superar as duas McLarens quando parou nos boxes, num final de semana em que o companheiro Jenson Button jamais se encontrou. O grito solto na hora de comemorar foi mais que merecido.
BÉLGICA
Quando ocorreu o treino livre de sábado em Spa, quase ninguém sabia que uma investigação oficial sobre o episódio de Cingapura-2008 estava em curso. Mas tanto Flavio Briatore quando Pat Symonds já haviam sido interrogados pelos investigadores da FIA e podiam prever os dias tempestuosos que enfrentariam pela frente. Assim, a foto que eu fiz meramente para ilustrar o trabalho no pitwall da Renault ganhou uma nova cor à luz das evidências. As costas curvas e os braços cruzados são só indícios do turbilhão de pensamentos que deviam ocupar a mente do italiano naquele momento. Sua hora estava chegando.
ITÁLIA
Jaime Alguersuari parece desanimado nos boxes de Monza. Último colocado do grid de largada a sete décimos de segundo do piloto à sua frente, seu companheiro de Toro Rosso Sebastien Buemi, o espanhol foi um exemplo de uma geração de novos nomes que chegaram à Fórmula 1 em 2009 sem trazer nenhum tipo de empolgação ou frescor. Com uma única e gloriosa exceção, que chegaria mais adiante (nos sentidos temporal e espacial).
CINGAPURA
Depois de uma première controversa, o GP de Cingapura fez a segunda corrida noturna da história sem contar com o impacto da novidade. Foi uma das corridas mais aborrecidas do ano, dominada com facilidade por um inspirado Lewis Hamilton. Nem o espetáculo de luzes dos carros e dos moderníssimos prédios do centro nos salvou do marasmo proporcionado pelo traçado de Marina Bay.
JAPÃO
Foi como em uma longa novela na qual os atores principais passam toda a trama se cortejando à distância para, depois de algumas reviravoltas, consumar o casamento no último capítulo. E o último capítulo aconteceu numa sexta-feira chuvosa em Suzuka, quando o espanhol Fernando Alonso foi confirmado como piloto da Ferrari para 2010. E, mesmo com o título da temporada ainda em jogo, a imprensa mundial passou o dia olhando com ansiedade para o ano que vem.
BRASIL
Acontece de vez em quando de um piloto estrear na Fórmula 1 com uma performance arrebatadora. Para pegar exemplos recentes: Nico Rosberg pontuou e fez a melhor volta da prova no Bahrein em 2006. E Lewis Hamilton subiu ao pódio e ultrapassou Fernando Alonso por fora na primeira curva de Melbourne, no ano seguinte. Em Interlagos foi a vez de Kamui Kobayashi, que endureceu o trabalho do campeão mundo Jenson Button e fez uma linda ultrapassagem no final sobre Giancarlo Fisichella. O show continuou em Abu Dhabi, mas pode ter tido um fim abrupto com a saída de cena da Toyota. Tomara que não.
ABU DHABI
E a temporada terminou num autódromo limpo e polido como um novo shopping center, cenário para imagens plásticas como essa de Kimi Raikkonen. Um GP um tanto asséptico e sem brilho, marcado por uma série de despedidas. Muitas anunciadas, como a da BMW. Outras silenciosas, como a da Toyota. E algumas ainda apenas “possíveis”, como a do próprio Raikkonen, prenúncio de um período de muitas incertezas até que o Mundial de 2010 tenha início.
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Para quem ainda não viu, confira as outras partes do Especial sobre o Mundial de 2009:
- Parte 1: Os dez melhores
- Parte 2: Os dez piores
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
ESPECIAL 2009 – IMAGENS OBTUSAS
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5 comentários:
Excelentes fotos Ico!!! Forma maravilhosa de recordarmos de cada etapa de 2009!
bjs, Ludy
Ico, ótimo post!!! E que belas fotos! Parabéns!!
Abraço!
Bom, não é só no Credencial que apareço, né.
Ico, parabéns pela resenha, pelas fotos, pela relação entre eles e, principalmente, pelo amor à F-1 que transparece quando você escreve!!!
Grande abraço!
(só acho que tinha espaço para uma fotinho da Jessica Michibata... hahahahaha Brincadeira, ficou perfeito!)
Valeu Ba!
Michibata vai aparecer muito aqui assim que ela se render aos meus encantos (espera sentado)... ;)
Abs!
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