A chegada do Grupo Lotus na Renault gerou um esperado conflito no comando da equipe. De um lado, o turco-suíço Dany Bahar, CEO da montadora. Do outro, o francês Eric Boullier, chefe do time de Fórmula 1. O início dessa relação mostrou que não há muito espaço para os dois comandarem as ações e já surgem notícias de pequenos conflitos entre eles. Um certamente é em relação ao terceiro piloto do time.
Há alguns dias o time anunciou o malaio Fairuz Fauzy como piloto de testes - uma escolha sem sentido do ponto de vista técnico mas necessário para satisfazer os desejos dos chefes do grupo Próton, os donos da Lotus Cars e que são, afinal, os que assinam o cheque.
Mas havia a necessidade de um piloto de verdade. Boullier queria Romain Grosjean, seu protegido dentro do programa de pilotos Gravity. Hoje, o piloto deu entrevista à tevê francesa confirmando que realmente fará esse papel. Mas pode ser que não seja o único.
O brasileiro Bruno Senna negociou com o time com certa intensidade neste mês de janeiro. Seu nome cai como uma luva para a intenção de Bahar em associar a marca Lotus com a Fórmula 1, na sua disputa com Tony Fernandes. As conversas atingiram um bom estágio mas, de todas as fontes que eu consultei, nenhuma pôde confirmar se um acordo foi sacramentado.
A resposta teremos amanhã. Se apenas Grosjean for confirmado no lançamento do R31, saberemos que Boullier ainda tem a palavra final no time. Se o brasileiro estiver junto e com o mesmo status, fica claro que há uma divisão no comando - o que, a médio prazo, pode gerar conflitos no time. Eventualmente, Bruno pode até estar lá e com um status melhor que Grosjean, já que o francês vai disputar a GP2 e não poderá andar às sextas-feiras. O brasileiro, eventualmente, sim.
Não nos esqueçamos também na influência do grupo de russos que apoia Vitaly Petrov e coloca uma boa injeção financeira na equipe. É muito cacique para pouca tribo.
A turbulentatemporada da Fórmula 1 teve pontosnegativos de sobra. Aqui a minhacompilação do quemais chamou a atenção nesse quesito. Infelizmente, os escândalos estiveram no topo de tudo e sobraram opçõespara uns quinze itens. Espero no anoque vem termais dificuldades para essa seleção.
10 – Adrian Sutilem Cingapura
Já cansei de veressetipo de manobra no Grand Prix Legends, masnão esperava isso na Fórmula 1. Depois de baterrodascom o errático Jaime Alguersuari e rodar, Adrian Sutil resolveu darumcavalo-de-pauparavoltarpara a pista – bem no meio do tráfego. Arrebentou o carro de Nick Heidfeld e o respeitoque os colegas tinham porele. Foi o “MomentoPaul Tracy” do ano. Da década, melhor dizendo.
9 – Coletiva de Lewis Hamilton na Malásia
Com a cara de umfilhoteexpulso da ninhada e a vozhesitante, Lewis Hamilton encarou os jornalistas da Fórmula 1 parapedirdesculpas públicas pelo chamado “escândalo da mentira”. Ummomento constrangedor de tentarexplicar o inexplicável. A mídia inglesa, paraquem a maneira de se comportar de umcampeão do mundo e tãooumaisimportanteque o feito, caiu de pau. Teria sido melhorficarquieto. Michael Schumacher nunca teve queexplicarporque transformou a Rascasse num estacionamento.
8 – Kazuki Nakajima
Se a Williams perdeu o sextolugar no Mundial de Construtores para a BMW Sauber na últimacorrida, a culpa foi de Kazuki Nakajima. Afinal, os 34 pontos e meio conquistados pelaequipeem 2009 vieram do outrolado da garagem, o do alemão Nico Rosberg. Comoumautênticozero à esquerda, o japonês chegou ao fim do anosemterseunome ligado a nenhuma equipe, mesmo o pessoal na finada Toyota havia perdido as esperanças nele. E, o pior, ninguém no ambientesemprecínico da Fórmula 1 perdeu tempo falando mal dele. Vai embora e ninguém vai percebersuaausência.
7 – Giancarlo Fisichella na Ferrari
Claro, Luca Badoer foi a catástrofe do ano: irremediavelmente lento, completamentefora do ritmo e semconfiança no equipamento. Trágico, sim, mas a posterior participação de Giancarlo Fisichella com a equipe de Maranello salvou a imagem do pobre Luca. Afinal, além de limitado, Badoer não disputava uma corrida há mais de dezanos e não teve contatocomum F-1 nesta configuraçãoaerodinâmica e compneus slicks antes da estréiaemValência. Eraumnaufrágio anunciado. Já Fisichella é umpilotomaiscompetente e chegou na Ferrari depois de umresultadoimpressionantecom a Force Índia. Suamissãoeraajudar a Ferrari a se manterem 3° lugarentre as equipes, somando alguns pontinhos. Falhou fragorosamente. Seusonho de pilotarpelaequipe virou umpesadelo – e uma das maioresdecepções da temporada.
6 – Romain Grosjean
Nãoprecisanemlevaremconta a confusãoque a decisão gerou: estava na caraque a chegada de Romain Grosjean na Renault era a troca de seispordemi-douzaine. Foi atépior, pois o desempenho do francês nas provasque disputou lembrou o Nelsinho Piquet do início de 2008: afoito, inseguro, commuitoserros, acidentes e nenhuma produtividade. Além de queimarseunomepara a categoria, as setecorridasque fez serviram paraconfirmarque as apostas de Flavio Briatore, na maioria das vezes, são furadas.
5 – BMW Sauber
Em 2008, a equipe bávaro-suíça abdicou do desenvolvimento de seucarro – e portabela de brigarpelotítulo da temporada – para se concentrar no modelo deste ano. Também foi o timequemais insistiu no uso do KERS, apostando que seria a armasecretaparadominar o ano. Doistiros n’água. O F1.09 foi umcarronatimorto: o dispositivonão funcionou a contento e foi logo descartado, depois do projetotodoter sido feitoemtorno dele. Depois do fracassoesportivo, veio o inesperadoanúncio de que a marca estava deixando a categoriadepois de apenasquatrotemporadascomoequipeprópria. Com o raboentre as pernas.
4 – Heikki Kovalainen
A McLaren começou o anocomum dos piorescarros do grid, mas conseguiu virar o jogo a partir do meio da temporada e venceu duas corridascom Lewis Hamilton. Heikki Kovalainen? Bem, não subiu nenhuma vez ao pódio, umfeitoparticularmenteincrívelemValência, uma pistaondenão há pontos de ultrapassagem, quando largou da segundaposição e terminou emquartolugar. O finlandêsnão é nenhumnovato e teve a partir da Alemanha umequipamento competitivo emmãos. Mesmoassim, terminou com o mesmonúmero de pontosque Felipe Massa, quesó pôde disputarnovecorridas no ano. Umdesastretotal.
3 – FIAversusFOTA
A brigapelopoder na Fórmula 1 neste ano lembrou a de temposremotos, quandosó algumas letras eram diferentes: Fisa versusFoca. E foi o motor de todos os outrosescândalos do ano, tudomanobraspolíticas no complexotabuleiro da categoria, onde o bem-estar da mesmanão preocupou ninguém. O duelosónão ocupa o topo dessa listaporque (infelizmente) aindanão acabou. E a impressãoque fica é que “casualidades de guerra” como Max Mosley e Flavio Briatore farão de tudoparavoltar aos holofotesassimquepossível. Embrulha o estômagosó de imaginar...
2 – Falta de ultrapassagens
Novopacote aerodinâmico, asasmóveis, KERS. As novidades no regulamentotécnico da Fórmula 1 visavam apenasumobjetivo: melhorar as chances de ultrapassagem. Mas as corridas de 2009 foram, com raras exceções, uma procissão de monotoniacomapeloreservadopara os que se interessam ementenderquestões de estratégia. Se os difusoresduplos foram o instrumentopara o fracasso da idéia, a (proposital) indecisão da FIA na hora de esclarecer a regra manchou o início do campeonato e o trabalho de muitagente. Novasidéiaspara 2010, principalmente o fim do reabastecimento, podem causaralgumimpacto no problema. Resta ficarmos na torcidaparaque, desta vez, seja umimpactopositivo.
1 – Cingapura 2008
É mesmomuitograve a conspiração de causarumacidenteparafavorecerumoutropiloto da equipe e conseguirumresultadoque salvasse a pele de todos? É óbvioquesim. A Fórmula 1 já viveu suashistórias de espionagemindustrial e a flutuação de informaçõesque acompanha as transferências de engenheiros é inevitável e maisoumenos aceita. Assimcomopilotosque recebem ordensparacederposição ao companheiro de equipe. Mas naquela noite de setembro os já frágeis alicerces do esporte foram completamente ignorados, assimcomo a segurança do executor, de seuscolegas e também do público. Foi umgolpemuitobaixo, de gentesemescrúpulos e/ouforçamoral. E a motivação vingativacomque a históriaveio à tonamostramesmoque se trata de umconto de desclassificados, aindaque o efeitocolateral do episódio – a saída de Briatore do esporte – tenha sido positivo.
Depoisque a Ferrari confirmou Fernando Alonso em Suzuka, já era esperada uma sucessão de anúncios colocando mais movimento no mercado de pilotos. O primeiro veio hoje, e foi o da Renault anunciando que Robert Kubica corre na equipe “de 2010 em diante”. Nas entrelinhas uma série de informações.
A primeira: a saída da marca da F-1 era dada como certa ao longo da temporada, mas a situação mudou e um compromisso de continuidade parece ter sido acertado em troca da “pena sem punição” aplicada pela FIA no veredicto do escândalo de Cingapura-08.
A segunda: embora muitas equipesjamais dão informaçõessobre a extensão do contrato de pilotos, pode sermesmoque o de Kubica seja porapenasumano. Tanto pelas incertezassobre o futuro da equipe a umlongoprazo, quanto ao desejo do polonês de umdiacorrerpela Ferrari, de preferência ao lado de seumelhoramigo no paddock Fernando Alonso.
A terceira: o segundopilotonão foi confirmado, maisumsinalclaroque a vaga de Romain Grosjean está porumfio. Seutrabalhonãoagrada à novadireção da equipe. A possibilidade de Lucas di Grassi correrem Interlagos foi classificadaporeleprópriocomo “pequena”, masnão dá paradescartar a possibilidade do timeexperimentar o brasileiro numa provaparaavaliarmelhor o seupotencial. Paraveroutrosnomesque poderiam correr ao lado de Kubica na Renault, bastaolharpara o mercado: Heikki Kovalainen, Nick Heidfeld, Timo Glock...
O queaindaemperra algumas confirmaçõessão os detalhessobre a contratação de Kimi Raikkonen pela McLaren. O finlandês exige poucoseventos de relações públicas e muitas etapas do Mundial de Rali – a equipe gostaria justamente do contrário. Quandoisto se acertar (porque deve ser acertado), cairão outras duas peças-chave do quebra-cabeças: Nico Rosberg na Brawn e Rubens Barrichello na Williams.
O resto é um amontoado de interrogações ainda. A Toyota tem que se virarentre Kovalainen, Nakajima, Trulli e Glock. Para mim, o sinal mais significativo até agora de que o time vai mesmo fechar as portas. Red Bull e Toro Rosso estão acertadas, Sauber/Qadbak ainda não tem vaga assegurada, e as quatro novatas possuem um grid inteiro de candidatas – vale a pena esperar mais um pouco para ver o quadro esclarecer por lá.
Como previsto, a Renault esperou a confirmação da sua própria participação no GP da Europa para anunciar a chegada de Romain Grosjean à equipe. Aos 23 anos de idade, o “francês” chega à Fórmula 1 sob a tutela de Flavio Briatore – algo que explica as aspas em sua nacionalidade. O piloto nasceu, cresceu e sempre viveu em Genebra, mas passou a correr com licença francesa assim que entrou no programa de jovens pilotos da Renault, aconselhado a fazer isso pelo próprio Briatore.
O pai dele, Christian, justificou a situação desta forma para a jornalista suíça Agnes Carlier. “Romain é suíço, também em sua mente. Mas toda sua formação como piloto foi feita na França, dentro do principal programa de jovens talentos do país (n. R: ele se refere ao programa da FFSA, a federação francesa de automobilismo, que é comandado por Jean Alesi e do qual Grosjean participou). Assim, é lógico ele correr com uma licença francesa”, disse o pai, que é também um dos principais advogados da Renault.
É uma argumentaçãoumpoucotorta. Na Suíçanão há automobilismo e o compatriota de Grosjean, Sebastien Buemi, jamais se viu impelido emcorrercom uma licença de outropaísmesmo tendo feitotodasuacarreira de base na Alemanha e patrocinado por uma empresa austríaca.
Questõesnacionais à parte, o novatochega na Fórmula 1 tendo passadocomsucesso pelas categorias de base, comtítulos na F-Renault suíça (disputada na França) e francesa, na F-3 Européia e na sérieasiática da GP2. No certameprincipal da categoria, onde a concorrência é maisforte, voltou a andarentre os primeiros, mas apresentou uma tendência a cometererrosfreqüentementesempreque colocado sobpressão.
Neste ano, teve uminícioexcepcional de temporada, mas despencou rapidamente depois. Muitosjornalistaseuropeus, entreopinião e brincadeira, creditavam suaiminenteentrada na F-1 no lugar de Nelsinho Piquet como uma maneira encontrada por Briatore parapreservarsuaimagem, evitando uma derrota na GP2 para o estreante Nico Hülkenberg.
A questãopsicológica é realmente o grandeponto de interrogação sobre Romain Grosjean. Suaentourage inclui umpreparadorfísico, Igor Joly (queeraseuprofessor de tênis na juventudequando o garoto disputava torneios juvenis e sonhava com uma carreira no esporte); e uma psicóloga, Esther Müller, quejá trabalhou com o multicampeão Roger Federer.
Mais do quenunca, ela terá umpapelfundamentalparamanter o foco de seupupilo na pilotagem, blindando-o da pressãoinerente da F-1, que é aindamaior numa Renault carente de resultados e focando seusesforços num pilotoexcepcionalporsisóque é Fernando Alonso. A pressão ali não será pouca e resta saber se o francês (a partir de agora, vai sem aspas) terá maturidade para encará-la.
Foi o que perguntei a Nelsinho Piquet na ótimaentrevista do brasileiro ao final do GP da Hungria. Ele elogiou o piloto, mas deu suaopiniãosobre o homem. “Ele é umbompiloto, muitorápido. Andou bemsempreque testou comumFórmula 1. Comopessoa, acho eleumpoucoimaturo, masnão significa queisso o atrapalhe quandoele se senta no carro”, afirmou.
Romain Grosjean faz o estilotímido, de falarpouco e sorrircomdificuldade. Isso acaba às vezeslhe dando umar de arrogante, poisele evita o contato no olhonormalmente mirando o céu. E costuma nãoresponderquando interpelado porquemnão conhece. Precisatomarcuidadoparanãoacabarcom essa etiqueta no paddock da F-1, onde a primeiraimpressão é a que fica.
Emmaisumcuriosobackground na vida da família Grosjean, Romain foi criadopor uma babábrasileiraquehojemoracomele, desdequeele deixou a casa dos pais no anopassado. Antesque pensem besteira, o rapaz tem namorada: é a repórter da tevê francesa Marion Jolles, uma das maioresbeldadesque circulam no paddock.
Mais do quever as entrevistasentre os dois, será curiosoobservarseudesempenho nessas provasiniciais do campeonato. Com a iminentesaída de Alonso para a Ferrari, Grosjean é a aposta de Flavio Briatore para o futuro da Renault (ao lado de Kubica?). Pode ter tido várias portasabertasparachegarlá (pai, empresário, passaporte), massempre correspondeu às ajudascomresultados na categoria de base. Terá de fazer o mesmoagora, mas acabou a sopinha no mel. Chegou a hora de comer a rapadura.
Na pauta desse blog, discussõessobre a Fórmula 1 emtodos os seusaspectos: histórias do passado, análises do presente, bastidores da cobertura e curiosidades. E muitamúsicaparatemperar essa mistura de razão com a paixãoque o automobilismo desperta.
Repórter de Fórmula 1 do Grupo Bandeirantes de Rádio, do diário Lance e da revista Racing. Apreciador de boa música, viagens e velocidade. Guitarrista amador, corredor de rua e piloto virtual.